28 de outubro de 2010

Crueldade humana (e com os animais)

Assistimos hoje em dia maldade em todo o planeta. Muitos tentam entender o fenômeno e se perguntam: De onde vem tanta maldade? E a violência imposta aos animais? Como entendê-la?
Desde os primórdios da inteligência, os seres humanos começaram os seus anseios de respostas para a maldade.
“O homem é bom por natureza, é sociedade que o corrompe”, dizia Rousseau.
“O homem é mau por natureza, e a sociedade é quem o disciplina”, dizia Hobbes.
“O homem não é bom nem mau, simplesmente é homem”, dirão uns.
“O homem é a imagem e semelhança do Senhor, então ele é bom”, dirão outros.
Mas, qual será a estrutura de atrocidade e maquiavelice que permeia a vida neste planeta? Qual será o grau de crueldade intrinsecamente ligado ao dia-a-dia da vida de todas as espécies que habitam neste planeta?
As religiões foram e são uma invenção dos humanos para ver o mundo “cor-de-rosa”, de forma a verem um deus de bondade e amor, escondendo o viés do mal existente em cada um de nós, a exemplo da nossa indiferença com os nossos próprios pares que estão na miséria absoluta (em fétidas cadeias, nas favelas ou mesmos pelas ruas padecendo de todo o tipo de privação) ou com as brutalidades que cometemos diariamente com indefesos animais. Ficamos nos perguntando como alguns de nós, seres humanos, que participamos de forma direta ou indireta das crueldades e maquiavelismos, acreditamos ter sido criados à imagem e semelhança de um Ser Superior, de amor e bondade.
Em Santo Agostinho que “o amor humano é extremamente egoísta, chega mesmo a renegar Deus por amor a si próprio”.
Em Gênesis: “porei inimizade entre ti e a mulher e entre a tua posteridade e a posteridade dela. Ela te pisará a cabeça e tu armarás traições ao seu calcanhar”.
Em Eclesiástico: “há amigos em certas horas que deixarão de o ser no dia de tua aflição; há amigo que se torna inimigo; há amigos que deixarão de o ser no dia de tua desgraça”.
Teólogos afirmam que o que chamamos mal é para nosso próprio benefício, que nós fomos colocados neste mundo de tristezas e pecado para desenvolver o caráter.
Já os Espíritas, dizem que vivemos num mundo de expiações e de provas, onde a maioria dos seus habitantes são espíritos atrasados, orgulhosos e egoístas.
Por isso, em toda a parte o forte vivendo do fraco, o superior do inferior. Por isso, em todo lugar, assassinatos, dor, doenças e morte. Morte que leva a mãe da criança desamparada; morte que enche o mundo com tristeza e lágrimas. Precisamos de tudo isso para desenvolver o caráter? Para expiar?
Se Deus é amor, bondade, por que o sofrimento, as guerras e a violência? Por que os criminosos, os deformados e os idiotas? Como compreender? Qual o significado? Quem pode responder? As respostas oferecidas pelas doutrinas religiosas são sempre afirmações emanadas pela fé, sempre apontando para o dissimulado, o enigmático, o incognoscível.
Se as religiões são uma invenção dos humanos, criadores de mitos, o livre-arbítrio foi uma de suas maiores criações - para tirar a culpa do Criador. O livre-arbítrio foi criado para fechar algumas lacunas, de não conseguir explicar a existência do mal sobrepujando o bem com notável frequência, apesar de Deus ser um Pai onipotente e bondoso.
Com isso, Deus passou a não ser mais responsável pelas maldades, bestialidades, tragédias e desgraças existentes no mundo. A culpa passou a ser do homem que usa seu livre‑arbítrio. Com isso, tudo passou a ter explicações: Homicídios, maldade, agonia, doenças, bestialidades, morte prematura, escravidão, dementes e deformados. Ou é culpa do karma ou do livre-arbítrio ou de ambos. Até o ingresso do Diabo no corpo ou alma (possessão) passou a ser culpa do livre arbítrio.
Os criadores de mitos também disseram que nós (humanos) somos criaturas divinas, criados a imagem e semelhança do criador; que somos os mais evoluídos, mais inteligentes, que não reencarnamos num animal por este ser menos evoluído. Quanto disparate. Quem disse que somos mais evoluídos? o Criador? Nós, seres humanos, que matamos por prazer, por maldade (por livre-arbítrio)? Se os seres humanos têm direitos, os animais também. A Declaração Universal dos Direitos dos Animais diz:
Todos os animais têm o mesmo direito à vida.    
Todos os animais têm direito ao respeito e à proteção do homem.
Nenhum animal deve ser maltratado.    
Todos os animais selvagens têm o direito de viver livres no seu habitat.  
O animal que o homem escolher para companheiro não deve ser nunca ser abandonado.    
Nenhum animal deve ser usado em experiências que lhe causem dor. 
Todo ato que põe em risco a vida de um animal é um crime contra a vida.    
A poluição e a destruição do meio ambiente são considerados crimes contra os animais.    
O homem deve ser educado desde a infância para observar, respeitar e compreender os animais.
O cão (muitas vezes utilizado como sinônimo de cafajeste, canalha, patife) é o único amigo absolutamente altruísta que existe neste mundo egoísta. O único que nunca lhe abandona, que nunca se prova ingrato ou falso. O único permanece a seu lado na prosperidade e na pobreza, na saúde e na doença. E, quando chega a última de todas as cenas, e o fim leva o dono em seu abraço, e todo o seu corpo está deitado no chão frio, não interessa se os outros amigos seguem o seu caminho. Ali, ao lado do túmulo, o nobre cão será encontrado com a cabeça entre as patas, os olhos tristes mas abertos, em completo alerta, fiel e verdadeiro até mesmo na morte...
Lembre-se, na próxima reencarnação não se zangue se você vier no corpo de um cão.  

Vegetarianismo e seus adeptos

Vem crescendo cada vez mais o número de adeptos da dieta vegetariana, que consiste em alimentar-se preferencialmente de vegetais. As correntes do vegetarianismo se dividem em, basicamente, duas:
Aqueles que não comem nenhum tipo de carne, mas consomem leite, ovos e seus derivados.
E os que não admitem o consumo de qualquer produto obtido por meio de sofrimento ou exploração animal (inclusive ovos, leite e mel). Esses são conhecidos como vegans.
Há ainda os que se dizem vegetarianos mas consomem carne de peixes, ou de aves, excluindo apenas a carne vermelha.
Os vegetarianos que se preocupam com os direitos dos animais não restringem sua postura apenas ao hábito alimentar, eles vão bem mais além: Se recusam a usar produtos que são feitos com pele de animais, como as roupas de couro, e fazem boicote às empresas que testam seus produtos em animais. Os vegans, geralmente, adotam essa postura.
Porém, os vegetarianos, de um modo geral, se esquecem que para comerem vegetais, alguém tem que matar as plantas, e isso também seria uma violência. É certo que as plantas são tão vivas como os animais. Alguns dizem que as plantas têm sentimentos. Outros acreditam, inclusive, que elas têm alma. Assim, para os vegetarianos, matar um animal para comer, não pode, mas matar uma planta, pode. Vegetais e animais são diferentes apenas no grau de manifestação da vida. O Prof. J. C. Bose, da Índia, provou que os vegetais têm um sistema nervoso que responde a um estimulo favorável através do prazer, e a uma influência desfavorável através da dor. Eles têm batimento cardíaco, sistema circulatório, pressão da seiva e uma vida central, em certas células das raízes - o cérebro dos vegetais. Ampute um dedo seu e você não morrerá, corte um galho e a planta não morrerá, mas remova o cérebro humano e o corpo que o continha morrerá, exatamente como ocorre quando se corta a raiz de uma planta: ela morre.
Assim como os animais respondem a certos tratadores, os vegetais crescem em abundância sob certas vibrações humanas benignas, e definham ou crescem pouco quando cultivados por pessoas com vibrações erradas. Pode‑se anestesiar uma planta, fazer com que sinta prazer ou dor, ou até envenená-la e matá-la. Matar um vegetal é o mesmo que matar um animal?
Instrumentos de precisão desenvolvidos pelo Prof. J. C. Bose nos mostram a dor e a agonia da morte em plantas torturadas ou moribundas. A couve-flor abatida só pode expressar sua agonia pré-morte através dos instrumentos do Prof. J. C. Bose. O homem se aproveita do fato de que ele não entende a linguagem dos vegetais e os mata contra a vontade deles.
Pense bem: As plantas podem ser abatidas (mortas), para satisfazer a nossa alimentação, só porque não podem expressar seu sofrimento? Por acharmos que nas escala evolutiva são inferiores?
A maior parte dos consumidores de carne bovina desistiriam de comer carne se tivessem que matar os animais para obtê-la. Mas nenhum vegetariano se importaria em descascar os vegetais e cortar as cabeças das cenouras ou de qualquer outro vegetal. Os vegetais não gritam de dor nem derramam sangue quando são mortos. Como os gemidos e sofrimentos das plantas estão fora do nosso alcance sensorial, pretensiosamente achamos que elas nada sentem quando são devoradas. Como se diz: o que os olhos não veem o coração não sente. Do ponto de vista da sensibilidade humana, podemos dizer que é menos dolorido matar um vegetal do que um animal. No entanto, “almas adiantadas” hesitam até em remover as cabeças das rosas de seus corpos vegetais que florescem em jardins domésticos.
Do ponto de vista civilizado, a preocupação em escolher uma alimentação não é como evitar a mortandade de animais ou vegetais, uma alternativa impossível, mas adotar uma alimentação equilibrada, de frutas, cereais, vegetais, carnes, leite e derivados. Ou seja, buscar o Caminho do Meio.
Nesse sentido, o Budismo é mais evoluído. Ele ensina que uma alimentação vegetariana proporciona condições melhores para uma prática meditativa e para uma vida emocional mais estável. Mas isso não é uma regra. O vegetarianismo não torna ninguém melhor. Existem muitos vegetarianos que são insensíveis e muitos carnívoros que são compassivos. O importante é que cada um coma aquilo que precise e dignifique aquilo que está comendo. Que dignifique aquela vida que está nos dando o sustento e o sacrifício que foi feito, mesmo por uma cenoura, com ações virtuosas na vida.
LEMBRE-SE:
Haverá um tempo em que o homem não precisará mais se alimentar de animais ou de vegetais.
Assim como temos animais de estimação e animais para alimentação, temos também plantas de estimação e plantas para alimentação.
Experiências mostram que as plantas reagem como seres humanos, possuindo emoções e mostrando alegria, medo, angústia, depressão.
A verdade é que as plantas reagem a pensamentos sobre o bem-estar delas, sofrem com a morte de formas de vida e simpatizam com seres humanos que as cultivam e são capazes de comunicar-se sensorialmente com estes, a centenas de quilômetros de distância.
Não destruas nenhum ser vivo (seja animal ou vegetal). Já que não te foi dado o poder de criar, não te é dado o direito de destruir.
Quando o homem aprender a respeitar até o menor ser da criação, seja animal ou vegetal, ninguém precisará ensiná-lo a amar seu semelhante.
Maltratar animais (e plantas) é demonstrar covardia e ignorância.

21 de outubro de 2010

Zen-budismo

Em recente entrevista com o Monge ordenado no Budismo Zen, Jorge Mello, natural de Itaqui/RS, ao Blog do Alfaro, pudemos conhecer mais de perto o autêntico Budismo (563-483 a.C), ou pelo menos aquele que não se deixou contagiar por influência de ideias e doutrinas ocidentais, não tradicionais, como o Espiritismo e a Sociedade Teosófica, que causaram uma série de deformações e alterações doutrinárias de caráter bastante grave nas filosofias orientais, a partir da metade final do século XIX. Para o Budismo não corrompido - pelas falsas ideias “espiritualistas”, você só vai nascer biologicamente UMA VEZ. Ou seja, você só vai ter um nascimento biológico (com gestação, parto, infância, adolescência, maturidade, velhice e morte). O Budismo não aceita reencarnação, espíritos, Ser Superior, pois essas são ideias que não tem nada a ver com tradições autênticas da Antiguidade.
NA PALESTRA DO MONGE BUDISTA TIVEMOS CONHECIMENTO QUE:
Não há distinção entre a divindade (Buda) e a humanidade (mortais comuns). Em nenhum sentido o Buda é tido como um ser superior, supremo ou transcendental.
É a filosofia do “conhecer a si próprio com profundidade e propriedade”. “Iluminar” é uma metáfora para “compreender” a vida.
Na prática, significa reconhecer a essência da vida para remover a escuridão e a ilusão ali instaladas por especulações promovidas por práticas religiosas que deram outro sentido à vida que não o original.
Promover mudanças em si mesmo e, consequentemente, nas suas próprias atitudes, a partir do entendimento do mecanismo de funcionamento da vida.
Eu sou o meu próprio ambiente. O meu ambiente é a manifestação da minha vida. Este é um dos princípios fundamentais do budismo: o meio ambiente em que vivemos é exatamente o reflexo da nossa vida, e efeito de causas feitas no passado.
Buda ensinou que tudo é vazio de auto natureza, que a vida é insatisfatória, que o sofrimento vêm através do desejo ou da afeição, e que a suspensão do desejo leva à libertação do sofrimento.
No budismo não existe um ente superior ou inferior ao qual as pessoas devem obediência. Há uma lei natural ou uma lei universal natural, única para tudo e todos.
AS QUATRO VERDADES NOBRES
Toda a vida é sofrimento;
A origem do sofrimento são desejo egoísta e os apegos de qualquer tipo;
A extinção do sofrimento é obtida pela cessação dos desejos egoístas e dos apegos;
O caminho que conduz à libertação do sofrimento é o Nobre Caminho Ócuplo.
NAS PALAVRAS DE JORGE MELLO:
“Se nós considerarmos como religião, algo que constitui-se no intermediário entre o ser humano e o transcendente, ai o Budismo deixa de ser uma religião, porque ao contrário de outras tradições espirituais o Budismo não se baseia numa revelação, e sim, na experiência de cada praticante. O Budismo incorpora a cultura de cada região.”
“O budismo se baseia na sabedoria e na compaixão. O budismo tem um transmissão direta. Não há uma revelação. Uma coisa, um livro que se leia e as coisas acontecem. Não tem como base a reencarnação. É o contato direto. Aprende-se diretamente com o professor, que aprendeu com seu professor e assim sucessivamente, até o Buda histórico. A sabedoria em certo sentido é prejudicada pelo conhecimento. Pela nossa natureza humana, como ser humano, na medida que  sabemos mais, começamos a pensar que sabemos tudo. E isso é um grande obstáculo a verdadeira sabedoria. A sabedoria tem que ser pura.”
“O ser humano é por natureza imperfeito. É um vir a ser. Somos seres que se constroem nas relações. Desse modo, não há o fim na nossa jornada. A jornada é próprio momento presente. Isso foge do raciocínio de que as coisas tem uma causa e que dali surge um efeito. A visão budista concebe as coisas como um processo contínuo. Em que causas e condições geram efeitos que se tornam causas e condições de novos efeitos e assim por diante.”
“Conduta sexual inadequada é aquele que decorre da cultura que hoje é muito dominante, do descartável. A sexualidade correto é aquele que baseada na relação de afeto, ou se quiser, chamar de amor, um termo hoje tão desgastado, que assim seja. O outro é uma pessoa, a sexualidade não é exercida com um corpo e sim com uma pessoa.”
“Quando nos referimos ao Nirvana, ausência de ventos, a gente tende a comparar naquela cultura que nós fomos criados. Se nós fomos criados numa cultura judaico-cristão, então tem o paraíso. O lugar que não é aqui. Mas se não existe aqui, provavelmente não vá existir em lugar nenhum.”
“Nós vivemos hoje como seres humanos, de uma maneira geral, um crise sem precedentes de isolamento. A solidão em termos existenciais é muito produtiva. Já o isolamento como a pobreza é debilitante, eu não consigo estabelecer um vínculo, uma relação. Isso é desesperador. É desesperador para a estrutura do ego como tal e para a natureza humana que está muito além do ego.”
“Nós somos seres de relações. Nós nos construímos nas relações, nós nos nutrimos nas relações e nós geramos benefícios nas relações. A prova mais evidente disso é quando algo muito bom acontece. Esse algo muito bom quando acontece se torna muito melhor quando a gente partilha. Isso é a natureza essencial do ser humano. Quando partilhamos algo bom, o prazer aumenta.”
“Na pratica a gente sabe que uma alimentação vegetariana proporciona condições melhores para uma prática meditativa e para uma vida emocional mais estável. Mas isso não é uma regra. O vegetarianismo não torna ninguém melhor. Existem muitos vegetarianos que são insensíveis e muitos carnívoros que são compassivos. O importante é que cada um coma aquilo que precise e dignifique aquilo que está comendo. Que dignifique aquela vida que está nos dando o sustento e o sacrifício que foi feito, mesmo por uma cenoura, com ações virtuosas na vida.”
“Conforto é a parte da felicidade que nós podemos comprar. Mas, lamentavelmente, a partir de um determinado limite não tem mais como comprar, porque não tem mais como usufruir. Conforto se compra, felicidade se vivencia.”
“Felicidade é um estado subjacente que vai além da alegria e tristeza. É um estado da mente. Não tem como acumular felicidade.
“Sucesso é aquilo que eu obtenho e satisfaz os outros. Realização é aquilo que eu vivencio e que não tem nada a ver com a expectativa dos outros.”
“Se você é um budista, um muçulmano, um cristão, um judeu, um ateu, o ou que for, se preocupe mais em praticar o bem e não causar o mal, e ter uma mente pacífica. A forma é só uma forma. O mais importante é que sejamos seres humanos autênticos, inteiros e de relações positivos. O resto é apenas algo que facilita. São meios hábeis. O mais importante é que a vida tenha sentido.”