A
ideia de um futuro predeterminado move filosofias e religiões. E
serve de combustível para um dos conceitos mais antigos da
humanidade: o de que os astros regem nossa vida.
Nenhuma
forma de tentar ver o futuro chegou com tanta força ao presente
quanto a astrologia. Ligar o movimento dos astros aos trancos e
barrancos da vida aqui embaixo é algo que começou na Pré-História.
Esse hábito deriva de uma observação simples: a de que a posição
do Sol não varia apenas de acordo com as horas do dia mas também
com a passagem do ano. Observando os pontos em que o Sol nascia no
horizonte, nossos ancestrais notaram que ele ia mudando de posição
com o passar dos meses. E logo identificaram um grupo de constelações
posicionadas perto dessa rota aparente do Sol. Ao contrário das
outras estrelas, que se movem visivelmente ao longo do ano, aquele
anel de constelações – que os gregos batizaram de “circulo de
animais”. ou “zodíaco” – parecia fixo.
Também
notaram que a posição do Sol em relação ao zodíaco tinha ligação
com o clima e as estações. O nascimento do Sol próximo a
constelação Áries marcava o equinócio de primavera – o momento
em que o dia e a noite têm duração idêntica. Essa data sempre
teve importância simbólica: marcava a entrada da primavera no
hemisfério norte e era centro de celebrações religiosas
relacionadas à fertilidade. A conclusão era que aquelas
constelações influenciavam a duração dos dias e o clima –
parecia simplesmente lógico, então, que também tivessem poder
sobre a vida humana. Dai vieram os primeiros horóscopos, que já
eram produzidos na Mesopotâmia de 1 000 anos ante. de Cristo de
maneira idêntica a de hoje. Se unia criança iara ao mundo no
período em que o Sol nasce na parte do céu ocupada por Libra, a
vida dela era "regida” pela constelação – na prática, o
conjunto de estrelas era entendida como uma divindade. O costume
passou para os gregos, romanos. e dai para o mundo.
A
astrologia já teve prestígio de ciência – até o século 17
quase todo astrônomo também era astrólogo, incluindo aí gênios
científicos como Johanes Kepler. Isso acabou. Mas o poder da
astrologia não. Estima-se que 70% das pessoas no Ocidente leiam seu
horóscopo.
O
conceito de destino sofisticou-se com o tempo. Ele se tornou
fundamental para a filosofia e a religião. E continua até hoje.
Tanto que uma das doutrinas mais antigas sobre o assunto ainda está
em voga: a do carma, elaborada há pelo menos 3 mil anos na Índia.
De
acordo com ela, nada acontece por acaso: todos os fios na vida de um
indivíduo são conseqüência de suas ações em existências
passadas. ‘Nosso caráter é resultante total de nosso passado, e o
nosso futuro será determinado por nosso presente. Quando dizemos que
algo ocorreu por acaso ou por acidente, isso se deve ao nosso
conhecimento limitado dos fatos”, diz Swami Yirmalaiatmananda,
líder do movimento religioso vedanta no Brasil. Embora o plano geral
de nossa vida já esteja traçado antes do nascimento, a teoria do
carma deixa espaço à liberdade humana cada pessoa pode tentar agir
com virtude e ir “descontando” a carga das vidas passadas. Quem
acertar as contas cármicas será recompensado na próxima
reencarnação; mas quem ficar no vermelho terá de pagar com
acidentes e desgraças.
O
surreal é que a ideia de um futuro predeterminado e, ao mesmo tempo,
inescrutável, tem uma colaboradora inusitada: a ciência. Ela mesma
indica que, sim, seu futuro está escrito. Como disse Einstein em
pessoa. “A distinção entre passado, presente e futuro é uma
ilusão”.
FONTE:
O
destino está nas estrelas – Superinteressante (José Francisco
Botelho e Alexandre Versignassi)
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