16 de outubro de 2025

O SAGRADO E O PROFANO

Muito bem. A terceira perspectiva sobre o deus criado pelo homem vem de Émile Durkheim, um dos pais da sociologia. Para ele, a religião é um fato social que deve ser estudado cientificamente. Em sua obra "As Formas Elementares da Vida Religiosa", Durkheim explica que a religião é um trabalho social de classificação do mundo em sagrado e profano. Deus é uma das várias coisas que uma sociedade considera sagrada.

Segundo Durkheim, o sagrado é aquilo que a sociedade define como sagrado. A definição de sagrado e profano é mútua, como norte e sul: um só existe em relação ao outro. Essa classificação é uma necessidade social para a organização da sociedade, não apenas uma necessidade psicológica individual. A religião, assim, funciona como um elemento que legitima a estrutura social e a organização. A presença de divindades e governantes na história ilustra essa ligação. O culto religioso, por sua vez, é uma forma de reprodução de uma crença coletiva no sagrado.

Pierre Bourdieu, um discípulo de Durkheim, complementa essa visão. Ele concorda que o sagrado e o profano são construções sociais, mas argumenta que nem todos participam dessa definição com a mesma eficácia. A definição do sagrado é obra de especialistas, que muitas vezes lutam entre si para estabelecer a sua legitimidade.

Bourdieu propõe o conceito de “campo religioso”. Um campo social é um espaço de posições e relações, onde agentes competem por troféus e capital específicos daquele campo. No campo religioso, os agentes legitimados lutam pelo monopólio da definição do sagrado, buscando prestígio e glória. Essa disputa, no entanto, é frequentemente apresentada como respeito às divindades, escondendo as lutas internas. Assim, o sagrado é o que os agentes socialmente autorizados definem como tal.

A sociologia das religiões, graças a esses autores, floresceu no século XX, mostrando que a definição de deus é um processo social, no qual diferentes agentes, como a Folha Universal mencionada no texto, lutam para impor sua visão do divino.

Transcrição de textos e vídeos do professor Clóvis de Barros Filho, filósofo e docente de Ética na Escola de Comunicações e Artes da USP (ECA/USP).

Nenhum comentário: