16 de abril de 2009

Feitiço e feiticeiros

A morte, a doença e a paixão abalam profundamente as pessoas, chegando a ponto de perderem a razão e o discernimento. Nessas circunstâncias, entram em ação os videntes, hábeis manipuladores que jogam com o medo e a esperança das vítimas, as quais raramente percebem quão habilmente são iludidas e manipuladas.

De um lado, um “cliente” fragilizado e sincero, que PERDEU A FÉ NA SUA FÉ. Do outro lado, um “profissional” com um vasto conhecimento de uma tradição milenar, ardiloso, que usa a “leitura fria” como método.

LEITURA FRIA é uma estratégia usada por manipuladores para fazer com que uma pessoa se comporte de uma certa forma, ou a pensar que os que fazem a leitura têm algum tipo de capacidade especial que “misteriosamente” permite que saibam coisas sobre um acontecimento. O manipulador faz uma meticulosa observação da vítima e utiliza também conhecimentos estatísticos e gerais da natureza humana.

Começa a interagir com a vítima, fala o óbvio de um modo enigmático ou interrogativo e observa cuidadosamente a reação da pessoa (“joga verde”): você está deprimida! alguém a deixa muito infeliz... E a vítima prontamente responde: é meu filho! Começa falando sobre generalidades e em pouco tempo já está adivinhando detalhes íntimos da vítima. Na verdade é a vítima quem está revelando tudo, o vidente apenas traduz a linguagem em um português nem sempre bem clara. Fazendo perguntas vagas e obtendo respostas sinceras, conseguirá ao final dar um veredicto do caso.

VEREDICTO: Conforme sua formação religiosa e/ou espiritual dirá que é: o karma; um feitiço; o demônio; um encosto, etc.

TRATAMENTO: Conforme sua formação religiosa e/ou espiritual recomendará: um trabalho espiritual; um desmancha feitiço; um exorcismo; uma unção; muita reza; um desencosto.

OBSERVAÇÃO: Seja qual for o tratamento a ser seguindo, o vidente solicitará que prossiga com o tratamento médico prescrito (é indispensável). Assim, se o paciente tiver o sucesso desejado, ficará em dúvida se foi a medicina ou a quiromancia quem o curou. Se o tratamento for de difícil solução, solicitará mais “trabalhos” e mais rezas. Se não tiver a solução esperada, dirá que é ou foi o karma; um feitiço bem feito; que Deus assim quer ou quis; que é ou era seu destino; e assim por diante. Além do mais, para que procurar um intermediário (vidente) se Deus é onisciência, onipotência e onipresença e benevolência?

POR QUE OS “TRATAMENTOS” PARECEM FUNCIONAR: Muitos métodos dúbios permanecem no mercado principalmente porque satisfazem consumidores que oferecem testemunhos de seu valor. A seguir algumas razões pelas quais as pessoas podem erroneamente concluir que um tratamento ineficaz funciona:

1. A doença pode ter seguido seu curso natural. Muitas doenças são autolimitadas. Se a condição não é crônica ou fatal, os processos de recuperação próprios do corpo normalmente restauram a saúde do doente.

2. Muitas doenças são cíclicas. Certas condições como artrite, esclerose múltipla, depressões, alergias e problemas gastrointestinais normalmente tem “altos e baixos”.

3. O efeito placebo pode ser o responsável. Através da sugestão, crença, expectativa, reinterpretação cognitiva e desvio da atenção, os pacientes que recebem tratamentos inúteis biologicamente freqüentemente experimentam alívio mensurável. Algumas respostas placebo produzem mudanças reais na condição física; outras são mudanças subjetivas que fazem os pacientes se sentirem melhores mesmo que não haja nenhuma mudança objetiva na patologia de base.

4. O diagnóstico ou prognóstico original pode ter sido incorreto. Terapeutas treinados cientificamente não são infalíveis. Um diagnóstico errado, seguido por uma visita a um santuário ou a um curandeiro “alternativo”, pode levar a testemunhos inflamados de cura para uma condição que teria se resolvido sozinha. Em outros casos, o diagnóstico pode ser correto, mas o prognóstico, que é inerentemente difícil de se prever, pode mostrar-se impreciso.

5. Melhora temporária do humor pode ser confundida com cura. Curandeiros alternativos freqüentemente possuem personalidades fortes, carismáticas. Até o ponto que os pacientes são levados pelos aspectos messiânicos da “terapia alternativa”, o que pode ser seguido por uma melhora psicológica.

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