A ciência indica que, ao escolher um parceiro, ainda somos guiados por nossa biologia e preferências evolutivas.
HOMEM
– exibicionista,
alto, forte, caçador habilidoso e dominador;
– menos
seletivo: seu objetivo é engravidar o maior número possível de
parceiras para propagar seus genes.
MULHER
– recatada,
jovem, saudável e com potencial para gerar muitos filhos;
– mais
seletiva: seu objetivo é engravidar de um macho capaz de lhe dar a
prole mais apta a sobreviver e encontrar um provedor que a ajude a
alimentar e proteger os filhos.
O homem ideal seria alto,
forte, caçador e dominador, interessado em fecundar o maior número
de parceiras. A mulher ideal seria jovem, saudável, com potencial
reprodutivo e mais seletiva, buscando um provedor para a prole mais
apta. Esses protótipos de “macho e fêmea alfa” do tempo das
cavernas ainda guiam nosso comportamento sexual.
Milhões
de anos se passaram, mas o comportamento sexual humano continua a
seguir os mesmos mecanismos ancestrais. A herança evolutiva explica,
por exemplo, por que sexo e status estão intimamente ligados.
Segundo a jornalista Candace Bushnell, autora de “Sex and the
City”, a escassez de “machos alfa” faz com que muitas mulheres
vejam suas iguais como inimigas. Afinal, passamos apenas 1% da nossa
história evolutiva sob a civilização, e os 99% restantes estiveram
à mercê de nossos instintos.
O
naturalista Charles Darwin defendia que a evolução se baseia na
sobrevivência dos mais aptos, onde o cérebro seria uma ferramenta
de sobrevivência e o sexo, uma mera consequência. No entanto, uma
nova teoria sugere que a procriação é a meta principal da
evolução, e as estratégias para transmitir genes são centrais.
Assim, o cérebro humano é visto como uma “máquina de cortejar”,
um ornamento sexual, como a cauda do pavão, que nos torna atraentes
por meio da conversa, humor e inteligência.
A
evolução, ao nos dar a inteligência, misturou os apelos biológicos
com a cultura. Para o estudioso Geoffrey Miller, a arte, a música e
a linguagem são táticas de seleção sexual e conquista. Ele
acredita que somos o que somos para nos acasalar melhor. As mulheres
buscam os melhores genes, e os homens e as mulheres usam biologia e
sentimentos em um grau que é quase impossível distinguir.
Segundo
Steven Pinker, enquanto em outras espécies o desejo sexual visa a
propagação dos genes, para nós ele visa o prazer sexual, que é a
estratégia dos genes para se propagarem. O prazer é tão crucial
que ele pode explicar por que os homens têm o maior pênis entre os
primatas: as mulheres, que controlam a seleção sexual, apreciaram o
estímulo tátil de um órgão maior, e isso levou à sua evolução.
A
busca pela beleza tem origens muito anteriores à indústria da moda.
Os padrões de beleza, embora variem culturalmente, obedecem à
constantes como a diferenciação sexual (seios e cintura fina para
mulheres; queixo forte e musculatura para homens) e a simetria, um
sinal de saúde genética. A beleza ativa áreas cerebrais antigas,
ligadas ao prazer e ao vício, mostrando que é um vício humano
cultivado por milhões de anos.
Preferências
ancestrais, como a preferência feminina por homens mais altos (sinal
de saúde e bons genes), ainda ditam nosso comportamento, mesmo que
pareçam contradizer a lógica moderna. A escolha de um empresário
poderoso, porém baixo, por mulheres altas, por exemplo, demonstra
que ele compensa a falta de altura com sua capacidade de provedor.
A
igualdade entre os sexos é uma quimera, pois os cérebros masculino
e feminino funcionam de modo diferente. Os homens tendem a ser
“sistematizadores” (resolvendo problemas), e as mulheres,
“comunicadoras” (avançando na linguagem). Estudos de ressonância
magnética mostram que o cérebro feminino tem mais áreas ativadas
pela emoção, o que explica por que elas se lembram de detalhes de
experiências passadas, enquanto eles não.
Outra
diferença acentuada nas mulheres é a ovulação oculta. Essa
característica ofereceu vantagens evolutivas: nos primórdios,
tornava difícil determinar a paternidade e protegia os filhotes de
machos rivais. Com a civilização, passou a manter os parceiros
interessados, já que a incerteza quanto à fecundidade os faz
“insistir no treino”. A biologia e a cultura se misturam: hoje,
as mulheres podem usar a ovulação oculta para ter aventuras
extraconjugais, e os homens, inconscientemente, se tornam mais
atenciosos com suas esposas nesse período.
Mulheres
casadas, em busca de material genético de qualidade, fantasiam com
outros homens ou “pulam a cerca”, mas, em geral, não buscam mais
parceiros do que eles. Estudos mostram que 10% das crianças não são
filhos biológicos do marido da mãe, e que os homens têm pelo menos
três vezes mais relações casuais do que as mulheres. Segundo David
Buss, evolucionista, o sexo casual feminino ainda é restrito aos
grandes centros.
A
voracidade sexual masculina, conhecida como “efeito Coolidge”,
reflete a meta biológica de fecundar o maior número de parceiras.
Os machos de muitas espécies, incluindo o homem da idade da pedra,
eram insaciáveis. O fato de os homens serem 15% maiores que as
fêmeas sugere que havia competição violenta entre eles. A amizade
com um rival também pode ser uma estratégia: machos menos vistosos
podem se aproveitar da amizade com o “macho alfa” para ter acesso
às fêmeas, assim como amigos podem trair uns aos outros para
conquistar a parceira do rival. Além disso, a evolução deu aos
homens a capacidade de se apaixonar rapidamente, e depois se
desinteressar, algo que as mulheres detestam.
A
psicologia evolutiva mostra que quando buscam uma parceira fixa, os
homens se tornam tão seletivos quanto as mulheres. Eles procuram
beleza e juventude, o que fica evidente em agências de
relacionamento, onde muitos quarentões buscam mulheres de 20 a 30
anos. O casamento também causa uma mudança biológica nos homens,
com a redução de testosterona, tornando-os mais pacatos e focados
na família.
A
busca por um parceiro segue um “darwinismo social”. Nas cidades
maiores, as mulheres valorizam a estabilidade financeira e
profissional, enquanto nas menores, buscam qualidades morais e
sentimentais. Apesar das diferenças, homens e mulheres compartilham
a maioria de seus “adornos sexuais” – o gosto pela arte,
linguagem e poder –, o que nos torna únicos. A pavoa não precisa
de uma cauda para admirar a do macho, mas os humanos precisam se
aprimorar na cultura para julgar os méritos uns dos outros. A
seleção sexual, o mais primitivo de nossos instintos, é o que nos
torna civilizados.
Baseado
Revista Veja – 23/07/2003
por
Isabela Boscov e Marcelo Marthe
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