5 de setembro de 2025

PEQUENA ENCICLOPÉDIA “SUPER” DE FILOSOFIA

Há 3 mil anos o ser humano tenta resolver o problema da morte, descobrir sua missão no mundo e aprender a decidir o que é certo ou errado. O problema é que, nesse tempo todo, acabou criando um monte de palavras difíceis. Mas fique calmo: agora você vai entender o que elas significam.

CARTESIANISMO: Duvidar de tudo, negar tudo que não resiste à dúvida, como queria o francês René Descartes , o principal dos filósofos modernos. No livro Meditações Metafísicas, de 1641, Descartes propôs que todo conhecimento começasse de volta, do zero, recusando todos os “argumentos de autoridade”, aquilo que o homem acreditava por tradição ou por imposição de alguma autoridade ou religião. Para perceber o impacto da ideia, basta saber que, depois de Descartes, o mundo passou a viver séculos de revoluções em várias áreas, botando abaixo tudo o que não resistia à dúvida, seja a ideia de que a Terra é o centro do Universo, seja a de que os reis são pessoas superiores. Para o historiador francês Alexis de Tocqueville, a Revolução Francesa, por exemplo, foi “feita por cartesianos que saíram das escolas e desceram à rua”. Se você usa uma camiseta com o Che Guevara, mude já a estampa: revolucionário mesmo foi Descartes e sua ideia de duvidar de tudo.

CINISMO: Doutrina de filosofia grega que considerava a honestidade o único requisito para a felicidade. Único, mas único mesmo: os cínicos eram filósofos mendigões, ascetas radicais que não estavam nem aí para roupa, dinheiro, família, costumes, tradição e higiene. Viviam conforme a natureza, como cachorros vira-latas, e não apenas aceitaram o rótulo como tomavam o bicho como símbolo de sua ideia de virtude, daí o nome (do grego cyon, “cachorro”). Diógenes (412-323 a.C.), o maior dos cínicos, era realmente um morador de rua e teve várias histórias famosas: quando perguntaram a ele como resistir aos desejos da carne, ele se masturbou em público e disse: “Se ao menos eu pudesse matar minha fome esfregando a barriga...” Quando Alexandre, o Grande, perguntou a Diógenes se podia lhe fazer algum favor, o cínico respondeu: “Sim, saia da frente do meu sol”. A fama dura até hoje.

CONSERVADOR: Vá ao verbete “modernidade”. Foi? O contrário de ser moderno é ser conservador. Não se trata tanto de uma posição política, mas de outro jeito de olhar o ser humano. Se os modernos achavam que o homem pode ser melhorado se a sociedade mudar, os conservadores preferiam pensar como na Idade Média: que o homem é naturalmente mau, e a sociedade (a polícia, a hierarquia, a religião) serve para civilizá-lo, contê-lo. É por isso que, para os conservadores, uma mudança lenta e gradual é sempre preferível à revolução, que, para eles, deixam à solta a tendência destrutiva do homem. “É impossível estimar a perda que resulta da supressão dos antigos costumes e regras da vida”, escreveu no século 18 o inglês Edmund Burke. Os conservadores são o grupo mais fora de moda nos últimos séculos, mas, a favor deles, está o fato de que, como previram, da Revolução Francesa até as revoluções do século 20, não foram poucas as que acabaram em tragédia, opressão e assassinatos em massa.

DIALÉTICA: Diálogo. É a arte de debater, argumentar e contra-argumentar. Sócrates foi o homem que estabeleceu o costume do diálogo nas rodas de intelectuais da Grécia. Por isso, muita gente o chama de pai da filosofia. Antes de Sócrates, valia mais a retórica, a arte do bem falar, do que os argumentos em si. Séculos depois, no século 18, “dialética” passou a significar uma dinâmica em que as coisas se sobrepõem, uma substituindo outra. Como quando as crianças, em círculo, colocam em sequência as mãos, uma acima da outra.

ÉTICA: Definir o que é certo e o que é errado. Simples, não? O problema é que a ideia de certo e errado muda sempre, dependendo de como enxergamos o mundo. Por exemplo: os gregos achavam que o homem deveria se integrar à harmonia do Cosmos. Por isso, usavam a natureza para saber o que era certo ou errado. Se, na natureza, havia hierarquia entre animais mais fortes que outros, então era muito bem aceitável que, entre os homens, houvesse escravidão. Já na Idade Moderna, quando o homem se considera superior à natureza, a escravidão torna-se, aos poucos, uma ideia absurda.

EPICURISMO: Para Epicuro (340-270 a.C.), o ideal do bem é viver sem medo e sem dor, aproveitando o dia de hoje. “Quem menos sente a necessidade do amanhã mais alegremente se prepara para o amanhã”, diz Epicuro. Parece culto ao prazer, mas ele dizia também que, para viver bem, o jeito é se abster de grandes prazeres, evitando assim a frustração quando eles não puderem ser obtidos. Essas palavras fizeram muito sucesso na Roma antiga, quando o prazer falava acima de quase tudo.

ESTOICISMO: Diferentemente do epicurista, o estoico acredita que o mundo é governado por uma lógica divina, ou seja, Deus está no mundo e sua manifestação é a ordem das coisas. Assim sendo, o negócio é estar do lado da natureza, mesmo que isso possa implicar desconforto mental ou físico. O estoicismo prega que somente pelo desapego, ignorando dor e prazer, é que se descobre a verdade.

HERMENÊUTICA: Interpretação de texto. É a parte da filosofia que pensa no que o autor realmente quis dizer com um discurso, um filme ou um evangelho escrito 2 mil anos atrás. Por exemplo: na Bíblia, o fato de os judeus serem os traidores de Jesus é encarado como uma estratégia para os evangelhos caírem no gosto dos romanos, que, na época, perseguiam os judeus.

HUMANISMO: Fenômeno que começou no século 16 e colocou o ser humano no centro do Universo. Se você já leu várias vezes essa explicação sem entender muito bem, tente pensar numa época antes do humanismo: a Idade Média. A vida humana então não tinha tanto valor quanto hoje: os filhos só eram batizados se persistissem em sobreviver, já que a maioria morria nos primeiros anos. A ideia de infância não existia – as crianças vestiam roupas de adultos e, nas obras de arte, eram representadas como adultos pequenos. Como os pintores trabalhavam por devoção a Deus, e não por um reconhecimento pessoal, muitas pinturas não eram assinadas. E a ideia de que Deus decidia tudo era tão forte que ninguém imaginava que poderia melhorar de vida, progredir por esforço próprio. Se você nascesse um camponês pobre, encararia isso como uma decisão divina, sem imaginar que poderia agir para ser diferente. Com o humanismo, o ser humano aos poucos virou o centro das atenções – pinturas (assinadas) do rosto de pessoas ficaram cada vez mais comuns, assim como o estudo do corpo humano e suas medidas (lembra-se daquele desenho do Homem Vitruviano de Leonardo da Vinci?). A ideia é de que quem determina o que é certo ou errado não é Deus nem as tradições, mas as pessoas e sua capacidade individual de pensar. Um exemplo é Maquiavel (1469-1527), autor de O Príncipe. Ele rejeitou a moral bíblica para que seu príncipe conquistasse um bem permanente pelas vias do mal passageiro – o famoso “os fins justificam os meios”. Também surge com o humanismo a idéia de que o ser humano pode trazer o céu à terra. Foi nessa época que o termo “utopia” foi inventado, pelo inglês Thomas Moore (1478-1535) – o livro Utopia descreve uma ilha em que tudo seria perfeito.

IMANÊNCIA: Repare neste fragmento de Tales de Mileto: “Todas as coisas estão cheias de deuses”. Imanência é isso: a ideia de que Deus ou algum princípio divino, ou qualquer ideal, está aqui, entre nós, presente no mundo, nas leis da física, nas pessoas, nos seres vivos e talvez em todas as coisas. Por isso, para os gregos da época de Tales, era preciso abrir os olhos para o mundo, ou seja, apreciar a ordem natural das coisas, a harmonia da natureza. Não é à toa que a palavra teoria vem do grego to theion, ou “eu vejo o divino”. E que os filósofos dessa época, como Tales, se dedicaram a estudar os princípios da natureza, como na geometria.

ILUMINISMO: Nos séculos 16 e 17, as pessoas se sentiam perdidas no escuro. As descobertas científicas de Newton, Kepler e Galileu derrubaram a ideia de que o mundo era uma coisa pronta e ordenada por Deus. Começamos a olhar o Universo como um lugar sem ordem, em que forças da física a todo momento se debatem. Então, o que fazer? Iluminar-se, criar uma ordem para o mundo. É o que propõem os filósofos da época, principalmente Emmanuel Kant , com o livro Crítica da Razão Pura. Por meio da ciência, da razão, o ser humano passou a tentar a explicar o mundo e catalogá-lo – vêm daí os primeiros museus e disciplinas científicas.

MODERNIDADE: Pegue os verbetes humanismo, cartesiano e iluminismo e misture-os bem. Modernidade são os últimos 5 séculos, época em que o ser humano começou a se achar o centro do mundo, passou a usar a razão para conhecer o mundo e a acreditar que a mudança, o progresso, conduz a uma coisa melhor que o passado. O espírito da modernidade é a ideia de que a ciência – todas as ciências, da psicologia à arquitetura – pode melhorar a sociedade e até mexer com a alma humana, melhorando o próprio homem.

MATERIALISMO: Lembra-se do Kléber Ban-Ban, aquele do Big Brother que dizia “faz parte” a toda hora? Materialismo é acreditar que o sonho acabou e, como faz o ex-BBB, dar de ombros aos problemas da vida. Literalmente, é acreditar na matéria, amar o mundo tal como ele é. O materialista não tem utopias, tenta esperar pouco da vida. “Esperar é desejar sem fruir, sem saber e sem poder”, afirma o filósofo André Comte-Sponville, a voz do materialismo no século 20. O problema do materialismo contemporâneo é: como amar a realidade em momentos como o genocídio de Ruanda sem dizer “faz parte” ou recorrer a utopias?

METAFÍSICA: O nome certo era para ser “primeira filosofia”, como Aristóteles a chamava. Mas, quando o filósofo Andrônico de Rhodes foi organizar os livros de Aristóteles na biblioteca de Alexandria, simplesmente colocou esses volumes à direita da “física” aristotélica e escreveu: “os livros que vêm depois da física”. Os romanos entenderam tudo errado: achavam que a tal “metafísica” era o estudo das coisas “além do mundo físico” – em outras palavras, coisas inventadas, como os deuses. Na verdade, é a metafísica que faz as perguntinhas mais amplas, tipo “quem somos, de onde viemos?”

NIILISMO: É negar a realidade, dizer não ao mundo real em prol da imaginação de um mundo perfeito, de um ideal transcendente, do “nada” – que em latim é nihil. Os niilistas proliferaram no século 19, com as grandes ideo­logias políticas, e seu maior inimigo foi Friedrich Nietzsche . Pense com ele: depois da modernidade, quando deixamos de explicar o mundo por atos de Deus, tivemos de arranjar outros ídolos, outros ideais sublimes para dar à vida uma sensação de eternidade. Em vez do paraíso da Bíblia, o novo ideal virou o nacionalismo, o cientificismo (pensar que a ciência resolveria todos os problemas do homem) ou o comunismo. Nietzsche chega a tratar o comunismo como uma religião, com apenas uma diferença do cristianismo: atribuir nossos problemas aos outros ou a nós mesmos – “a primeira coisa faz o socialista, a segunda o cristão”, afirma ele em Crepúsculo dos Ídolos. Niilismo também significa achar que nada tem valor – que não há motivos para respeitar tradições, leis ou princípios morais. É a perigosa ideia de que “se Deus não existe, então não há crime, não há pecado; tudo é permitido”, como diz um personagem do livro Os Irmãos Karamazov, de Dostoiévski, outro grande crítico do niilismo.

PLATONISMO: Ver o mundo em duas partes. Platão (427-347 a.C.) dividia o mundo em dois: para ele, antes das coisas reais, do mundo real em que vivemos, existem as ideias das coisas, que são eternas e vivem no “mundo das ideias”. Esse mundo das ideias seria o único de fato verdadeiro; e este aqui, em que vivemos, seria uma sombra, uma ilusão. Platão também acreditava na imortalidade da alma, que, de vez em quando, era aprisionada em corpos humanos. O platonismo lembra muito uma religião, não? Pois é exatamente a visão de mundo de Platão que o judaísmo, o cristianismo e o islamismo se apropriaram. Séculos depois de Platão, suas ideias se misturaram com crenças judaicas, que deram ao mundo das ideias uma cara, uma forma de pessoa: Deus.

PÓS-MODERNIDADE: Sabe alguém que não gosta de usar celular, toma remédio de homeopatia e, nas férias, percorreu a pé o Caminho de Santiago? Pois eis aí um belo pós-moderno. Na teoria, o pós-modernismo é uma recusa à modernidade, uma desconfiança dos valores do iluminismo. Na prática, ele aparece em toda parte, principalmente como uma recusa às grandes correntes . Em vez das grandes religiões tradicionais, doutrinas orientais como o budismo. Na moda, é aquela camiseta única, cuja estampa você mesmo inventou. Na arquitetura: em vez dos prediões de linhas retas e funcionais do começo do século 20, linhas curvas. E até no turismo: em vez do pacotão da CVC, uma experiência única, como fazer o Caminho de Santiago ou percorrer a França de bicicleta .

TRANSCENDÊNCIA: contrário da imanência, é a ideia de que Deus é algo separado do mundo (ou seja, “transcende” a ele) e que o mundo segue por sua própria conta as regras criadas por Ele. Depois dos livros de Kant, transcendência passou a significar também pensar não nas coisas em si, mas na relação entre as coisas como elas são vistas e o que existe de fato. Ou seja, “transcender” o senso comum não filosófico, atingir a verdade por trás das coisas.

VERDADE: O objetivo final da filosofia – apesar de que, para alguns filósofos, acreditar na verdade é cair num grande mal-entendido. Ou não.

“Pensarei que o céu, o ar, a terra, as cores, as figuras, os sons, e todas as coisas exteriores que vemos não passam de ilusões e enganos de que ele [um deus enganador] se serve para surpreender minha credulidade. Considerar-me-ei a mim mesmo como não tendo mãos, nem olhos, nem carne, nem sangue, como não tendo nenhum dos sentidos, mas acreditando falsamente possuir todas essas coisas. Perma­necerei obstinadamente apegado a esse pensamento; e se, por esse medo, não estiver em meu poder atingir o conhecimento de nenhuma verdade, pelo menos estará em meu poder fazer a suspensão de meu juízo. [...] Posso duvidar de tudo, mas tenho certeza de que estou aqui, pensando, duvidando. Sou uma coisa que duvida, que pensa.” RENÉ DESCARTES, MEDITAÇÕES METAFÍSICAS

“É injusto que se apeguem a mim, embora o façam com prazer e voluntariamente. Eu iludiria aqueles em quem despertasse desejo, pois não sou o fim de ninguém e não tenho com o que satisfazê-los. Não estou eu pronto a morrer? E, assim, o objeto do apego dessas pessoas morrerá. Logo, quando não seria eu culpado por fazer crer numa falsidade, embora eu a adoçasse e acreditasse nela com prazer, e que ela me desse prazer, ainda assim sou culpado de me fazer amar. E, se atraio as pessoas para que se apeguem a mim, devo advertir aqueles que estariam prontos a consentir na mentira de que não devem acreditar, qualquer que seja a vantagem que daí me advenha.” BLAISE PASCAL, PENSAMENTOS

“Viver significa ter de ser fora de mim, no absoluto fora que é a circunstância ou mundo: é ter de, querendo ou não, enfrentar-me e chocar-me, constantemente, inces­san­temente com tudo que integra esse mundo: minerais, plantas, animais, os outros homens. Não há remédio. Tenho de atracar-me com isso tudo. Tenho de me ajustar com tudo isso. Mas isso acontece ultimamente a mim só, e tenho de fazê-lo solitariamente.” JOSÉ ORTEGA Y GASSET, O HOMEM E A GENTE

“Todos os célebres ideais da política, da moral e da religião são apenas ídolos, inchaços metafísicos, ficções que não visam nada a não ser fugir da vida, antes de se voltar contra ela.” FRIEDRICH NIETZSCHE

por FABIO MARTON E LEANDRO NARLOCH

4 de setembro de 2025

ABRAÇO DAS ÁGUAS

1º lugar no Concurso Literário “Sua poesia vai à feira” na 50ª Feira do Livro da FURG 2025, em 03/09/2025.

No azul profundo,
Desperta um novo mundo.
No sopro do mar,
Um povo a chegar.

Lusos valentes,
De sonhos ardentes,
Na restinga fria,
Erguem freguesia.

Na mão de Silva Paes,
A cidade se traça,
No risco da terra,
A vida abraça.

Porto que pulsa,
Cidade encantada,
No antigo mercado,
Memória lavrada.

Ali, na barra,
Onde o mar se espraia,
A vida desponta,
Na espuma que ensaia.

E Tales dizia,
Na voz que orienta:
Tudo é água
Raiz e tormenta.

Cidade das águas,
De brumas e luz,
Guarda em seu seio
A vida que conduz.

A poesia “ABRAÇO DAS ÁGUAS” destaca a essência e a história da cidade de Rio Grande, no Rio Grande do Sul, de uma forma lírica e concisa. O poema tece uma narrativa que começa com a fundação da cidade e termina com uma reflexão sobre a sua identidade.

O poema começa com imagens evocativas, como o “azul profundo” e o “sopro do mar”, que imediatamente situam o leitor no ambiente marítimo. A chegada dos “Lusos valentes” na “restinga fria” remete diretamente à fundação histórica, ligando a cidade à sua herança portuguesa e à sua localização geográfica particular.

A poesia menciona figuras históricas como Silva Paes, reconhecendo o papel crucial dele no planejamento da cidade (“A cidade se traça, / No risco da terra”). Essa passagem, junto com a referência ao “antigo mercado” e à “memória lavrada”, constrói uma conexão forte com o passado e a identidade cultural da cidade.

O poema também incorpora uma citação de Tales de Mileto (“Tudo é água – / Raiz e tormenta”), um filósofo pré-socrático. Essa referência eleva a poesia de uma simples descrição para uma reflexão mais profunda. A água é apresentada não apenas como um elemento físico, mas como a essência da cidade: sua origem (“raiz”) e seus desafios (“tormenta”).

O poema termina com uma visão de Rio Grande como uma “cidade das águas”, que acolhe e molda a vida. No geral, a poesia é uma ode a Rio Grande que combina história, natureza e filosofia para capturar o espírito da cidade.

A poesia, em poucas estrofes, consegue contar uma história completa, homenageando as raízes históricas e a identidade cultural de uma cidade moldada pela água.

2 de setembro de 2025

DIVERGÊNCIAS POLÍTICAS

"Embates políticos” só serve para ferir suscetibilidades, não acrescentando nada ao outro. Só afaga nosso Ego. A paixão exacerbada, as crenças radicais, podem causar graves danos a si e aos outros. Por mais que se diga que é uma “brincadeira”, “palavras” são como flechas, que depois de lançadas não tem como voltar atrás.

Nesses momentos da vida, o melhor é ficar calado, apenas observando os acontecimentos, pois o tempo traz todas as respostas. O tempo desmascara as aparênciasrevela a mentira e expõe nosso caráter.

Num ensaio chamado “A inimizade e a amizade”, o escritor Milan Kundera fala de amizades fraturadas por divergências políticas: Em nosso tempo, aprendemos a submeter a amizade àquilo que chamamos de convicções. E até mesmo com o orgulho de uma retidão moral. É preciso realmente uma grande maturidade para compreender que a opinião que nós defendemos não passa de nossa hipótese preferida, necessariamente imperfeita, provavelmente transitória, que apenas os muito obtusos podem transformar numa certeza ou numa verdade. Ao contrário da fidelidade pueril a uma convicção, a fidelidade a um amigo é uma virtude, talvez a única, a última. Hoje, eu sei: na hora do balanço final, a ferida mais dolorosa é a das amizades feridas; e nada é mais tolo do que sacrificar uma amizade pela política.”

FRASES ESTÓICAS

Minha fórmula para a grandeza é o amor fati: não desejo nada diferente, nem para a frente, nem para trás, nem em toda a eternidade. Não apenas suporto o que é necessário, muito menos dissimulá-lo – todo idealismo é mentiroso diante do que é necessário. Quero cada vez mais aprender a ver como belo aquilo que é necessário nas coisas – assim me tornarei um daqueles que fazem belas coisas. Amor fati [amor ao destino]: seja este, doravante, o meu amor! Não quero fazer guerra ao que é feio. Não quero acusar, não quero nem mesmo acusar os acusadores. Que minha única negação seja desviar o olhar! E, tudo somado e em suma: quero ser, algum dia, apenas alguém que diz Sim!." – Nietzsche

“Quero cada vez mais aprender a ver como belo aquilo que é necessário nas coisas – assim me tornarei um daqueles que fazem belas coisas. Amor fati [amor ao destino]: seja este, doravante, o meu amor! Não quero fazer guerra ao que é feio. Não quero acusar, não quero nem mesmo acusar os acusadores. Que minha única negação seja desviar o olhar! E, tudo somado e em suma: quero ser, algum dia, apenas alguém que diz Sim!." – Nietzsche

“Ninguém pode construir para você a ponte sobre a qual você deve cruzar o fluxo da vida. Ninguém pode fazer isso além de você mesmo.” – Nietzsche

“Quem luta contra monstros deve garantir que, no processo, ele não se torne um monstro. E se você olhar o suficiente para um abismo, o abismo voltará a olhar para você.” – Nietzsche

“Se algum dia ou noite um demônio lhe disser: ‘Esta vida como você a vive e a viveu, terá que viver mais uma vez e inúmeras vezes mais‘ … você se jogaria no chão, rangeria os dentes e amaldiçoaria o demônio que falou assim? Ou, por outro lado, você responderia: ‘Você é um deus e nunca ouvi nada mais divino." – Nietzsche

“Existem dois tipos diferentes de pessoas no mundo, aqueles que querem saber e aqueles que querem acreditar.” – Nietzsche

“Todas as coisas estão sujeitas a interpretação, e a que prevalecer em um determinado momento é em função do poder – e não da verdade.” – Nietzsche

Lembre-se, não basta ser agredido ou insultado para ser ferido, você deve acreditar que está sendo ferido. Se alguém consegue provocá-lo, perceba que sua mente é cúmplice da provocação. Por isso é essencial que não respondamos impulsivamente às impressões; pare um pouco antes de reagir e você achará mais fácil manter o controle.– Epicleto

“A principal tarefa na vida é simplesmente esta: Identificar e separar os assuntos (…) quais eventos são coisas externas que não estão sob meu controle, e quais assuntos têm a ver com as minhas escolhas, que eu realmente posso controlar. Onde, então, procuro o bem e o mal? Não nos assuntos externos incontroláveis, mas dentro de mim, nas escolhas que são minhas.” – Epicleto

O que me incomoda não é como as coisas são, mas como as pessoas pensam que as coisas são. Se falarem mal de ti com fundamento, corrige-te; se o fizerem sem fundamento, limita-se a rir. O que importa não é o que acontece, mas como você reage. Podes ser invencível se não te engajares em lutas nas quais vencer não depende de ti. Ninguém é livre se não for dono de si mesmo.” – Epicleto

Se o problema possui solução, então não devemos nos preocupar com ele. E se não possui solução, de nada adianta nos preocuparmos com ele.” – Epicleto

Lembre-se, não basta ser agredido ou insultado para ser ferido, você deve acreditar que está sendo ferido. Se alguém consegue provocá-lo, perceba que sua mente é cúmplice da provocação. Por isso é essencial que não respondamos impulsivamente às impressões; pare um pouco antes de reagir e você achará mais fácil manter o controle.– Epicleto
“Não procure que tudo aconteça como você deseja, mas sim que tudo aconteça como realmente deve acontecer – então sua vida será serena”. – Epicleto

Você não pode controlar o que acontece com você na vida, mas sempre pode controlar o que sentirá e fará a respeito do que acontece com você.” – Viktor Frankl

“É preciso realmente uma grande maturidade para compreender que a opinião que defendemos não passa de nossa hipótese preferida, necessariamente imperfeita, provavelmente transitória, que apenas os muito obtusos podem transformar numa certeza ou numa verdade. Ao contrário da fidelidade pueril a uma convicção, a fidelidade a um amigo é uma virtude, talvez a única, a última. Hoje, eu sei: na hora do balanço final, a ferida mais dolorosa é a das amizades feridas; e nada é mais tolo do que sacrificar uma amizade pela política.” – Milan Kundera

A vida é suficientemente longa e com generosidade nos foi dada, para a realização das maiores coisas, se a empregamos bem. Mas, quando ela se esvai no luxo e na indiferença, quando não a empregamos em nada de bom, então, finalmente constrangidos pela fatalidade, sentimos que ela já passou por nós sem que tivéssemos percebido.” – Sêneca

LIVROS SUGERIDOS

Dentro da linha do Blog, Ciência, cidadania, cotidiano, evolucionismo, fé, filosofia, justiça divina, livre pensamento, poesia, racionalismo, religião e pseudociência, sugerimos alguns livros:

1984 (George Orwell);
21 LIÇÕES PARA O SÉCULO 21 (Yuval Noah Harari);
A DANÇA DO UNIVERSO (Marcelo Gleiser);
A ERA DA RAZÃO (Thomas Paine);
A EVOLUÇÃO IMPROVÁVEL (William von Hippel);
A MAGIA DA REALIDADE (Richard Dawkins);
A Mente que Entendeu o Universo (Steve Stewart-Williams);
A MORTE EM QUESTÃO (Renold J. Blanks);
A MENTE SELETIVA (Geoffrey Miller);
A NATUREZA DA PSIQUE (Carl Jung);
A ORIGEM DAS ESPÉCIES (Charles Darwin);
A PAIXÃO PERIGOSA (David M. Buss);
A PERIGOSA IDEIA DE DARWIN (Daniel Dennet);
A REPÚBLICA (Platão);
A REVOLUÇÃO DOS BICHOS (George Orwell);
A RIQUEZA DAS NAÇÕES (Adam Smith);
A TÁBULA RASA (Steven Pinker);
A VERDADE SOBRE CINDERELA (Martin Daly e Margo Wilson);
A VIDA QUE VALE A PENA SER VIVIDA (Clóvis de Barros Filho);
ANATOMIA DO AMOR (Helen E. Fisher);
ARTE DE QUESTIONAR (A. C. Grayling);
AS COISA SÃO ASSIM (John Brockman & Katira Matson);
AS ORIGENS DA VIRTUDE (Matt Ridley);
ATEÍSMO E LIBERDADE (André Díspore Cancian);
BILHÕES E BILHÕES (Carl Sagan);
COMO A MENTE FUNCIONA (Steven Pinker);
COMO VEJO O MUNDO (Albert Einstein);
CONSCIÊNCIA EXPLICADA (Daniel Dennet);
CONFLITOS DA VIDA REAL (Gley P. Costa);
CONVITE À FILOSOFIA (Marilena Chauí);
COSMOS (Carl Sagan);
CRÍTICA DA CONCEPÇÃO TEOLÓGICA DO MUNDO (Jacob Bazarian);
DARWINISMO PERIGOSO (Daniel C. Dennett);
DEUS UM DELÍRIO (Richard Dawkins);
FIQUE POR DENTRO DA EVOLUÇÃO (David Burnie);
GUIA POLITICAMENTE INCORRETO DA FILOSOFIA (Luiz Felipe Pondé)
HOMO DEUS (Yuval Noah Harari);
INSTINTO HUMANO (Robert Winston);
JUSTIÇA: O QUE É FAZER A COISA CERTA (por Michael J. Sandel);
MANIA E CRENDICES EM NOME DA CIÊNCIA (Martin Gardner);
MAYA (Jostein Gaarder);
MEDITAÇÕES (Marco Aurélio);
O ANDAR DO BÊBADO (Leonard Mlodinow);
O ANIMAL MORAL (Robert Wright);
O BABUÍNO DE MADAME BLAVATKY (Peter Washington);
O CAPELÃO DO DIABO (Richard Dawkins);
O FUTURO DO ESPAÇO-TEMPO (Stephen Hawking);
O GENE EGOÍSTA (Richard Dawkins);
O GLORIOSO ACIDENTE (Clemente Nobrega);
O GUARDADOR DE REBANHOS (Fernando Pessoa);
O LIVRO DAS ILUSÕES (Richard Bach);
O MACACO NU (Desmond Morris);
O MUNDO ASSOMBRADO PELOS DEMÔNIOS (Carl Sagan);
O MUNDO DE SOFIA (Jostein Gaarder);
O ÓCIO CRIATIVO (Domenico De Masi);
O PEQUENO PRÍNCIPE (Antoine de Saint-Exupéry);
O PODER DO HÁBITO (Charles Duhigg);
O QUE NOS FAZ HUMANO (Matt Ridley);
O RELOJOEIRO CEGO (Richard Dawkins);
O RIO QUE SAIA DO ÉDEN (Richard Dawkins);
O ROMANCE DA CIÊNCIA (Carl Sagan);
O SISTEMA DO MUNDO (Isaac Newton);
O SUPERSENTIDO (Bruce M. Hood):
O UNIVERSO EM CASCA DE NOZ (Stephen Hawking);
O VERDADEIRO OBJETIVO DA VIDA (Jiddu Krishnamurti);
OS DENTES DA GALINHA (Stephen Jay Gould);
OS MISTÉRIOS NÃO EXPLICADOS DA CIÊNCIA (John Malone);
PÁLIDO PONTO AZUL (Carl Sagan);
PURA PICARETAGEM (Daniel Bezerra e Carlos Orsi);
QUEM SOU EU? (Richard David Precht);
SAPIENS (Yuval Noah Harari);
TÁBULA RASA (Steven Pinker);
UMA BREVE HISTÓRIA DO TEMPO (Stephen Hawking).


1 de setembro de 2025

A ÁRVORE GENEALÓGICA DO HOMEM

O Australopitecos, cujo nome significa “macaco do sul”, apareceu há cerca de 5 a 7 milhões de anos durante a era do Plioceno. Media cerca de 105 a 115 centímetros de altura e tinha um cérebro mais ou menos do tamanho do de um chimpanzé. Eles já andavam na posição vertical e já usavam ferramentas rudimentares, como paus e pedras, na sua forma original, isto é, sem que esses utensílios tenham sido modificados para uma determinada utilização.

Muito provavelmente, nessa Era, ainda não utilizavam a fala como meio de comunicação. Durante os 2,5 milhões de anos seguintes, eles dominaram o planeta, evoluíram, criaram novos hábitos de alimentação, começaram a incluir a carne na sua alimentação, o que deu origem a alterações profundas do foro fisiológico, como a diminuição no tamanho do estômago, e um aumento substancial de massa encefálica.

O Homo Habilis, cujo nome significa “homem habilidoso”, surgiu há cerca de 2 milhões de anos, já trabalhava as suas próprias ferramentas começando, talvez, por uma simples pedra ou um pau. O seu cérebro era um pouco maior do que o do australopiteco, mas ainda era sensivelmente, um pouco menos de metade do cérebro do Homem atual, contudo já possuía uma grande habilidade e mobilidade nas mãos. O Homo Habilis levava uma vida nômade nas savanas, alimentava-se de carne, obtida através da caça, de frutos e outros vegetais.

O Homo Erectus, cujo nome significa “homem direito”, surgiu há aproximadamente 1,8 milhões de anos. Com uma altura já muito próxima da do homem contemporâneo, o seu cérebro tinha o tamanho um pouco superior à metade do nosso. É possível dizer que o Homo Erectus já possuía inteligência, tendo nessa era passada a dominar o uso de uma das mais importantes e poderosas ferramentas que o homem conheceu até hoje: o Fogo. A partir dessa Era, passou a manter uma estrutura social complexa e a viver agrupado em comunidade. O uso do fogo distinguiu o Homo Erectus de todas as espécies que lhe haviam dado origem anteriormente.

O Homo sapiens, que pode ser considerado a origem da nossa espécie, surgiu há aproximadamente 250 mil anos, como resultado das adaptações de Homo Erectus ao meio em que eles viviam. Desde então o Homo sapiens tem estado em constante evolução, aumentando o número de exemplares e se sobrepondo a todas as outras espécies. Ele tornou-se o “animal” dominante do planeta. A “Invasão Humana” tem início há 120 mil anos, com uma grande erupção de um vulcão que afetou todo o planeta, estima-se que somente cerca 10 a 15 mil Homo sapiens tivessem sobrevivido.

Á cerca de 70 a 80 mil anos, Homo sapiens chega à Europa e passa a ser conhecido como Homem de Cro-magnon, Ele entra em contato com o Homem de Neandertal, gerando um conflito permanente no qual o Homo sapiens quase sempre vence. Isso leva a que a população de Homens Neandertais diminui-se drasticamente e levasse por completo à sua extinção há cerca de 35 mil anos. 

Há 30 mil anos dá-se o início da nova Era Glacial e é a partir daí que o homem entra num longo e doloroso processo de sedentarização começando a praticar a pastorícia e a agricultura. Cronologia em relação à existência do Universo (cerca de 15 bilhões de anos):

1. Australopitecos (0,047% de existência).
2. Homo Habilis (0,013% de existência).
3. Homo Erectus (0,012% de existência).
4. Homo sapiens (0,0067% de existência).
5. A Era Glacial (0,00053% de existência).
6. Universo sem o Homem (99,95% de existência). 

JC COUTINHO

A LUTA DO BEM CONTRA O MAL

Nos primórdios da humanidade, a distinção entre o bem e o mal era clara, sem a hipocrisia e a dissimulação de hoje. Os governantes eram virtuosos, e os delitos, raros. Preocupados com o aumento da delinquência, eles se reuniram para encontrar uma solução. Inicialmente aplicar a “tolerância zero”, adotaram a lei de talião, ou “olho por olho, dente por dente”, baseando-se na premissa de que o bem comum estava acima do individual. Acreditavam que, com o tempo, isso eliminaria os criminosos. No entanto, os crimes persistiram.

Passaram-se os anos e os delitos prosseguiam. Um novo pensamento surgiu: os governantes, sendo bons, não poderiam se igualar aos maus aplicando a morte. Em vez disso, deveriam amar os delinquentes, aplicando-lhes penas brandas na esperança de recuperá-los para a sociedade. Essa nova abordagem se baseava no princípio de “amar ao próximo como a si mesmo”. 

Contudo, essa moral humana não se alinha com a Lei que rege o Universo. Essa força natural e impessoal é indiferente à moralidade, ao amor ou ao ódio. Sua única mola propulsora é a luta impiedosa pela sobrevivência e reprodução. Na lógica da vida, o “bom” é tudo aquilo que sobrevive e se reproduz, enquanto o “ruim” é o que não sobrevive, o que é contrário à perpetuação da vida.

A Lei da natureza tem como única finalidade garantir a sobrevivência da espécie. Todos os outros conceitos, como alma, espírito, livre-arbítrio e religião, são justificativas criadas pelos humanos para dar sentido à vida, aliviar angústias e trazer paz de espírito. Atualmente, a taxa de indivíduos maus é alarmante. 

Com sua reprodução em massa, impulsionada pela falta de freios morais e paternidade irresponsável, eles estão infiltrados nos governos e nas instituições. Usando sua astúcia, mentiras e simulações, eles alteram a legislação para se perpetuarem no poder. Estamos, portanto, imersos na eterna luta do bem contra o mal, um conflito onde o critério de sucesso é a seleção dos mais aptos. O filósofo Schopenhauer não se enganou ao afirmar que “A vida não é mais que uma luta pela existência com a certeza de sermos vencidos”.

JC COUTINHO

JUDICIALIZAÇÃO PREDATÓRIA

Com base em dados recentes, o Brasil têm mais de 1,3 milhão de advogados, um número que o coloca em primeiro lugar globalmente em termos de advogados por habitante. Há cerca de 1 advogado para cada 164 habitantes, o que evidencia um elevado índice de judicialização no país.

1) Brasil: 1 advogado / 164 habitantes;
2) Estados Unidos: 1 advogado / 253 habitantes;
3) Argentina: 1 advogado / 365 habitantes;
4) Reino Unido: 1 advogado / 471 habitantes;
5) Portugal: 1 advogado / 625 habitantes;
6) Índia: 1 advogado / 700 habitantes.

CENÁRIO DO JUDICIÁRIO BRASILEIRO: O Relatório “Justiça em Números” de 2023, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), revela que foram registrados cerca de 35 milhões de novos processos em todo o país, o maior número da história.

JUSTIÇA COMUM ESTADUAL: A Justiça Comum Estadual recebe a maior parte dos processos novos. São milhões de casos envolvendo questões cíveis (como divórcios, heranças, dívidas e danos morais), criminais, de família, de fazenda pública (contra o Estado) e de juizados especiais. Cerca de 80% de todos os processos em tramitação no país ocorrem na esfera estadual.

JUSTIÇA DO TRABALHO: Segundo dados recentes, a Justiça do Trabalho recebeu mais de 3,5 milhões de novas ações em um ano, um volume que vem crescendo. Essas ações tratam de relações entre empregadores e empregados.

JUSTIÇA FEDERAL: A Justiça Federal lida com causas em que a União ou suas autarquias (como o INSS) são parte, além de alguns crimes específicos. O número de processos ajuizados anualmente também é alto, com um crescimento expressivo em anos recentes. Por exemplo, a Justiça Federal da 4ª Região teve mais de 3.300 processos ajuizados a cada 100 mil habitantes em 2023.

AVIAÇÃO CIVIL NO BRASIL: O Brasil é o país com o maior número de processos judiciais contra companhias aéreas do mundo. A Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA) e a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (ABEAR) indicam que o Brasil responde por mais de 98% das ações judiciais globais contra o setor. Esse fenômeno é conhecido como “judicialização predatória”. As principais razões para esse fenômeno incluem:

1) FACILIDADE DE ACESSO À JUSTIÇA: O Código de Defesa do Consumidor (CDC) e a existência dos Juizados Especiais Cíveis (JECs) facilitam a entrada com ações, muitas vezes sem a necessidade de um advogado e sem custos processuais.

2) FALTA DE PADRONIZAÇÃO NAS DECISÕES: A ausência de uma jurisprudência uniforme faz com que casos semelhantes tenham resultados diferentes, o que incentiva a busca por indenizações, mesmo em situações onde a culpa da companhia aérea não é clara.

3) CULTURA DE COMPENSAÇÃO: O passageiro brasileiro tem uma cultura mais propensa a buscar a Justiça para resolver problemas, como atrasos ou cancelamentos de voos, em vez de recorrer a outros mecanismos de compensação.

POR QUE OS GRANDES ESCRITÓRIOS USAM O JEC? É bastante comum que advogados novatos de grandes escritórios atuem nos Juizados Especiais Cíveis (JECs). Essa prática é uma parte importante da estrutura de grandes bancas de advocacia, especialmente as que defendem empresas de telecomunicações, companhias aéreas, bancos e grandes varejistas. Nesse contexto, os advogados novatos, muitas vezes chamados de “advogados juniores” ou “correspondentes”, são os que mais atuam na linha de frente dos Juizados.

COBRANÇA DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS: A cobrança de honorários advocatícios por esses escritórios de advocacia, no contexto da judicialização de massa nos Juizados Especiais Cíveis (JECs), funciona de forma específica, e o modelo mais comum é o de honorários de êxito ou ad exitum. A grande maioria desses processos de massa é movida sem que o cliente tenha que pagar algo adiantado. O modelo de cobrança se baseia no princípio de que o advogado só receberá se houver um resultado positivo, ou seja, se o cliente ganhar o processo e receber uma indenização ou um valor de acordo.

LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ E SUCUMBÊNCIAS: Como a cobrança de litigância de má-fé é imposta diretamente à parte que agiu de forma desonesta no processo, e voltada para o cliente, não para o advogado, e por ser a maioria dos clientes pobres e beneficiário da justiça gratuita, a cobrança da multa pode ser suspensa. A cobrança só será efetivada se, dentro de cinco anos, ficar comprovado que a situação de pobreza não existe mais. Se o cliente for beneficiário da justiça gratuita, ele também estará dispensado do pagamento das custas processuais. Quanto aos honorários de sucumbência, o pagamento também pode ser suspenso. A cobrança só ocorrerá se, nos cinco anos seguintes, a situação financeira do cliente mudar e ele tiver condições de pagar.

FUTILIDADES (não tão fúteis)

SEXO DO BEBÊ: Num estudo empírico, que ainda não se obteve uma explicação racional, constata-se que toda a vez que um casal possuir as duas primeiras crianças do mesmo sexo, a terceira, quase com certeza, nascerá com o mesmo sexo. Assim, para os mesmos pais, se o primeiro e o segundo nascerem meninas (ou meninos), a terceira criança provavelmente nascerá menina (ou menino). Não existe uma explicação lógica. A única anotação que se pode fazer é de um provérbio árabe que diz: “Tudo o que acontece uma vez pode nunca mais acontecer, mas tudo o que acontece duas vezes, acontecerá certamente uma terceira”

MAIOR PAIXÃO: Entre as paixões humanas, o futebol é seguramente a maior de todas. É mais vigorosa que a paixão erótica, religiosa, política ou matrimonial. É uma força capaz de superar limitações biológicas e, até mesmo, de suplantar as barreiras da conduta humana. Há pessoas que mudam de religião; de partidos políticos; de parceiros ou de casamento. Há até alguns que mudam de sexo ou opção sexual. Mas praticamente inexistem os que trocam de clube de futebol. Um gremista jamais se converterá em colorado. Um colorado jamais se tornará gremista. A idolatria ao futebol é a mais irracional de todas as paixões. Enquanto as religiões prometem a vida eterna e os políticos o bem-estar da população, o futebol promete, como numa guerra, a vitória sobre os adversários. E o prazer não é simplesmente vencer, é também poder ver os adversários sofrerem.

QUANDO TROCAR DE CARRO: Carro não é investimento (é custo). Em decorrência da depreciação/desvalorização, pode valer a pena usar o carro por quatro, cinco ou mesmo seis anos. Como a perda de ano para ano é cada vez menor, manter o automóvel usado significa um gasto a menos que facilitará em muito a próxima troca. Em geral, o carro sofre maior desvalorização, entre 20% e 30%, no primeiro ano. Um fator que influência essa queda abrupta é o lançamento de modelos novos, com preços mais altos. A desvalorização se reduz e praticamente se estabiliza a partir do quarto ano, com um índice anual inferior a 10%. Outro fator importante é que a cada troca o revendedor valoriza o carro que ele está vendendo e deprecia o que está comprando de você (ganha na venda e na compra). Assim, quanto mais trocas, maior o prejuízo.

PARTIDOS E SEUS ADEPTOS: A relação entre um partido político e seus apoiadores pode ser observada em diferentes níveis de engajamento e compromisso. Podemos classificar essa relação da seguinte forma:

SIMPATIZANTES (menos engajados – simpatizam com partido num determinado momento, podendo mudar no decorrer do tempo. Abertos a diferentes visões);

MILITANTES (mais engajados – membros ativos da causa ou ideologia do partido; atuando como ativistas e propagadores das ideias partidárias. São fundamentalistas, brigam pelo partido, que para eles é que nem uma religião).

OBREIROS (aqueles que servem ao partido – São essenciais para a organização e funcionamento das campanhas, eventos e atividades cotidianas. Tendem a seguir cegamente a orientação dos líderes do partido – são os “operários” do partido, que mantêm a estrutura partidária).