► ETIMOLOGIA DO CONCEITO DE FILOSOFIA
■ Segundo a tradição, o criador do termo “filo–sofia” foi Pitágoras, o que, embora não sendo historicamente seguro, no entanto é verossímil. O termo certamente foi cunhado por um espírito religioso, que pressupunha só ser possível aos deuses uma Sofia (“sabedoria”), ou seja, uma posse certa e total do verdadeiro, uma contínua aproximação ao verdadeiro, um amor ao saber nunca saciado totalmente, de onde, justamente, o nome “filo–sofia”, ou seja, “amor pela sabedoria”.
■ Desde o seu nascimento, a filosofia apresentou de modo bem claro três conotações, respectivamente relativas a 1) o seu CONTEÚDO, 2) o seu MÉTODO e 3) o seu OBJETIVO.
■ Philos = amigo, amor:
■ Sofhia = sabedoria.
■ Daí = “amor à sabedoria”. Aproximação ao verdadeiro.
■ Filosofar = desejo de buscar a verdade.
■ Logos = Razão para os gregos.
■ Homo sapiens – latim = “homem sábio”
■ Ente (corpo) → Ser
■ conteúdo → método → objetivo
■ Conteúdo: Princípio de todas as coisas; toda a realidade, sem exclusão de partes ou momentos dela.
■ Método: Explicação puramente racional daquela totalidade; ir além do fato e além das experiências, para encontrar a causa ou as causas precisamente através da razão.
■ Objetivo: Puro desejo de conhecer a verdade; amor desinteressado pela verdade; fim em si mesma.
► O QUE PERGUNTAVAM OS PRIMEIROS FILÓSOFOS
■ Por que os seres nascem e morrem? Por que os semelhantes dão origem aos semelhantes, de uma árvore nasce outra árvore, de um cão nasce outro cão, de uma mulher nasce uma criança? Por que os diferentes também parecem fazer surgir os diferentes: o dia parece fazer nascer a noite, o inverno parece fazer surgir a primavera, um objeto escuro clareia com o passar do tempo, um objeto claro escurece com o passar do tempo?
■ Por que tudo muda? A criança se torna adulta, amadurece, envelhece e desaparece. A paisagem, cheia de flores na primavera, vai perdendo o verde e as cores no outono, até ressecar–se e retorcer–se no inverno. Por que um dia luminoso e ensolarado, de céu azul e brisa suave, repentinamente, se torna sombrio, coberto de nuvens, varrido por ventos furiosos, tomado pela tempestade, pelos raios e trovões?
■ Por que o que parecia uno se multiplica em tantos outros? De uma só árvore, quantas flores e quantos frutos nascem! De uma só gata, quantos gatinhos nascem!
■ Por que as coisas se tornam opostas ao que eram? A água do copo, tão transparente e de boa temperatura, torna–se uma barra dura e gelada, deixa de ser líquida e transparente para tornar–se sólida e acinzentada. O dia, que começa frio e gelado, pouco a pouco, se torna quente e cheio de calor.
■ Por que nada permanece idêntico a si mesmo? De onde vêm os seres? Para onde vão, quando desaparecem? Por que se transformam? Por que se diferenciam uns dos outros? Por que tudo parece repetir–se?
► OS POEMAS HOMÉRICOS E OS POETAS GNÔMICOS
■ Os poemas de Homero, Ilíada e Odisséia, foram fatos percussores, para surgimento da filosofia. Antes do nascimento da filosofia os educadores dos gregos foram os poetas, principalmente Homero. Nos poemas homéricos, estes buscaram alimento espiritual e extraíram “modelos de vida, matéria de reflexão, estímulo à fantasia e, portanto todos os elementos essenciais à própria educação e formação espiritual”.
■ Para os gregos, também foi muito importante Hesíodo com sua Teogonia, que traça uma síntese de todo o material até então existente sobre o tema. A Teogonia de Hesíodo narra o nascimento de todos os deuses. E, como muitos deuses coincidem com partes do universo e com fenômenos do cosmos, a teogonia torna–se também cosmogonia, ou seja, explicação mítico–poética e fantástica da gênese do universo e dos fenômenos cósmicos, a partir do Caos original, que foi o primeiro a se gerar.
■ O mesmo Hesíodo, com seu outro poema “As obras e os dias”, mas, sobretudo os poetas posteriores, imprimiram na mentalidade grega alguns princípios que seriam de grande importância para a constituição da ética filosófica e do pensamento filosófico antigo em geral.
► COSMOGONIA E TEOGONIA
■ Os mitos sobre a origem do mundo são genealogias, diz–se que são cosmogonias e theogonias. Os mitos narram a origem das coisas por meio de lutas, alianças e relações entre forças sobrenaturais que governam o mundo e o destino dos homens.
■ A palavra gonia vem de duas palavras gregas: do verbo gennao (engendrar, gerar, fazer nascer e crescer) e do substantivo genos (nascimento, gênese, descendência, gênero, espécie). Gonia, portanto, quer dizer: geração, nascimento a partir da concepção sexual e do parto. Cosmos, como já vimos, quer dizer mundo ordenado e organizado.
■ Cosmogonia é a narrativa sobre o nascimento e a organização do mundo, a partir de forças geradoras (pai e mãe) divinas.
■ Teogonia é uma palavra composta de gonia e theós, que, em grego, significa: as coisas divinas, os seres divinos, os deuses. A teogonia é, portanto, a narrativa da origem dos deuses, a partir de seus pais e antepassados.
► CONDIÇÕES QUE FAVORECERAM O SURGIMENTO DA FILOSOFIA
■ AS VIAGENS MARÍTIMAS, que permitiram aos gregos descobrir que os locais que os mitos diziam habitados por deuses, titãs e heróis eram, na verdade, habitados por outros seres humanos; e que as regiões dos mares que os mitos diziam habitados por monstros e seres fabulosos não possuíam nem monstros nem seres fabulosos. As viagens produziram o desencantamento ou a desmistificação do mundo, que passou, assim, a exigir uma explicação sobre sua origem, explicação que o mito já não podia oferecer;
■ A INVENÇÃO DO CALENDÁRIO, que é uma forma de calcular o tempo segundo as estações do ano, as horas do dia, os fatos importantes que se repetem, revelando, com isso, uma capacidade de abstração nova, ou uma percepção do tempo como algo natural e não como um poder divino incompreensível;
■ A INVENÇÃO DA MOEDA, que permitiu uma forma de troca que não se realiza através das coisas concretas ou dos objetos concretos trocados por semelhança, mas uma troca abstrata, uma troca feita pelo cálculo do valor semelhante das coisas diferentes, revelando, portanto, uma nova capacidade de abstração e de generalização;
■ O SURGIMENTO DA VIDA URBANA, com predomínio do comércio e do artesanato, dando desenvolvimento a técnicas de fabricação e de troca, e diminuindo o prestígio das famílias da aristocracia proprietária de terras, por quem e para quem os mitos foram criados; além disso, o surgimento de uma classe de comerciantes ricos, que precisava encontrar pontos de poder e de prestígio para suplantar o velho poderio da aristocracia de terras e de sangue (as linhagens constituídas pelas famílias), fez com que se procurasse o prestígio pelo patrocínio e estímulo às artes, às técnicas e aos conhecimentos, favorecendo um ambiente onde a Filosofia poderia surgir;
■ A INVENÇÃO DA ESCRITA ALFABÉTICA, que, como a do calendário e a da moeda, revela o crescimento da capacidade de abstração e de generalização, uma vez que a escrita alfabética ou fonética, diferentemente de outras escritas – como, por exemplo, os hieróglifos dos egípcios ou os ideogramas dos chineses –, supõe que não se represente uma imagem da coisa que está sendo dita, mas a idéia dela, o que dela se pensa e se transcreve.
• ABSTRAÇÃO: Nas escritas não alfabéticas, cada sinal corresponde uma coisa ou idéia; na escrita alfabética ou fonética, as letras são independentes e podem ser combinadas de formas variadas em palavras, e estas podem ser distribuídas de formas variadas para exprimir idéias. Ou seja, nas outras escritas, o signo representa a coisa assinalada; na escrita alfabética, a palavra designa uma coisa e exprime uma idéia.
• SACRALIZAÇÃO: Nas outras escritas, há tendência de sacralizar os sinais ou os signos ou de lhes dar caráter mágico (forças divinas e demoníacas), enquanto a escrita alfabética é inteiramente leiga, abstrata, racional e usada por todos.
■ A INVENÇÃO DA POLÍTICA
• A idéia da lei como expressão da vontade de uma coletividade humana que decide por si mesma o que é melhor para si e como ela definirá suas relações internas. O aspecto legislado e regulado da cidade – da polis – servirá de modelo para a Filosofia propor o aspecto legislado, regulado e ordenado do mundo como um mundo racional.
• O surgimento de um espaço público, que faz aparecer um novo tipo de palavra ou de discurso, diferente daquele que era proferido pelo mito. Neste, um poeta vidente, que recebia das deusas ligadas à memória (a deusa Mnemosyne, mãe das Musas, que guiavam o poeta) uma iluminação misteriosa ou uma revelação sobrenatural, dizia aos homens quais eram as decisões dos deuses que eles deveriam obedecer.
• A política estimula um pensamento e um discurso que não procuram ser formulados por seitas secretas dos iniciados em mistérios sagrados, mas que procuram, ao contrário, ser públicos, ensinados, transmitidos, comunicados e discutidos. A idéia de um pensamento que todos podem compreender e discutir, que todos podem comunicar e transmitir, é fundamental para a Filosofia.
► ATITUDES QUE NOS LEVAM AO FILOSOFAR
■ ADMIRAÇÃO: é quando estamos diante de uma situação diferente, inesperada, temos uma atitude de admiração e esta atitude é o ponto de partida para o ato de filosofar, pois nos leva a descoberta de nossa própria ignorância e aos questionamentos.
■ DÚVIDA: a dúvida é companheira dos homens em momentos cruciais de sua existência e para a Filosofia é o ponto de partida para uma reflexão profunda, tentando chegar às raízes dos problemas.
■ INSATISFAÇÃO MORAL: é a insatisfação das pessoas com os costumes e/ou atitudes (regras de convivência, leis, formas de governo, evolução da ciência, etc.) que as cercam também levam ao filosofar.
► PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA FILOSOFIA NASCENTE
■ TENDÊNCIA À RACIONALIDADE, isto é, a razão e somente a razão, com seus princípios e regras, é o critério da explicação de alguma coisa. Capacidade de pensar;
• Tendência à racionalidade, pois os gregos foram os primeiros a definir o ser humano como ser racional, a considerar que o pensamento e a linguagem definem a razão, que o homem é um ser dotado de razão e que a racionalidade é seu traço distintivo em relação a todos os outros seres.
■ RECUSA DE EXPLICAÇÕES Pré estabelecidas e, portanto, exigência de que, para cada problema, seja investigada e encontrada a solução própria exigida por ele;
■ TENDÊNCIA À ARGUMENTAÇÃO, isto é, colocado um problema, sua solução é submetida à análise, à crítica, à discussão e à demonstração, nunca sendo aceita como uma verdade, se não for provado racionalmente que é verdadeira.
■ CAPACIDADE DE DIFERENCIAÇÃO, isto é, mostra que fatos ou coisas que aparecem como iguais ou semelhantes são, na verdade, diferentes, quando examinados pelo pensamento ou pela razão. Essa capacidade racional para compreender diferenças onde parece haver identidade ou semelhança é a análise.
• ANÁLISE: Ação de separação/desligamento do todo em partes.
■ TENDÊNCIA À GENERALIZAÇÃO, isto é, mostrar que uma explicação tem validade para muitas coisas diferentes porque, sob a variação percebida pelos órgãos de nossos sentidos, o pensamento descobre semelhanças e identidades, realizando a síntese.
• SÍNTESE: Reunião ou fusão de várias coisas numa união íntima para formar um todo.
► INTRODUÇÃO AO PENSAR
■ Quem quer pensar deve aprender. Só o ser humano aprende a pensar, e por estar na proeza do pensamento, ele mesmo se define animal que pensa.
■ O pensamento que filosofa ensaia uma aprendizagem de pensar. Pensar é filosofar! Filosofar não é ficar na superfície, mas fazer do pensamento, caminho que vá à raiz do mundo e sinta nessa proximidade o enigmático que ainda não aprendeu a pensar.
■ O estudo da Filosofia pode nos proporcionar condições seguras para, de modo racional, fazermos uma crítica a uma determinada realidade, sistema, objeto ou situação. É aí que reside a atitude do ser humano de senso crítico, aquele que faz uso da razão, isto é, procura descobrir o que está escondido pelas aparências do cotidiano.
■ Busca o saber do conjunto. Trabalho de abstração (separar e isolar as partes essenciais) e análise (compor o todo em suas partes). Procedimento racional, no qual se procura alcançar a “essência” de determinado fenômeno.
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