1 de dezembro de 2008

Um "ser" temido e idolatrado

Contam que o primeiro “deus” adorado foi o sol. O sol era considerado o deus que combatia a escuridão, a força do mal, o inimigo do homem. Contam que todas religiões começaram como cultos de pequena escala, normalmente com um líder carismático. Contam que esse líder, como não possuía explicações para tudo, procurou convencer seus adeptos, com explicações emanadas de um “ser” sobre o qual estes não poderiam fazer objeções. Um “ser” invisível. Um “ser” responsável pela criação de todas as coisas que existem na natureza. Um “ser” que criou tudo e não foi criado. Um “ser” que fosse temido e idolatrado por todos.

Contam que esse líder, querendo que esse “ser” ficasse impregnado nas mentes das pessoas, inclusive nas mentes das gerações futuras, procurou convencer seus adeptos com ameaças - com a idéia de um “ser” que está observando a todos, a toda hora, e irá punir as pessoas que desobedecerem a seus mandamentos com as mais terríveis punições - queimando para sempre no inferno. Ameaças que não podiam ser testadas porque esse “ser” e o inferno são invisíveis, e o medo é inoculado desde o começo da infância.

Contam que os primeiros “seres” foram fabricados sob numerosos modelos, e de acordo com as mais grotescas formas. A maioria desses “seres” era vingativos, selvagens e ignorantes. Esses “seres” não sabiam sequer a forma do mundo que eles mesmos criaram, pois supunham que era perfeitamente plano. Nenhum desses “seres” conseguia contar uma história verdadeira sobre a criação desta pequena terra. Agora cada um desses “seres” tinha seus líderes e uma multidão de adeptos.

Contam que com o passar dos tempos alguns líderes descobriram que, quanto mais adeptos tinham, mais poder detinham. Mais poder, mais riqueza. Mais riqueza, mais poder. Em busca de mais adeptos e poder, iniciaram guerras com líderes de outros “seres”. Cada líder dizia que seu “ser” era o verdadeiro. A seguir, alguns líderes, revoltados, para angariar mais adeptos, se uniram e criaram um “ser” que deveria ter a sua imagem e semelhança. Um “ser” do bem, que deveria ter ao mesmo tempo a imagem e semelhança de todas a raças. Um “ser” supremo, absoluto, misterioso, eterno, perfeito, onipotente e onisciente. A esse “ser” deram o nome de Deus.

Agora não existia mais deuses e sim um único deus com vários nomes. Agora, cada nação dava um nome a seu deus. Criaram, também, um “ser” do mal, que deveria ser o responsável por tudo que de mal ocorria na natureza. A esse “ser” deram o nome de Diabo. As catástrofes e infortúnios podiam ser provocados por Deus ou pelo Diabo. Quando provocados pelo Diabo era porque as pessoas estavam afastadas de Deus. Quando provocados por Deus era para expressar o seu poder.

Contam que alguns líderes, para angariar adeptos das classes sociais mais numerosas, disseram que Deus amava os pobres, os que têm fome e os que sofrem. Com isso conseguiram espalhar adeptos por todo o mundo. Viram que esses adeptos eram capazes de matar e morrer por esse deus. Agora detinham o corpo das pessoas e o poder supremo do Estado. Agora detinham a maioria das nações.

Contam que para angariar adeptos de todas as classes sociais, para dominar a mente das pessoas, disseram que elas tinham um “corpo espiritual”. E com grande imaginação criaram a “alma”. Conceberam a idéia de que era eterna, que saía das mãos de Deus, e às suas mãos regressava depois da morte.

Agora ninguém mais morria, apenas o corpo. Outros líderes, com não menos fantasia, imaginaram que se reencarnava, que a alma vivia encarnações sucessivas, usando corpos distintos até chegar a uma vida perfeita e já livre de reencarnações. Com isso conseguiam dar explicações para infortúnios, crueldades, justiças e injustiças, e até para defeitos físicos congênitos.

Era a lei do karma (olho por olho dente por dente). Teriam que ser “bons” para que a alma se aperfeiçoasse e chegasse finalmente a Deus, ou para interromper o ciclo de reencarnações. Quem fizesse alguma malvadeza na vida passada, no corpo de outra pessoa, deveria pagar, no corpo atual, na mesma moeda, salvo se fosse bom e se arrependesse, seguindo as determinações de seus líderes. Por outro lado, quem fizesse alguma malvadeza no corpo atual, deveria pagar, na vida futura, no corpo de outra pessoa, na mesma moeda, salvo se fosse bom e se arrependesse, seguindo as determinações dos futuros líderes.

Agora, eram porta-vozes e intérpretes dos adeptos mortos. Agora eram os administradores de consciências, de crenças e de almas. Eram eles que formavam conceitos de bem e de mal, eram eles que impunham idéias nos seus adeptos. Agora tudo tinha explicação. Para que se preocupar? Alguém nasce defeituoso? Deus assim quis/Era seu karma. É um malfeitor? Deus é quem sabe/Era seu karma. Morreu jovem? Chegou sua hora/Deus o chamou/Era o seu karma.

Com isso, a magia continuava. Agora existia o prêmio da vida eterna. Com isso, adeptos não mais se afastavam de seus líderes e de seu Deus. Com isso, conseguiram espalhar adeptos por todas as camadas sociais. Viram que esses adeptos eram capazes de expiar e morrer por esse deus. Agora detinham a mente das pessoas. Agora detinham o “espírito” da maioria das nações.

Contam que para que esses adeptos não se afastassem desse deus, disseram que “Deus é Verdade” e que “Deus é Amor”. Agora Deus, Amor e Verdade eram sinônimos. Agora quem se afastasse desse deus estaria se afastando da verdade e do amor. Contam que para que esse deus não fosse contestado e debatido, disseram que os adeptos tinham que acreditar Nele sem vê-Lo, sem ouvi-Lo e sem tocá-Lo. Acreditar sem questionar. E criaram a “fé”. Agora rejeitar a fé significa rejeitar a verdade; converter outros significa dar a eles o presente da fé verdadeira. Agora ele puniria quem falasse em seu “santo nome em vão”.

De que adiantou tudo isso. De que adiantou esse deus único. De que adiantou Deus ser Amor e Verdade. Para os homens a verdade continua a ser relativa e o amor continua a ser uma paixão. Eles continuam construindo suas crenças horríveis e enchendo o mundo de ódio, guerras e morte.

Continuam com suas rezas, seus suspiros, suas culpas, suas lamentações. Talvez esse deus os perdoe. Talvez não. Talvez sinta orgulho e alegria em vê-los brigando em seu nome. Talvez sinta vergonha e tristeza. Talvez sejam maus. Talvez, apesar de ser “pai”, não possa fazer nada por seus “filhos”. Talvez, agora, não seja mais Amor e Verdade. Talvez seja Ódio e Poder. Talvez não seja nada disso...

Fonte:
De Volta ao Jardim do Éden
http://www.corifeu.com.br/index.asp?secao=23&categoria=40&subcategoria=0&id=37

Um comentário:

Anônimo disse...

MEU DEUS!!!!