19 de setembro de 2025

O FUTURO ESTÁ NOS ASTROS

A ideia de um futuro predeterminado move filosofias e religiões. E serve de combustível para um dos conceitos mais antigos da humanidade: o de que os astros regem nossa vida.

Nenhuma forma de tentar ver o futuro chegou com tanta força ao presente quanto a astrologia. Ligar o movimento dos astros aos trancos e barrancos da vida aqui embaixo é algo que começou na Pré-História. Esse hábito deriva de uma observação simples: a de que a posição do Sol não varia apenas de acordo com as horas do dia mas também com a passagem do ano. Observando os pontos em que o Sol nascia no horizonte, nossos ancestrais notaram que ele ia mudando de posição com o passar dos meses. E logo identificaram um grupo de constelações posicionadas perto dessa rota aparente do Sol. Ao contrário das outras estrelas, que se movem visivelmente ao longo do ano, aquele anel de constelações – que os gregos batizaram de “circulo de animais”. ou “zodíaco” – parecia fixo.

Também notaram que a posição do Sol em relação ao zodíaco tinha ligação com o clima e as estações. O nascimento do Sol próximo a constelação Áries marcava o equinócio de primavera – o momento em que o dia e a noite têm duração idêntica. Essa data sempre teve importância simbólica: marcava a entrada da primavera no hemisfério norte e era centro de celebrações religiosas relacionadas à fertilidade. A conclusão era que aquelas constelações influenciavam a duração dos dias e o clima – parecia simplesmente lógico, então, que também tivessem poder sobre a vida humana. Dai vieram os primeiros horóscopos, que já eram produzidos na Mesopotâmia de 1 000 anos ante. de Cristo de maneira idêntica a de hoje. Se unia criança iara ao mundo no período em que o Sol nasce na parte do céu ocupada por Libra, a vida dela era "regida” pela constelação – na prática, o conjunto de estrelas era entendida como uma divindade. O costume passou para os gregos, romanos. e dai para o mundo.

A astrologia já teve prestígio de ciência – até o século 17 quase todo astrônomo também era astrólogo, incluindo aí gênios científicos como Johanes Kepler. Isso acabou. Mas o poder da astrologia não. Estima-se que 70% das pessoas no Ocidente leiam seu horóscopo.

O conceito de destino sofisticou-se com o tempo. Ele se tornou fundamental para a filosofia e a religião. E continua até hoje. Tanto que uma das doutrinas mais antigas sobre o assunto ainda está em voga: a do carma, elaborada há pelo menos 3 mil anos na Índia.

De acordo com ela, nada acontece por acaso: todos os fios na vida de um indivíduo são conseqüência de suas ações em existências passadas. ‘Nosso caráter é resultante total de nosso passado, e o nosso futuro será determinado por nosso presente. Quando dizemos que algo ocorreu por acaso ou por acidente, isso se deve ao nosso conhecimento limitado dos fatos”, diz Swami Yirmalaiatmananda, líder do movimento religioso vedanta no Brasil. Embora o plano geral de nossa vida já esteja traçado antes do nascimento, a teoria do carma deixa espaço à liberdade humana cada pessoa pode tentar agir com virtude e ir “descontando” a carga das vidas passadas. Quem acertar as contas cármicas será recompensado na próxima reencarnação; mas quem ficar no vermelho terá de pagar com acidentes e desgraças.

O surreal é que a ideia de um futuro predeterminado e, ao mesmo tempo, inescrutável, tem uma colaboradora inusitada: a ciência. Ela mesma indica que, sim, seu futuro está escrito. Como disse Einstein em pessoa. “A distinção entre passado, presente e futuro é uma ilusão”.

FONTE:
O destino está nas estrelas – Superinteressante (José Francisco Botelho e Alexandre Versignassi)


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