Será que temos direito a uma
alma ou a eternidade que muitos homens afirmam possuir ao deixarem o
corpo físico? Sempre que ouço um crédulo dizendo que sua
existência não pode simplesmente apagar-se como um eletrodoméstico
queimado, me pergunto o porquê de tal pensamento. Ao serem
interrogados, tais indivíduos dizem apenas que “todos nós fomos
criados a imagem e semelhança de um deus todo poderoso e tais
criaturas superiores não poderiam simplesmente desaparecer”. As
palavras podem não ser exatamente essas mas eles dizem sempre algo
com o mesmo significado.
Se alguém me perguntar o que acho disso, digo que é fantasia. Não passa de história da carochinha!! Estas ideias de vida eterna, reencarnação ou qualquer coisa ligada a transcendência resultam, na minha opinião, do inconformismo e da pretensão humana. Digo inconformismo porque o pobre crédulo não pode aceitar a ideia de que uma vez morto, tudo acaba e ele não vai migrar para outro plano ou jamais terá uma chance de voltar para este na forma humana ou de qualquer outro ser vivo.
Desse modo os crédulos são levados a acreditar em algo místico ou sobrenatural para que isto sirva de combustível para sua existência. Seria muito mais produtivo para estas pessoas se elas se conscientizassem de que só as ideias ficam e que gerar conhecimento é a única forma de contribuir para as gerações subsequentes. Isto sim seria uma forma de transcendentalidade – deixar nossas ideias para que possam servir para alguém no futuro.
Quando falo em pretensão quero dizer que o ser humano se acha tão superior em relação aos outros seres vivos que seu fim soa como algo absurdo, um despautério. Esta é apenas mais uma condição de alto afirmação do Homo sapiens que se estabeleceu e dominou maior parte da Terra. Um ser destes não pode simplesmente sumir!!! É um absurdo! Se todos os seres vivos foram criados por um deus todo poderoso, por que somente os homens teriam direito a céu ou inferno? Será que as formiguinhas em suas galerias e câmaras subterrâneas também oram com medo do inferno como fazem os homens?
Será que as planárias acreditam em deus ou têm alma?? Estes pobres seres inferiores não tem alma porque não conhecem a “glória do senhor” e por isso vão cair no esquecimento. Só porque seus sistemas nervosos são reduzidos a redes de gânglios extremamente primitivos e eles não conseguem pensar ou possuir comportamentos mais complexos como os homens, sendo assim, as planárias e seus companheiros inferiores estão condenados ao nada.
Se alguém me disser que mesmo as formas de vida ditas inferiores têm direito a um paraíso, ficarei extremamente triste por não ser uma planária. Elas não precisam orar, pagar penitência, comungar, dar passes ou fazer qualquer forma de ritual de adoração a um suposto ser criador e mesmo assim todas elas vão migrar para outro plano. Eu quero ser uma planária! Mas e um golfinho que comprovadamente possui uma inteligência fora do comum?
Será que esse tem alma, alguma coisa que transcende a morte?
E assim não deveria ser também com os primatas? Será que os cães
também vivem com a constante incerteza daquilo que existe após a
morte e vivem rezando com medo do que os espera? Talvez o problema
esteja justamente no fato de o homem pensar em demasia e um
espertalhão num passado distante teve a brilhante ideia de obter
maior controle sobre seus companheiros de tribo com a crença em
alguma espécie de castigo após a morte. E assim começou toda a
desgraça.
Imaginem a situação de caos na qual estaria o além (ou sei lá do que os crédulos chamam o local para onde vão suas almas) se todas as pessoas ou “seres superiores” que já nasceram e morreram desde a existência do mundo até hoje tivessem ido para esses “abrigos de espíritos”. Com certeza estaria um inferno (risos) porque estariam sempre chegando mais e mais almas e assim sucessivamente até gerar um colapso total ou um congestionamento no além. Mas alguns podem dizer que existe um equilíbrio entre a quantidade de almas que sai e vai para o “outro plano”. Se isto fosse verdade, como se daria o aumento populacional? Como surgiriam novas almas?
Na minha opinião esta ideia é inconcebível e a meu ver a consciência humana desaparece no momento da morte. O que os crédulos chamam de alma eu chamo de consciência e esta é produzida por impulsos elétricos gerados em nossos neurônios. Quando o organismo morre, não há mais neurônios para produzir tais impulsos e toda fonte de emoção ou razão desaparece. Não estou querendo dizer que devemos cruzar os braços e esperar pelo fim inevitável, pelo contrário, defendo a ideia de que devemos produzir conhecimento que é a única coisa que ficará viva, não conosco mas com aqueles que nos sucedem. Então esta seria a única forma de transcendência que consigo vislumbrar na minha parca visão de mundo.
Talvez a ideia do apego ao sobrenatural seja realmente esta: servir de razão para a existência daqueles egoístas que só pensam em si próprios e não admitem a fragilidade humana. E é contra ideias retrógradas como estas que devemos lutar para promover o progresso da humanidade que ainda vive atrelada ao dogmatismo que se contradizem a todo momento e servem apenas para manobrar as massas pela velha política do medo e desestímulo ao questionamento. Por que não admitir a ideia de que somos efêmeros e tentar fazer algo de produtivo enquanto ainda estamos vivos?
Por Fabiano Gumier Costa
http://incredulos.tripod.com/page_13.htm
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