16 de outubro de 2025

AMOR-FATI (AMOR AO DESTINO)

O conceito de Amor-fati nos convida a rejeitar os modelos mentais que nos escravizam, como os ideais superiores que negam a vida terrena e os prazeres do corpo. É uma crítica aos refúgios mentais como paraísos ou deuses, que funcionam como muletas para tornar a vida mais fácil. Para viver melhor, deveríamos nos libertar desses ideais. A proposta é amar o mundo como ele é, no presente. O passado e o futuro são vistos como fontes de ilusão ou esperança, que é considerada ignorante, impotente e sem gozo. O texto de Nietzsche, citado como inspiração, resume essa ideia: não apenas suportar o necessário, mas amá-lo.

Amor-fati não é resignação ou passividade. Não se trata de aceitar a vida de forma acovardada, mas de afirmar e amar o real. Nesse sentido, a única forma de estar no “amor real” é despir-se do idealismo, como a crença em verdades absolutas, e amar o mundo tal qual ele se apresenta. Em vez de dizer “eu te amo”, a sugestão é reconhecer que o amor é um afeto momentâneo. Dizer “eu te amo” como se fosse um estado permanente seria ignorar a natureza oscilante das emoções. O ideal seria valorizar mais a singularidade de cada encontro, substituindo a frase por algo como “você acaba de me afetar de amor”.

Questiona o altruísmo absoluto, preferindo a visão de Spinoza. Ele argumenta que o altruísmo, no fim das contas, busca a sua própria alegria. O autor tem dificuldade em acreditar que a alma seja superior ao corpo, e prefere uma perspectiva em que corpo e alma caminham juntos. Ele conclui que não se deve ir contra a própria alegria ou a própria potência de agir.

Transcrição de textos e vídeos do professor Clóvis de Barros Filho, filósofo e docente de Ética na Escola de Comunicações e Artes da USP (ECA/USP).

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