1 de dezembro de 2008

A força da fé

A Discovery Channel (Brasil - Net) exibiu em 2004 um documentário intitulado “Os Apóstolos” e que faz parte de uma série chamada “As Escrituras”. O documentário explicou os milagres de cura efetuados por Jesus como sendo resultado da auto‑sugestão dos enfermos, ou seja, da fé deles em Jesus.

Ilustrou esta explicação com um exemplo atual. Médicos de um hospital nos E.U.A. realizaram “falsas cirurgias” em um grupo de pessoas que sofriam de artrite. A cirurgia-placebo consistiu numa incisão, uma pequena encenação dos médicos e uma sutura.

O grupo “operado” dessa forma, que era “cego”, apresentou índice de remissão de sintomas igual ao de outros dois grupos envolvidos na experiência. Destes dois outros grupos, igualmente cegos, um foi “realmente operado” e o outro sofreu uma “meia-cirurgia”.

Nos dias de hoje, muitos doentes terminais recorrem a CURANDEIROS, pois já tentaram de tudo antes. Já fizeram tratamentos médicos convencionais, homeopatia, acupuntura, etc. A maioria morre meses depois, sem que sejam computados nas estatísticas dos curandeiros. Os poucos que conseguem sobreviver são doentes menos graves, que fazem a “cirurgia espiritual” e prosseguem com o tratamento na medicina convencional, funcionando a “cirurgia”, apenas como um approach.

Outros, sem acesso a rede de assistência médico-social, entregues a própria sorte, recorrem com freqüência ao curandeirismo, que é abundante. Em um certo sentido os curandeiros desempenham o papel médico-social que os médicos, psicólogos e assistentes sociais exercem. Nesses casos, a maioria das “curas” ocorre com “doentes” que apresentam enfermidades psicossomáticas, funcionando o efeito placebo, a partir da transferência entre enfermo-curandeiro, de forma decisiva no processo de cura. Talvez Jesus soubesse disso. Numa das passagens do evangelho, ele diz: “a tua fé te curou”.

Alguns curandeiros afirmam que não há necessidade alguma de uma intervenção física (normalmente fraudulenta) para tratamento de moléstias. Entretanto, conforme o doente, isso se faz necessário para que ele, sentindo literalmente na carne, creia na intervenção realizada.

Outras pessoas curam-se fazendo promessas a santos. Não necessitam daquela interface. Outras, ainda, são curadas quando o pastor expulsa o demônio do corpo delas. Há tanto um approach físico (toques, etc), quanto psíquico.

Hoje se sabe que o efeito placebo atua também em doenças que não são de fundo psicossomático. Em um estudo realizado na Universidade de Harvard, testou‑se sua eficácia em uma ampla gama de distúrbios, incluindo dor, hipertensão arterial e asma. O resultado foi impressionante: cerca de 30 a 40% dos pacientes obtiveram alívio pelo uso de placebo! Além disso, ele não se limita a medicamentos, mas pode aparecer em qualquer procedimento médico.

Em uma pesquisa sobre o valor da cirurgia de ligação de uma artéria no tórax na angina de peito (dor provocada por isquemia cardíaca crônica), o placebo consistia apenas em anestesiar o paciente e cortar a pele. Pois bem: os pacientes operados ficticiamente tiveram 80% de melhora na dor. Os que foram operados de verdade tiveram apenas 40%. Em outras palavras: o placebo funcionou melhor que a cirurgia.

Quanto ao fato de se crer na intervenção do mundo espiritual, basta lembrarmos que a crença em um determinado fato não valida a existência do fato, APENAS DEMONSTRA A EXISTÊNCIA DA CRENÇA.

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