19 de setembro de 2025

A OPÇÃO PELO CASAMENTO

Poucos meses antes de conceber a teoria da seleção natural – que Darwin tomou a decisão de se casar. Ao debater consigo mesmo se deveria ou não se casar, Darwin elaborou uma lista de prós e contras. Em um notável memorando deliberativo, aparentemente escrito por volta de julho de 1838, ele decidiu teoricamente a questão. O documento tinha duas colunas, uma intitulada CASAR, a outra NÃO CASAR, e englobando as duas, inscrita em um círculo, a frase “Eis a questão”.

Do lado a favor do casamento havia “Filhos – (se for a vontade de Deus) – Uma companheira constante (e amiga na velhice) que se interessa por nós – objeto de amor e divertimento”. Depois de um tempo ignorado de reflexão, substituiu a frase anterior por “pelo menos é melhor do que um cachorro”. E continuou: “Casa e alguém para cuidar da casa – Os encantos da música e da tagarelice feminina – Coisas que fazem bem à saúde – mas são uma terrível perda de tempo.” Sem aviso, Darwin passara dos argumentos a favor do casamento para uma razão importante contra o casamento, tão importante que a sublinhou.

NÃO CASAR. Não casar, ele anotou, preservaria a “Liberdade de ir onde se quer – a escolha do círculo social e pouco contato. – Conversa com homens inteligentes nos clubes – não ser abrigado a visitar parentes e ceder em cada detalhe – não ter a despesa e a preocupação com os filhos – possíveis brigas – perda de tempo. – Não poder ler à noite – adiposidade e preguiça – preocupação e responsabilidade – menos dinheiro para comprar livros e etc. – se tiver muitos filhos, a obrigação de trabalhar para viver”.

CASAR: “Meu Deus, é intolerável pensar em passar a vida inteira como uma abelha assexuada trabalhando, trabalhando e no final nada. – Não, não serve. – Imagine viver o dia inteiro sozinho em uma casa londrina cheia de fuligem. – Imagine uma bela e macia esposa em um sofá com a lareira acesa, livros e música, talvez.” Depois de registrar essas imagens, escreveu: “Casar – (um lapso: ao invés de Casar, Marry, um nome de mulher, Mary) – Casar Q.E.D.”

A decisão de Darwin precisou sobreviver a mais uma onda de dúvidas. Nos homens, o memorando de Darwin o comprova, o pânico não está essencialmente ligado a nenhuma futura companheira em particular; é o conceito de uma companheira para toda a vida que é em determinado nível assustador. A razão é que – em uma sociedade monogâmica, pelo menos – é um balde de água fria nas perspectivas de intimidade com todas as outras mulheres que os genes de um homem o incitam a procurar e conhecer (por mais brevemente que seja). Contudo, quase certamente existe nos homens, que estão prestes a se comprometer com uma mulher para sempre, o pavor de uma cilada iminente, a sensação de que os dias de aventura terminaram. “Viva.”, Darwin escreveu, com um tremor final, diante de um compromisso para toda a vida.

“Jamais aprenderei francês – nem verei o continente europeu – nem irei aos Estados Unidos, nem voarei de balão nem farei uma viagem solitária ao País de Gales – pobre escravo – você estará pior que um negro.” Mas em seguida, resignadamente, reuniu a necessária determinação. “Não faz mal, rapaz – Anime–se – Não se pode viver uma vida solitária, com uma velhice trôpega, sem amigos, enregelado, sem filhos, a olhar para a cara da gente, que já começa a enrugar. – Não faz mal, confie na sorte – mantenha os olhos abertos – Há muitos escravos felizes –” Fim do documento.

Os dons e encantos de sua prima Emma Wedgwood, àquela que conhecera desde a infância, preponderaram sobre os contras, e a 29 de janeiro de 1839 celebrou–se o casamento de ambos. A previsão tornou–se realidade. Vínculos de real afeto uniram Emma e Charles por toda a vida e formaram uma família calorosa, vigorosa e amorosa.

Do Livro Animal Moral (Robert Wright)

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