5 de fevereiro de 2009

Inconsciente coletivo

Certa vez, durante uma caminhada junto a um penhasco, no Nepal, um praticante perguntou ao seu mestre: - Mestre! cuidado com o abismo, o cão pode atirar-se e morrer. Não te preocupes, o cão é sabedor, respondeu o velho sábio. O jovem aprendiz retrucou perguntando: - Como eles sabem? È simples, falou o mestre, eles aprenderam herdando esse instinto de seus ancestrais, que sobreviveram a ponto de deixarem descendentes. Hoje esse aprendizado, adquirido, faz parte de sua memória atávica.

É claro que o mestre estava falando da memória genética, o inconsciente coletivo a que se referia Carl Jung. Um tipo de memória que não se extingui - uma camada oculta da psique comum à humanidade inteira e onde estão armazenados todos os registros das experiências humanas desde os mais remotos tempos. Seus conteúdos (chamados arquétipos) são condições ou modelos prévios da formação psíquica em geral. Nesse inconsciente, coletivo, os temas importantes para a humanidade vão amadurecendo até o momento em que eles podem ser absorvidos no imaginário popular em forma de lendas e superstições e em manifestações artísticas. São esses mitos que servirão de enredo para determinados aspectos da vida e guiarão os povos durante certo período de seu amadurecimento psíquico. Os arquétipos presentes no inconsciente coletivo são universais e idênticos em todos os indivíduos e manifestam-se simbolicamente em religiões, mitos, contos de fadas e fantasias. Entre os principais arquétipos estão os conceitos de nascimento, morte, sol, lua, fogo, poder e mãe.

A psique humana contém inúmeras coisas que nunca foram adquiridas, nem cada homem possui um cérebro inteiramente novo e único. Ele nasce com um cérebro que é resultado do desenvolvimento de uma série interminavelmente longa de ancestrais. Este cérebro é produzido em cada embrião, com toda a sua perfeição diferenciada, e quando começar a funcionar, produzirá infalivelmente os mesmos resultados que já foram produzidos inúmeras vezes antes na série de ancestrais.

Herdamos as predisposições de temer as serpentes e a escuridão porque nossos ancestrais experimentaram tais medos ao longo de um sem-número de gerações. Estes medos ficaram-lhes gravados no cérebro. Os conteúdos do inconsciente coletivo estimulam um padrão pré-formado de comportamento pessoal que o indivíduo seguirá desde o dia do nascimento. De modo que os conteúdos do inconsciente coletivo são responsáveis pela seletividade da percepção e da ação. Percebemos facilmente algumas coisas e a elas reagimos de certas maneiras porque o inconsciente coletivo está predisposto a elas. Aos nos depararmos com um leão, um cão feroz ou um agressor, tanto nossa memória genética (que herdamos) quanto nossa memória cerebral (que construímos) disparam um sinal de alarme que coloca nosso corpo imediatamente em prontidão.

Ao longo da história, todo processo de amadurecimento e os processos de iniciação, em qualquer povo que se examinar, são brutais. E embora isso faça parte de determinada cultura, deixa marcas muito fundas em uma pessoa com uma sensibilidade mais aguçada. Existem ainda experiências de guerras, de agressões, de mutilações. Tivemos a Segunda Guerra Mundial, que deixou muitas marcas, e as pessoas que trazem isso no seu repertório de memórias - no inconsciente coletivo existe tudo - geralmente apresentam fobia social, problemas respiratórios: muitas vezes morreram em câmaras de gás, em fornos crematórios; ou um medo muito grande de barulho de explosão. São coisas que ficam, que fazem parte da história da humanidade e nós as trazemos gravadas em nosso íntimo. Cada um tem uma fatia dessa história para administrar na vida atual. Carregamos conosco e não podemos nos separar disto. Isso é o que nós somos.

O espírito com todas as suas manifestações, são o reflexo do inconsciente coletivo. São apenas o resultado das complexas reações físico‑químicas operadas no cérebro, em resposta aos estímulos externos e internos captados pelos sentidos ou outros meios, e levados àquele órgão via rede nervosa de todo o organismo. Quando mergulhamos em nosso inconsciente e encontramos lá respostas que não se justificam diante de nossas experiências pessoais, não significa que sejam resultantes de vidas passadas, reencarnações ou quaisquer outras explicações místicas, são simplesmente resultantes de arquétipos oriundos de experiências ancestrais, que arquivaram-se nas delicadas estruturas nervosas e posteriormente são transmitidas aos descendentes através de genes ao longo de gerações. As memórias de “vidas passadas” não estão no passado, elas estão aqui, agora. Carregamos no hoje as memórias e os efeitos daquelas vidas em nosso campo de energia, e inconscientemente representamos aquelas crenças e experiências armazenadas.

O Inconsciente Coletivo é como um enorme banco de dados, um DISCO RÍGIDO onde ficam todas as impressões da humanidade, desde o início dos tempos. É como o AR, que é o mesmo em todo lugar, é respirado por todo o mundo e não pertence a ninguém. Assim, podemos consultar esse banco de dado à medida que pesquisamos em profundidade um determinado assunto. Nos sonhos, visões, êxtases e devaneios espirituais, podemos ter acesso aos cantos mais profundos do banco de dados desse HD.

Os genes são os responsáveis pela capacidade, que todos os seres vivos possuem, de transmitir a sua informação genética aos descendentes. Levamos em nossas células, nos genes, as memórias de nossos ancestrais, seus instintos, a personalidade, a individualidade consciente de todos os que participaram na formação do nosso corpo. O conhecimento pretérito, apenas parece ser de “vidas passadas”, mas em verdade decorre da memória incorruptível dos genes, constituída por bytes, bytes e mais bytes de informação digital pura. A crença na imortalidade da alma, comum a quase todas as religiões, não passa da percepção, em nível consciente, da imortalidade dos genes. Nossos corpos efêmeros, portadores dos genes imortais, não passam de carapaças descartáveis que são deixadas pelo caminho, enquanto os genes caminham, triunfalmente, atravessando gerações, rumo a um futuro desconhecido.

Reencarnacionistas, freqüentemente, admitem que ao falecer uma pessoa, sua alma se desprende do corpo e reencarna em outro que está sendo gerado pela fecundação naquele exato momento, ou então, a alma fica vagando por um espaço ou por um tempo até que lhe seja destinado um corpo apropriado. Entretanto, não é necessário recorrer a essa extraordinária teoria para admitir que certas recordações e lembranças que ocorram durante o sonho ou em uma sessão de hipnose possam ser frutos de outras vidas, de outros corpos em outros tempos, e para isso, basta considerar a teoria da estrutura do DNA proposta por J. D. Watson e F. H. C. Crick em 1953 e, esclarecida em 1958 por Meselson & Stahl.

Os resultados do experimento de Meselson & Stahl mostraram que o DNA seria formado por duas cadeias complementares de polinucleotídicas que se enovelavam uma na outra assumindo a forma de uma dupla hélice, podendo se dizer, de maneira simplificada, que as duas fitas da molécula original se separam e cada uma vai copiar uma fita nova complementar. As duas moléculas resultantes da duplicação são formadas por uma fita nova e uma fita velha. Nas fitas velhas estão contidas todas as informações da célula que as originou. As informações que codificaram a formação dos núcleos cerebrais, que possuem códigos de memória visual, auditiva e cognitiva, ou de situações vividas por outra ou até outras pessoas que já a tenham recebido em outras fecundações.

Essa cadeia velha pode chegar a um determinado espermatozóide que a recebeu durante a espermiogênese, podendo inseri-la no ovócito, no momento da fecundação e, durante o pareamento dos cromossomos homólogos, a fita velha pode voltar a formar os núcleos da base cerebral, reimplantando as informações de outras vidas que ela esteja trazendo e, com isso, ao ser submetido a uma hipnose, ou então durante um sonho, a pessoa pode se lembrar de coisas que outras pessoas possam ter vivido em outras vidas.

Está provado que o Arquicórtex (inconsciente) está envolvido com os comportamentos instintivos, que são transmitidos geneticamente, pois são inerentes a uma espécie - a humana, no caso. Pois bem, as lembranças mais profundas, aquelas que marcam a vida das pessoas e também aquelas ditas como “de outras encarnações” ficam armazenadas no inconsciente, e, portanto no arquicórtex. Como é o arquicórtex quem comanda os instintos e os comportamentos inatos de sobrevivência, e sendo ele também programado apenas a partir de informações genéticas, ele pode simplesmente trazer as fitas cromossômicas que contém códigos de memórias de situações vividas por ancestrais em outras vidas, não se devendo confundir com outras “encarnações” do ponto de vista espírita. Outro ponto que reforça esta teoria é o fato de que o indivíduo ao nascer, já possui comportamentos instintivos e inatos como agarrar, sugar e chorar, observados por Weissmann em 1883, quando este formulou sua Teoria da Continuidade do Plasma Germinativo, onde defendia que os pais transmitiam seu “Plasma Germinativo - A parte imortal dos seres vivos”, aos filhos via gametas sexuais. Sabe-se atualmente que o plasma germinativo de Weissmann nada mais é que os cromossomos sexuais do homem ou da mulher.

Portanto, somos meras “máquinas”, compostas de uma infinidade de partes, cada parte feita de uma infinidade de genes. A vida está dentro dos genes, e os genes são os reais indivíduos. Nossa inteligência é a inteligência agregada dos genes que nos compõem. Não há nenhuma alma, diferente da mente, e o que nós falamos que é a mente, é apenas a inteligência agregada dos genes.

É através dos genes que somos imortais, porque os genes não morrem. Os indivíduos são passageiros, mas os genes são para sempre. Eles carregam consigo, toda uma herança genética, desde a mais remota cadeia da vida biológica sobre a terra. Eles não são destruídos pela recombinação, simplesmente trocam de parceiros e seguem em frente. Os genes são a nossa essência imortal - a “vida eterna”. São os responsáveis pela capacidade, que todos os seres vivos possuem, de transmitir a sua informação genética aos descendentes.

É incorreto declarar que nós temos almas além da inteligência animal, além do cérebro. É o cérebro que nos mantém vivos. Não há nada além disso. TUDO que há, houve e haverá, pode, deve e deverá ser explicado em termos materiais. Não é nas reencarnações que a personalidade é determinada - ela é, sim, determinada nos genes, que se expressam nos neurônios.

Fontes:
Não há imortalidade da alma, diz Thomas A. Edison
http://str.com.br/Str/thomas2.htm
Recordações de vidas passadas
Vladimir Antonini
http://antonini.med.br/html/modules.php?name=News&file=article&sid=201
Compreendendo os Símbolos Astrológicos
Graziella Marraccini
http://somostodosum.ig.com.br/conteudo/conteudo.asp?id=3216
Livro: O rio que saía do éden
Richard Dawkins
Livro: A natureza da psique
Carl G. Jung