11 de janeiro de 2010

Fernando em pessoa

Navegar é preciso; viver não é preciso.

Valeu a pena? Tudo vale a pena se a alma não é pequena.

O coração, se pudesse pensar, pararia.

Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir.

Nós nunca nos realizamos. Somos dois abismos - um poço fitando o céu.

O maior domínio de si próprio é a indiferença por si próprio.

A Ironia é o primeiro indício de que a consciência se tornou consciente.

Há momentos em que tudo cansa, até o que nos repousaria.

Quem sou eu para mim? Só uma sensação minha.

Deus é o existirmos e isso não ser tudo.

Haja ou não deuses, deles somos servos.

O único modo de estarmos de acordo com a vida é estarmos em desacordo com nós próprios. O absurdo é o divino.

Foi-se do dogmatismo a dura lei. E o cristicismo não foi mais feliz. -Nada sei - o agnóstico assim diz... Eu menos, pois nem sei se nada sei.

Nunca amamos alguém. Amamos, tão-somente, a idéia que fazemos de alguém. É a um conceito nosso - em suma, é a nós mesmos - que amamos.

Tudo que sabemos é uma impressão nossa, e tudo que somos é uma impressão alheia, melodrama de nós, que, sentindo-nos, nos constituímos nossos próprios espectadores ativos.

Tenho tanto sentimento que é freqüente persuadir-me de que sou sentimental, mas reconheço, ao medir-me, que tudo isso é pensamento, que não senti afinal.

Temos, todos que vivemos, uma vida que é vivida e outra vida que é pensada, e a única vida que temos é essa que é dividida entre a verdadeira e a errada. Qual porém é a verdadeira e qual errada, ninguém nos saberá explicar; E vivemos de maneira que a vida que a gente tem é a que tem que pensar.

Fernando Pessoa

Um comentário:

Anônimo disse...

Meu Deus , quanta tristeza...!