Muitos
rapazes são enganados pela visão de “mulheres desregradas ou, no
mínimo, vulgares e de baixo nível”. E embarcam no casamento com
ideias exageradas sobre satisfação sexual. Não compreendem que “as
melhores mães, esposas e donas de casa, pouco ou nada entendem de
prazeres sexuais. O amor ao lar, aos filhos e às tarefas domésticas
são as únicas paixões que sentem”. Algumas mulheres que se
consideram excelentes esposas e mães podem ter outra opinião. E
podem ter fortes argumentos a seu favor.
Ainda assim, a ideia de que
há algumas diferenças entre apetites sexuais masculino e feminino
típicos, e que o apetite sexual masculino é menos exigente, recebe
forte respaldo do novo paradigma darwinista. Aliás, a premissa
recentemente popular que homens e mulheres têm basicamente naturezas
idênticas conta cada dia com menos defensores. Deixou de ser, por
exemplo, uma doutrina central do feminismo. Uma escola inteira de
feministas – as “feministas da diferença”, ou “essencialistas”
– agora aceita que homens e mulheres são profundamente diferentes.
As
mulheres promíscuas seriam bem-vindas como parceiras sexuais de
curto prazo – e de certa forma até preferíveis, pois pode-se
conquistá-las com menos esforço. Mas não serviriam para esposas,
por serem um conduto duvidoso para investimento masculino em filhos.
Podemos imaginar a corte, entre outras coisas, como um processo de
classificar a mulher em uma categoria ou outra. O teste correria mais
ou menos assim: se você encontra uma mulher que parece geneticamente
apropriada para um investimento, comece a passar muito tempo com ela.
Se parecer interessada em você, mas permanecer sexualmente
indiferente, ela passou no teste. Se, por outro lado, parecer ávida
para ter uma relação sexual imediatamente, então, por favor, faça
sua vontade. Mas se você obteve sexo com tanta facilidade, talvez
queira passar do modo investimento para o modo exploração.
A avidez
que ela demonstrou pode significar que sempre será facilmente
seduzida – uma qualidade indesejável em uma esposa. Naturalmente,
no caso de uma determinada mulher, a avidez sexual pode não
significar que ela sempre será facilmente seduzida: talvez seja você
o único homem irresistível. Mas se existir correlação geral entre
a rapidez com que a mulher sucumbe e a sua probabilidade de vir a
enganá-lo, então essa rapidez é um indício estatisticamente
válido para uma questão de enorme consequência genética.
Há
uma teoria segundo a qual algumas mulheres são inatamente propensas
a perseguir a estratégia do “filho sexy”: cruzam promiscuamente
com homens sexualmente atraentes (bonitos, inteligentes, musculosos,
e assim por diante), pondo em risco o alto investimento masculino nos
filhos que poderiam obter se fossem mais santas, e tivessem a
probabilidade de terem filhos como os pais, atraentes e, portanto,
prolíficos. Quanto mais atraente for uma adolescente, tanto maior a
sua probabilidade de “casar bem” - casar com um homem de
condições socioeconômica mais elevada.
Quanto mais ativa
sexualmente for uma adolescente, tanto menos possível que isto
ocorra. Um macho rico de condição social elevada em geral tem à
escolha uma ampla gama de candidatas a esposa. Portanto tende a
escolher uma mulher bonita que é também relativamente santa. Em
outras palavras, talvez as adolescentes que recebam desde cedo uma
resposta social confirmando sua beleza, tirem partido disso, e se
tornem sexualmente reservadas, encorajando, assim, os investimentos
de longo prazo de machos de posição elevada que procuram santas
bonitas.
As
mulheres menos atraentes, com menores chances de acertar na loteria
por meio de reserva sexual, tornam-se promíscuas, e extraem pequenas
parcelas de recursos de uma série de homens. Embora tal
promiscuidade possa, de certa maneira, reduzir o valor dessas
mulheres como esposas, não teria, no ambiente ancestral, anulado
suas chances de encontrar um marido.
A
promiscuidade está instalada no cérebro masculino, é uma herança
da evolução. Através da história, os homens morreram em guerras e
mais guerras. Assim, fazia sentido tentar de qualquer jeito aumentar
a população. Sempre voltavam menos guerreiros. Mas os sobreviventes
tinham à sua disposição cada vez mais viúvas, criando um harém
que servia muito bem à estratégia de preservação da espécie.
Esta
imagem da mulher moderna passada pela mídia, a devoradora de homens
e maníaca por sexo, é uma criação do imaginário masculino e não
corresponde a 1% da população feminina. Como muitas mulheres não
conseguem corresponder às imagens que veem, começam a pensar que
não são normais. E os homens, estimulados a acreditar no grande
apetite sexual feminino, ficam aborrecidos e frustrados se suas
parceiras não tomam a iniciativa com frequência. A mulher tem a
mesma necessidade de sexo de suas mães e avós, só que estas
reprimiam e não falavam sobre o assunto.
Os
homens podem reproduzir centenas de vezes por ano, presumindo que
consigam persuadir mulheres suficientes a cooperar, e presumindo que
não existam leis contra a poligenia – o que, com certeza, não
havia no ambiente onde grande parte de nossa evolução ocorreu. As
mulheres, por outro lado, não podem reproduzir mais que uma vez por
ano. A assimetria reside parcialmente no alto custo dos ovos; em
todas as espécies eles são maiores e em menor número do que os
minúsculos espermatozoides produzidos em massa. Assim, mulheres têm
que ter cuidado com a forma de gastá-los. Nove meses de
investimento, sem contar, os cuidados, o tempo e a energia que terão
de ser investidos na cria depois.
Mulheres,
por instinto, devem ser cuidadosas. Mais que os homens. Nada de sair
comprometendo óvulos por aí, porque o investimento que terão de
fazer mais tarde é incomparavelmente maior que o deles. Dar à luz
uma criança exige um enorme investimento de tempo, sem falar da
energia, e a natureza estabeleceu um baixo patamar para o número de
projetos do gênero que ela pode realizar. Assim cada criança, do
ponto de vista (genético), é uma preciosa máquina de genes. Sua
capacidade de sobreviver e, por sua vez, produzir a própria máquina
de genes, tem uma enorme importância.
Faz
sentido em termos darwinistas, então, que uma mulher seja seletiva
com relação ao homem que vai ajudá-la a construir sua máquina de
genes. Para a fêmea, “a cópula pode significar o compromisso com
um encargo prolongado, tanto no sentido mecânico, quanto
fisiológico, com as suas consequentes fadigas e perigos”.
Portanto
é de seu interesse genético “assumir os encargos da reprodução”
apenas quando as circunstâncias parecem propícias. E “uma das
circunstâncias mais importantes é o macho inseminador”; uma vez
que “pais excepcionalmente aptos tendem a gerar filhos
excepcionalmente aptos”, é “vantagem para a fêmea escolher o
macho mais apto disponível”. Donde a corte: “a publicidade que o
macho faz de sua aptidão”. E da mesma forma que é vantajoso para
ele fingir ser extremamente apto, quer seja, quer não, é vantajoso
para a fêmea identificar sua falsa publicidade.
Assim
sendo, a seleção natural cria “um sofisticado talento para vendas
nos machos e uma sofisticada discriminação e resistência à vendas
nas fêmeas”. Em outras palavras: os machos devem, em teoria,
tender ao exibicionismo (avidez) e as fêmeas ao resguardo (recato).
Se aceitarmos ao menos três modestas afirmações:
(1)
que a teoria da evolução natural implica diretamente a “aptidão”
das mulheres que são seletivas com relação a seus parceiros
sexuais e dos homens que em geral não o são;
(2)
que a presença e ausência dessa seletividade são observadas em
todo o mundo; e
(3)
que tal universalidade não pode ser explicada com igual simplicidade
por uma teoria concorrente e puramente cultural – e se estivermos
jogando de acordo com as normas da ciência, teremos que endossar a
explicação darwinista: a licenciosidade masculina e o (relativo)
recato feminino são até certo ponto, inatos.
Mulheres
tendem a ser, como regra, exigentes e chatas na escolha de seus
homens. Mas não podem ser exigentes e chatas demais, senão não
copulam, e adeus genes! O mesmo risco correm os homens afoitos
ansiosos por copular e engravidar todas as mulheres do mundo. Se
desenvolverem uma reputação de copular e abandonar a fêmea sem
ajudar, um pouco que seja, no cuidado da cria, correm o risco de
ficar a ver navios. Acabarão sendo rejeitados, preteridos por outros
homens mais “geneticamente corretos”, e seus genes não se
propagarão.
A tentação da trapaça na relação macho-fêmea
existe, mas o jogo não é necessariamente de soma zero. Isto é: não
é necessário que alguém perca para que alguém possa ganhar. Ambos
– macho e fêmea – querem propagar seus genes, portanto, ambos
podem ganhar. Algum tipo de estratégia de cooperação deverá se
desenvolver. Por interesse.
A
seleção natural acaba provocando o aparecimento de comportamentos
de equilíbrio. Essas são as estratégias que acabam levando ao
compromisso entre os interesses – naturalmente egoístas – de
macho e fêmea. Assim, o jogo do sexo é inerentemente conflituoso;
ele foi embutido nas psicologias de homens e mulheres à imensidão
do tempo evolucionário. O que engendra esse conflito é a diferença
essencial entre ambos: espermatozoides são abundantes e baratos;
óvulos são poucos e caros.
Do
Livro Animal Moral (Robert Wright)
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