A
terapia de vidas passadas foi utilizada inicialmente para descobrir,
por meio da hipnose, os possíveis traumas psíquicos sofridos no
passado, tanto na infância como em pressupostas vidas passadas. O
objetivo de tal terapia era levar o paciente a reviver esses traumas.
Devemos esclarecer que a psicoterapia clinica atual não aceita mais
esse método de trabalho. Essa é a razão pela qual a terapia de
vidas passadas está sendo rejeitada pelos representantes da
psicoterapia científica. As
afirmações são em grande parte apriorísticas, baseadas num tipo
de crença totalmente superficial em relação a fenômenos
claramente fora do quadro daquilo que podemos considerar verdadeiro.
São provas circulares que supõem aquilo que querer provar.
Os
adeptos da reencarnação, no entanto, insistem na eficiência de
seus métodos. Constatamos, além disso, que cada vez o grande
público está assimilando esse método como aquele que é, por
excelência, capaz de investigar e fazer descobertas sobre suas vidas
anteriores. A conseqüência de tudo isso é que hoje há milhares de
pessoas que se querem submeter a uma “regressão”, não por
razões terapêuticas, mas por curiosidade. Todos esses candidatos
querem no fundo confirmar por meio de suas experiências aquilo em
que já acreditam em maior ou menor escala: a reencarnação.
A
fé na doutrina age de modo como uma forte predisposição a receber
sugestões do terapeuta. Tais sugestões podem ser feitas por métodos
tanto hipnóticos como não-hipnóticos – o resultado é o mesmo. O
paciente deixa-se conduzir pelas orientações do terapeuta de tal
maneira que começa a fazer associações livres. Essas associações
são dirigidas cada vez mais na direção de uma regressão antes do
nascimento. Passo a passo, o terapeuta pede ou exige recordações
pré-natais, e o paciente, em estado de transe ou pré-transe,
deixa-se conduzir pelas sugestões e, de fato, chega a tais
recordações, descobrindo lembranças até então esquecidas, bem
como experiências feitas em outras vidas. Por meio dessas
associações finalmente o paciente descreve experiências vividas.
Com isso teríamos a prova da existência de vidas passadas e
conseqüentemente a prova de que a reencarnação existe. A terapia
de vidas passadas torna-se assim, para muitos, o argumento mais
convincente para provar a reencarnação.
O
pesquisador Ian Stevenson, adepto a priori da reencarnação,
reconhece, depois da análise minuciosa de muitos casos de regressão,
que a maioria das recordações apresentadas em tais processos não
são reais, mas produto da fantasia. As
recordações extraordinárias não passam do resultado da situação
específica vivenciada pela pessoa sob efeito de sugestão, o que faz
entrar em transe ou pré-transe. Por meio de técnicas específicas,
o terapeuta a conduz pelos caminhos da sugestão e do reforço
sugestivo. Ele determina as regras e dirige as associações,
exercendo um domínio que se torna tão mais decisivo quanto mais o
paciente se sentir inseguro. E, por se sentir inseguro, busca
segurança no terapeuta. A aceitação daquilo que lhe está sendo
sugerido não passa mais por um processo crítico de reflexão.
Trata-se muito mais da expressão de algo resultante de um laço
emocional dentro do qual o terapeuta é aceito como guru e mestre.
Quando
o paciente se sente seguro, entra numa espécie de conflito por não
ser sugestionado pelo terapeuta. Ainda que ele queira responder ao
que o mestre dele deseja, não pode, porque não há recordação
nenhuma de vida passada. O mestre, porém, insiste em que ele busque
tal recordação. È nessa situação que o paciente desenvolve
aquele tipo de atitude que na psicologia conhecemos sob o nome de
confabulação ou fabulação.
O
manual de psiquiatria de Antoine Porot define o termo fabulação da
seguinte maneira: Nome dado a fatos imaginários que se apresentam na
forma de relato mais ou menos coordenados em torno de um tema
principal, resultante de uma “compensação imaginativa” de
complexos de inferioridade ou fracassos afetivos, seguidos de
rejeição. Constrói-se um enredo que, mais tarde, conforme a
complexidade espiritual e as tendências da pessoa, pode produzir
estados delirantes ou imaginários.
Mediante
tal fabulação, o paciente, sob sugestão de que está regredindo a
vidas passadas, substitui a sua falta de experiência real de vidas
passadas pelo produto de sua imaginação. Faz parte do fenômeno da
fabulação que a pessoa que o produz comece a acreditar naquilo que
fantasiou, defendendo suas convicções de maneira tão convincente
que em outras situações chegam a levar a erros judiciários.
No
fundo, porém, é a correlação entre o paciente e o seu “terapeuta”
que determina a construção da fabulação. Baseada em alguns
elementos típicos da situação, o terapeuta induz o paciente a
fazer associações, sugerindo que tais elementos têm um significado
especial. O paciente aceita a sugestão, reforçada e recompensada
pelo terapeuta, de modo que se desenvolve todo um esquema de sugestão
e auto-sugestão capaz de convencer o paciente, o terapeuta e todos
os que acreditam na teoria a aceitá-la como verdade inquestionável.
Hansjörg
Hemminger, depois de analisar os mecanismos de transe e sugestão
aplicados nas terapias de regressão, assim como os seus resultados,
chega à seguinte conclusão sobre a veracidade dos relatos sobre
vidas passadas: Em geral faltam casos documentados de maneira
convincente. Muitos dos detalhes (em geral históricos) são
impressionantes e até coerentes, mas não é possível prová-los.
Muitos são claramente improváveis; outros, embora pareçam
prováveis, são falsos. O leitor e observador sem preconceitos
chegará à conclusão de que as supostas recordações de
reencarnações refletem em geral todo o imaginário que povoa a
mente do cidadão comum.
Wisendanger,
psicólogo que pesquisou de maneira profunda e científica a terapia
da reencarnação, resume a questão da seguinte maneira:
Disparidades e contradições evidentes, erros fáceis de serem
demonstrados representam a regra, e não a exceção, até mesmo em
regressões aparentemente bem-sucedidas. Ocorre que vários clientes
se vêem identificados com a mesma figura histórica; também ocorreu
de um regredido descobrir em sessões distintas várias vidas
distintas, vividas na mesma época; outras vezes ocorre de alguém
identificar o seu eu com uma pessoa ainda viva; são relatados fatos
sobre descobertas técnicas que ainda não existiam na época que o
acontecimento se situa.
Há pessoas regredidas que contradizem fatos
históricos conhecidos, mencionam lugares, países e pessoas
fictícias e produzem de maneira convincente dados históricos
falsos. Entre dúzias de volumosos relatos editados por terapeutas
reencarnacionistas há três décadas, não conheço nenhum que
admitiria tais problemas nem numa nota ao pé de página. Não
há dúvida de que, por meio das propaladas terapias de vidas
passadas, é também possível descobrir fatos verdadeiros sobre os
quais a pessoa hipnotizada não podia saber.
Harald
Wiesendanger menciona que numa regressão em vidas passadas com
centenas de crianças e adultos, 40% dessas, apresentavam lembranças
reencarnacionistas de vidas passadas. Pesquisando essas lembranças
de maneira crítica com a ajuda da hipnose, ele descobriu o seguinte:
Com habilidade, muitos dos “regredidos” tinham reunido fragmentos
de informações procedentes de livros, filmes e acontecimentos de
sua vida atual.
Baseado
no livro “A morte em questão” de Renold
J. Blank.
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