11 de dezembro de 2008

A face enigmática de deus

Digamos que você é eclético, democrata, progressista; que para você não existe um deus malfeitor (terremotos, guerras e karma), nem um deus beneficiador (saúde e recompensas). Que não lhe faz diferença se o correto é o monoteísmo (um só Deus) ou o politeísmo (vários deuses); que não lhe faz diferença se o correto é o monismo (substância única) ou o dualismo (duas substâncias); que não lhe faz diferença se o correto é a ressurreição (uma vida) ou a reencarnação (muitas vidas); que não lhe faz diferença se Jesus é o messias (Catolicismo) ou não (Judaísmo).

Digamos que para você o sofrimento, a doença, o acidente e a morte são coisas da natureza humana. Deus nada tem a ver com isso. Ele criou o mundo com suas leis, e não muda as coisas arbitrariamente, mas deixa a natureza seguir seu curso. Para você todos serão “salvos”, conforme o merecimento, independente do credo ou religião que pratique. Então para você existe uma lei natural que rege o Universo. Para você Deus criou o mundo, conforme sua convicção ou fé religiosa, já existindo antes deste, sem que ninguém O tenha criado. Criou leis naturais para o regerem e a partir daí, possibilitar transformações com base nas leis do evolucionismo.

Então você está mais preocupado em saber por que somos como somos. Se quisermos saber “por que somos como somos” e levar uma vida verdadeiramente moral, precisamos primeiro compreender que tipo de animal somos. Para esse questionamento nada melhor que o evolucionismo com suas novas teorias para nos dar as respostas exatas (o mundo com suas leis). A evolução é o princípio fundamental da vida no Universo. Nela reside à base do entendimento de tudo quanto se passa dentro e fora do alcance visual humano.

Não há explicação lógica nem racional para a existência quando a evolução não é devidamente considerada. A evolução faz-se sentir em tudo: na semente que brota para transformar-se numa flor; na árvore que se agiganta e frutifica na trajetória de um ciclo; no ser humano que penetra na escola analfabeto e dela sai cientista; no desenvolvimento das artes, das letras, das ciências, da música, das indústrias e das invenções.

Agora, com a teoria da evolução, tudo neste mundo faz algum sentido. Com Darwin e o neodarwinismo, você pode responder a perguntas como “Por que somos como somos?” Sem a teoria da evolução nada no mundo da mente faz algum sentido. Sem a evolução você pode apenas se sentar e apelar para um agente consciente imaginário.

Agora, não precisamos mais recorrer a poderes mágicos e misteriosos, a anjos e ETs, astrólogos e médiuns, fundamentalismos religiosos e filosofias alternativas, o novo paradigma darwinista, provê novas respostas para algumas perguntas importantes sobre a natureza humana.

Entretanto, muito embora já tenhamos abandonado o caráter antropomórfico de Deus, um “ser” criado pelos homens, conforme raça, cor e costumes, a sua “imagem e semelhança”, que está observando a todos, a toda hora, e irá punir as pessoas que desobedecerem seus mandamentos com as mais terríveis punições; Já estejamos convictos que não existe “alguém” e sim, pelo menos, “algo”. Algo (Deus!!!) que atualmente só é explicado pela “fé”, pelo “mistério” e pelo “incognoscível”, palavras de grande utilidade para os crentes, mas que simplesmente significam que pouco sabemos; já tenhamos perdido a ilusão de que um Deus é necessário para compreender o desígnio de nossas mentes;

Já podemos entender e compreender a necessidade das crenças, do amor ao próximo e da fraternidade, instintos básicos no homem para a perpetuação da espécie, pois são estes, entre outros, os principais mecanismos para fazer o controle de qualidade das pessoas, unindo nossos genes para que estes sigam pela eternidade afora. E isso tem um significado amplo: Perpetuar genes é ter filhos, é prepará-los para a vida, é vê-los crescer saudáveis e felizes, é cuidar e ajudar os parentes. É ter a esperança de ver nossos familiares e amigos continuarem sendo sempre aquele refúgio que recorremos nas horas difíceis; de ver o sol, a lua, o ar, a água e a terra; de ver a natureza preservada para as gerações futuras. Esta é a razão pela qual amamos a vida, amamos o sexo e amamos as crianças.

Por isso somos solidários. Por isso somos responsáveis pelos nossos atos e por como estes afetam aqueles próximos a nós - afetamos as prioridades dos outros quando julgamos as nossas mais importantes. Achar que podemos alcançar um nível de conhecimento absoluto é algo muito pretensioso. Por isso somos humildes - A vida nos “prega” a todo o momento uma nova “lição”.

Ainda temos muito que caminhar... Por isso precisamos da “fé” para continuarmos na caminhada em busca de nossos sonhos, nossas fantasias e de nossas crenças.

CRENÇAS, continuamos a depender delas. Somos seres emotivos, frágeis, insignificantes no plano cósmico. As crenças estruturam nossa visão de mundo e nos confere a diversidade cultural, a individualização ou a reação coletiva sobre certos assuntos. As crenças solucionam muitos dos nossos problemas “inexplicáveis”: através deste artifício atribuímos causas “corretas e sensatas” para as coisas, que nos agradam e nos trazem equilíbrio interior.

Se por um lado buscamos constantemente o conhecimento e a sabedoria, por sua vez os pobres de espírito (“ignorantes”) são mais felizes (“Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus”), pois aceitam sem questionar algo que um detentor do conhecimento poderia refutar, ficando assim sem uma explicação que lhe satisfaça.

Quando desconhecemos a profundidade de um argumento, damos preferência à exposição feita por alguém que venha a suprir nossa deficiência e nos ofereça uma explicação que nos livre da penosa tarefa de pensar. É mais freqüente que a confiança seja gerada pela ignorância do que pelo conhecimento. Felizmente em poucos anos as grandes religiões estarão - assim esperamos - humanas e sensíveis o suficiente para negar os dogmas que enchem anos sem fim com a dor e o sofrimento. Elas têm que saber que esses dogmas são inconsistentes com a sabedoria, com a justiça, com a bondade do seu Deus. O mero ceticismo também não basta. Ninguém pode ser inteiramente aberto a novas idéias ou completamente cético. Todos temos de traçar o limite em algum lugar. Daqui derivam atritos, exclusivismos, sectarismos nos quais se expressa, também neste campo, a lei da luta pela vida. Pela felicidade.

FELICIDADE, causa final, que todos buscamos, independente de nossas crenças ou descrenças. Busca infinda cheia de sombras e lágrimas. Somente alcançada a partir do momento em que conseguimos achar satisfação dentro de nós mesmos. A felicidade consiste em satisfazer-nos com o que temos e com o que não temos. Quando não conseguimos achá-la em nós, é inútil procurar em outra parte. Sempre que dependemos de coisas fora de nós para sermos felizes, estamos fadados à decepção.

A felicidade não é mais do que um estado de espírito e uma emoção criada por nós mesmos dentro da nossa mente. É um estado em que tudo parece se entrosar em perfeita harmonia e coordenação; em que tudo nos dá prazer; em que a paz interior reina acima de qualquer adversidade ou controvérsia; em que nos sentimos donos do nosso universo. É um estado de espírito onde a satisfação pessoal supera todo e qualquer sofrimento ou aflição - quando o que você pensa, fala e faz estão em harmonia. Quando essa felicidade vem acompanhada de atributos como caridade, generosidade, honestidade, humildade, justiça, tolerância e carinho, ocorre aquilo que chamamos AMOR.

Então, se Deus é Amor (“Deus é amor; e quem permanece em amor, permanece em Deus, e Deus nele”), Amor é Deus. Então, Deus é um estado de espírito criado por nós mesmos dentro da nossa mente, onde reina paz e harmonia; em que tudo nos dá prazer; em que somos instigados a praticar as mais nobres virtudes.

Há muitas verdades dentro de cada um de nós. Não creio que a minha verdade seja melhor ou pior que a sua. Ambos temos, pelo menos em certos pontos, total convicção do que achamos. E o grau de convicção que temos, mesmo que para conceitos opostos, é exatamente igual tanto para você como para mim. São nossas verdades. Nossa consciência.

CONSCIÊNCIA, lugar onde buscamos nossa verdade. Onde elaboramos nossos valores e mandamentos morais para aplicá-los nas diferentes situações; onde ocorre o livre‑arbítrio, julgamento secreto da “alma”, aprovando ou reprovando os nossos atos; onde está situado o “inferno” (tristeza e sofrimento) e o “céu” (alegria e regozijo).

Lugar onde é apreciado o delito e aplicada a sentença: absolvição (arrependimento) ou condenação (punição). Punição que será proporcional ao conhecimento ou grau de discernimento do infrator (“Daquele a quem muito é dado, muito se lhe requererá; e a quem muito é confiado, mais ainda se lhe pedirá”). Lugar onde mora Deus (“O reino de Deus está dentro de vós”). Lugar da VERDADE, onde é aplicada a JUSTIÇA de Deus.

Então, se Deus é Verdade (“Eu sou o caminho, e a verdade e a vida”) e Justiça (“Se sabeis que ele é justo, sabeis que todo aquele que pratica a justiça é nascido Dele”), Verdade e Justiça é Deus. Então, Deus é o lugar da mente (consciência) onde são elaborados os valores e mandamentos morais para aplicá-los nas diferentes situações e onde é apreciado o delito e aplicada a sentença.

Em resumo, podemos afirmar que Deus é um estado de espírito criado por nós mesmos dentro da nossa mente (consciência), onde reina paz e harmonia; em que tudo nos dá prazer; em que somos instigados a praticar as mais nobres virtudes; onde são elaborados os valores e mandamentos morais para aplicá-los nas diferentes situações e onde é apreciado o delito e aplicada a sentença. É um sentimento tão sublime que a humanidade o chama Deus! É algo para ser sentido, e não visto.

Então, se Deus é um sentimento, um estado de espírito criado por nós mesmos dentro de nossa mente, podemos afirmar que não existe verdade absoluta. Nós estabelecemos nossa própria verdade. Não há realidade objetiva. Tudo é subjetivo. Somos parte do universo que pretendemos decifrar; não somos independentes dele; o melhor que podemos fazer é construir histórias que façam sentido. A própria ciência é apenas outra percepção, outra alegoria, e não tem mais justificação do que qualquer um dos outros. Somos incapazes de adquirir o conhecimento da verdadeira natureza da realidade. É isso que determina a visão que cada um de nós tem do mundo - nossa verdade - sempre acreditamos naquilo que queremos acreditar.

Se um acontecimento parece real, para nós ele é real. Se uma concepção parece correta, para nós ela é correta. Não importa se as presunções são verdadeiras ou não, basta que elas façam sentido para nós.

Se o mundo é injusto, desigual e caótico, preferimos aceitar que a serenidade e a paz serão alcançáveis por nós de algum modo. É aí que entra a religião, propondo suas soluções para aquilo que nos é problemático no mundo sensível. Se sofrermos aqui, teremos a chance de viver melhor num “céu” idealizado, metafísico, intangível por nossas capacidades sensoriais e cognitivas; é a promessa de uma existência melhor e mais segura fora deste mundo perdido, perverso e pecaminoso.

Vivemos num mundo de regras simples. As complicações deste mundo resultam da desobediência de nossas próprias leis, que regem nossas sociedades. A verdade é a própria simplicidade, a própria singeleza, a própria lógica natural.

Tudo o mais é produto exclusivo de nossos desejos, que, como visto, são impulsionados, nutridos e conduzidos pelo EGOÍSMO (“O ser humano é egoísta por natureza. É de sua natureza, ser egoísta, mau e constituído por um perpétuo e irrequieto desejo de poder e mais poder que só termina com a morte”), pela VAIDADE (“Vaidade de vaidades, diz o pregador, tudo é vaidade”) e por INTERESSE (“Toda a vida em sociedade é regida pela tensão: interesse individual versus interesse coletivo”).

O melhor de Freud é sua percepção do paradoxo de sermos animais extremamente sociáveis: Sermos no cerne libidinosos, gananciosos e de um modo geral egoístas e, no entanto, termos que viver educadamente com outros seres humanos - termos que alcançar nossas metas animais por meio de uma tortuosa via de cooperação, conciliação e contenção, sendo a mente (consciência) um lugar de conflito entre os impulsos animais e a realidade social.

Assim, somos um animal - egoísta por instinto e altruísta por interesse. Somos fisicamente e mentalmente o resultado da competência de nossos ancestrais. Uma elite que sobrou de uma multidão de tentativas das quais só algumas deram certo. O resultado das instruções que nosso DNA codificou em corpos e mentes que já morreram, mas que viveram o suficiente para copular e gerar crias. Milhões e milhões dos contemporâneos de nossos ancestrais falharam, nossos ancestrais não. Por isso somos os senhores de nossos destinos. Os guardiões da verdade, da bondade, da beleza, da liberdade, da justiça, da ética e da moral. Os responsáveis pelas conseqüências de nossos atos. Somos especiais, mas talvez não sejamos tão especiais como gostaríamos de nos ver.

O homem tem a tendência a acreditar. Cada um tem a sua verdade! Mas qual será a verdadeira verdade? Qual a verdade que devemos seguir? A de Abraão? A de Buda? A de Calvino? A de Confúcio? A de Lao-Tse? A de Lutero? A de Jesus? A de Kardec? A de Maomé? A de Russell? A de Smith? A dos Orixás? Talvez a minha. Talvez a sua. Talvez nenhuma. Talvez estejamos todos errados. Talvez não. Talvez não seja nada disso... Uma coisa, porém, é certa: tudo o que tiver de acontecer, acontecerá. “Assim está escrito, e assim será”. Será?

Quando nos convencermos de que o Universo é natural - que todos os deuses e fantasmas são mitos. Nesse momento, então, entrarão em nossa mente o discernimento, o sentimento e a alegria da liberdade. Então não seremos mais servos. Não haverá mais mentores. Estaremos livres. Livres para rejeitar toda e qualquer crença cruel. Livres dos monstros alados da noite - de diabos, fantasmas e deuses. Livres para rejeitar todos os livros “sagrados” que líderes ignorantes e interesseiros produziram. Livres de todas as bárbaras lendas do passado. Livres de “líderes” religiosos. Livres do medo do sofrimento eterno. Pela primeira vez seremos livres.

Não haverá mais lugares proibidos em nossa mente - não haverá mais lugares que a imaginação não possa atingir - nenhuma algema nos prendendo, nenhum mestre nos encarando ou ameaçando, nenhuma necessidade de nos curvar, ajoelhar ou rastejar, ou expressar palavras mentirosas. Então seremos verdadeiros para nós mesmos. Verdadeiros para os fatos que conhecemos e, acima de tudo, preservar a veracidade de nossas vidas. Livres para pensar. Para viver nosso próprio ideal. Livres para viver para nós e para aqueles que escolhemos.

Então poderemos expor nossas idéias com clareza. Aprenderemos a creditar nossos problemas à nossa incapacidade ou falta de saber. Nesse momento, a humildade florescerá entre os homens, fundamentada em princípios humanos, e não em fantasias envolvendo deuses e demônios. Será um tempo, então, onde todos poderão considerar-se irmãos, pois ninguém esperará mais da vida do que seu semelhante.

Então saberemos que o importante não é o que temos na vida, mas quem temos na vida; que é perdoando que seremos considerados; que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer, enfrentando as conseqüências da ocasião; que o significado das coisas não está nas coisas em si, mas sim em nossa atitude com relação a elas; que cada um é senhor de si mesmo, devendo depender de si próprio e controlar-se a si próprio; que não é um deus que julga as pessoas, mas é a própria pessoa que faz o julgamento de si mesmo; que a finalidade de nossa busca é a verdade; que os meios para encontrá-la são através da ciência e da razão; que a vida tem sentindo e nós temos sentido diante da vida;

Então saberemos: mesmo se Deus não existir, mesmo se não houver nada depois da morte, isso não nos dispensa de cumprir com o nosso dever de agir humanamente, às vezes por parentesco, às vezes por altruísmo recíproco, às vezes por interesse, às vezes por necessidade, mas sempre pela sobrevivência da espécie (no interesse dos genes).

Se há deuses, não podemos ajudá-los. Mas podemos ajudar nossos semelhantes. Não podemos amar o inconcebível, mas podemos amar nossos parentes, cônjuges, filhos, amigos e, quem sabe, nossos inimigos...

Fonte:
De Volta ao Jardin do Éden
http://www.corifeu.com.br/index.asp?secao=23&categoria=40&subcategoria=0&id=37
A Face Enigmática de Deus
http://www.papelvirtual.com.br/sitenovo/detalhes_produto2.asp?IDProduto=706

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