21 de outubro de 2010

Zen-budismo

Em recente entrevista com o Monge ordenado no Budismo Zen, Jorge Mello, natural de Itaqui/RS, ao Blog do Alfaro, pudemos conhecer mais de perto o autêntico Budismo (563-483 a.C), ou pelo menos aquele que não se deixou contagiar por influência de ideias e doutrinas ocidentais, não tradicionais, como o Espiritismo e a Sociedade Teosófica, que causaram uma série de deformações e alterações doutrinárias de caráter bastante grave nas filosofias orientais, a partir da metade final do século XIX. Para o Budismo não corrompido - pelas falsas ideias “espiritualistas”, você só vai nascer biologicamente UMA VEZ. Ou seja, você só vai ter um nascimento biológico (com gestação, parto, infância, adolescência, maturidade, velhice e morte). O Budismo não aceita reencarnação, espíritos, Ser Superior, pois essas são ideias que não tem nada a ver com tradições autênticas da Antiguidade.
NA PALESTRA DO MONGE BUDISTA TIVEMOS CONHECIMENTO QUE:
Não há distinção entre a divindade (Buda) e a humanidade (mortais comuns). Em nenhum sentido o Buda é tido como um ser superior, supremo ou transcendental.
É a filosofia do “conhecer a si próprio com profundidade e propriedade”. “Iluminar” é uma metáfora para “compreender” a vida.
Na prática, significa reconhecer a essência da vida para remover a escuridão e a ilusão ali instaladas por especulações promovidas por práticas religiosas que deram outro sentido à vida que não o original.
Promover mudanças em si mesmo e, consequentemente, nas suas próprias atitudes, a partir do entendimento do mecanismo de funcionamento da vida.
Eu sou o meu próprio ambiente. O meu ambiente é a manifestação da minha vida. Este é um dos princípios fundamentais do budismo: o meio ambiente em que vivemos é exatamente o reflexo da nossa vida, e efeito de causas feitas no passado.
Buda ensinou que tudo é vazio de auto natureza, que a vida é insatisfatória, que o sofrimento vêm através do desejo ou da afeição, e que a suspensão do desejo leva à libertação do sofrimento.
No budismo não existe um ente superior ou inferior ao qual as pessoas devem obediência. Há uma lei natural ou uma lei universal natural, única para tudo e todos.
AS QUATRO VERDADES NOBRES
Toda a vida é sofrimento;
A origem do sofrimento são desejo egoísta e os apegos de qualquer tipo;
A extinção do sofrimento é obtida pela cessação dos desejos egoístas e dos apegos;
O caminho que conduz à libertação do sofrimento é o Nobre Caminho Ócuplo.
NAS PALAVRAS DE JORGE MELLO:
“Se nós considerarmos como religião, algo que constitui-se no intermediário entre o ser humano e o transcendente, ai o Budismo deixa de ser uma religião, porque ao contrário de outras tradições espirituais o Budismo não se baseia numa revelação, e sim, na experiência de cada praticante. O Budismo incorpora a cultura de cada região.”
“O budismo se baseia na sabedoria e na compaixão. O budismo tem um transmissão direta. Não há uma revelação. Uma coisa, um livro que se leia e as coisas acontecem. Não tem como base a reencarnação. É o contato direto. Aprende-se diretamente com o professor, que aprendeu com seu professor e assim sucessivamente, até o Buda histórico. A sabedoria em certo sentido é prejudicada pelo conhecimento. Pela nossa natureza humana, como ser humano, na medida que  sabemos mais, começamos a pensar que sabemos tudo. E isso é um grande obstáculo a verdadeira sabedoria. A sabedoria tem que ser pura.”
“O ser humano é por natureza imperfeito. É um vir a ser. Somos seres que se constroem nas relações. Desse modo, não há o fim na nossa jornada. A jornada é próprio momento presente. Isso foge do raciocínio de que as coisas tem uma causa e que dali surge um efeito. A visão budista concebe as coisas como um processo contínuo. Em que causas e condições geram efeitos que se tornam causas e condições de novos efeitos e assim por diante.”
“Conduta sexual inadequada é aquele que decorre da cultura que hoje é muito dominante, do descartável. A sexualidade correto é aquele que baseada na relação de afeto, ou se quiser, chamar de amor, um termo hoje tão desgastado, que assim seja. O outro é uma pessoa, a sexualidade não é exercida com um corpo e sim com uma pessoa.”
“Quando nos referimos ao Nirvana, ausência de ventos, a gente tende a comparar naquela cultura que nós fomos criados. Se nós fomos criados numa cultura judaico-cristão, então tem o paraíso. O lugar que não é aqui. Mas se não existe aqui, provavelmente não vá existir em lugar nenhum.”
“Nós vivemos hoje como seres humanos, de uma maneira geral, um crise sem precedentes de isolamento. A solidão em termos existenciais é muito produtiva. Já o isolamento como a pobreza é debilitante, eu não consigo estabelecer um vínculo, uma relação. Isso é desesperador. É desesperador para a estrutura do ego como tal e para a natureza humana que está muito além do ego.”
“Nós somos seres de relações. Nós nos construímos nas relações, nós nos nutrimos nas relações e nós geramos benefícios nas relações. A prova mais evidente disso é quando algo muito bom acontece. Esse algo muito bom quando acontece se torna muito melhor quando a gente partilha. Isso é a natureza essencial do ser humano. Quando partilhamos algo bom, o prazer aumenta.”
“Na pratica a gente sabe que uma alimentação vegetariana proporciona condições melhores para uma prática meditativa e para uma vida emocional mais estável. Mas isso não é uma regra. O vegetarianismo não torna ninguém melhor. Existem muitos vegetarianos que são insensíveis e muitos carnívoros que são compassivos. O importante é que cada um coma aquilo que precise e dignifique aquilo que está comendo. Que dignifique aquela vida que está nos dando o sustento e o sacrifício que foi feito, mesmo por uma cenoura, com ações virtuosas na vida.”
“Conforto é a parte da felicidade que nós podemos comprar. Mas, lamentavelmente, a partir de um determinado limite não tem mais como comprar, porque não tem mais como usufruir. Conforto se compra, felicidade se vivencia.”
“Felicidade é um estado subjacente que vai além da alegria e tristeza. É um estado da mente. Não tem como acumular felicidade.
“Sucesso é aquilo que eu obtenho e satisfaz os outros. Realização é aquilo que eu vivencio e que não tem nada a ver com a expectativa dos outros.”
“Se você é um budista, um muçulmano, um cristão, um judeu, um ateu, o ou que for, se preocupe mais em praticar o bem e não causar o mal, e ter uma mente pacífica. A forma é só uma forma. O mais importante é que sejamos seres humanos autênticos, inteiros e de relações positivos. O resto é apenas algo que facilita. São meios hábeis. O mais importante é que a vida tenha sentido.”

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