30 de agosto de 2025

RELIGIOSIDADE X ESPIRITUALIDADE

Muitas vezes pensamos que religiosidade e espiritualidade são sinônimos. Seu emprego generalizado comumente colabora para isso. Porém, a espiritualidade pode se expressar por meio da religião, mas não mantém necessariamente conexão com ela. Podemos ser altamente espiritualizados e não necessariamente ligados a essa ou àquela religião. 

Ser religioso não é garantia de uma espiritualidade elevada, ainda mais, quando o que se busca é apenas certezas e salvação. Mesmo aqueles que não são religiosos no sentido tradicional, frequentemente podem ter uma espiritualidade em um sentido mais amplo. Essas pessoas têm um sentimento de humildade que surge da compreensão de como seus propósitos individuais se encaixam no contexto de algo que é maior do que elas.

Para muitos, as religiões fornecem uma forte motivação para o agir ético e o desenvolvimento do caráter. Isto não sugere que pessoas sem convicções religiosas não tenham caracteres fortes e honrados. Ética nada mais é do que um conjunto de valores morais e princípios de conduta que devem ajustar as relações entre os diversos membros de uma sociedade. Não é preciso ter religião para ter ética. As pessoas podem ser boas sem religião, exatamente como pessoas religiosas podem ser más.

Existem conceitos que, por mais que se escondam na aura da abstração, para a maioria das pessoas são concretos em sua essência, pois definem-se pela concretização daquilo que representam. Assim é Deus. Já imaginou amar um “deus não pessoal”? Quem ama, ama alguém (alguma coisa). Para quem ama um “deus pessoal”, amor é mais do que concreto.

Einstein, quando lhe perguntaram se ele acreditava em Deus, disse que acreditava no Deus de Spinoza, que se revela na harmonia e na ordem da natureza, não em um deus que se preocupa com os destinos e as ações dos seres humanos. Para Spinoza, filósofo holandês, Deus e o Universo seriam a mesma “substância”. A definição de Einstein decepcionou muita gente - por excluir o que costuma se chamar de “Deus Pessoal”.

Da mesma maneira Fernando Pessoa aceitava a divindade. Para ele Deus era o Universo (flores, árvores, montes, sol e o luar). E dizia: “mas se Deus é as árvores, as flores, os montes, o luar e o sol, para que lhe chamo eu Deus? Chamo‑lhe flores, árvores, montes, sol e luar; porque, se ele se fez para eu ver, sol, luar, flores, árvores e montes. Se ele me aparece como sendo árvores, montes, luar, sol e flores, é que ele quer que eu o conheça como árvores, montes, flores, luar e sol... e chamo-lhe luar e sol, flores, árvores e montes, e amo‑o sem pensar nele, e penso-o vendo e ouvindo, e ando com ele a toda a hora...”

Religiosidade é qualidade do que é religioso. A palavra religiosidade tem origem do latim religiositate. É definida como uma disposição ou tendência do ser humano para o sagrado, para buscar o sentimento religioso. A palavra religião vem do verbo latino religare, o que em português quer dizer religar, ou seja, o retorno do homem a Deus.

Religião é um conjunto de práticas e crenças que estabelece e regula as relações entre os seres humanos e as divindades. Aplica-se aos sistemas que comportam fé numa crença, obediência a um determinado código moral e participação em cultos. A religião pode, portanto, ser definida como “o conjunto de atitudes e atos pelos quais o homem manifesta sua dependência em relação a potências invisíveis consideradas sobrenaturais”. 

A adesão a uma religião significa a crença em uma força divina e a aceitação de uma certa orientação moral. Assim, geralmente a religiosidade vem atrelada a dogmas e crenças. No entanto, dogmas e crenças muitas vezes, reprimem, ao invés de ajudar a crescer, dividem, ao invés de unir.

Espiritualidade, que nada tem a ver com religiosidade, é a capacidade inata do homem de buscar sentido na vida e no universo, produzindo em nós uma mudança interior profunda. Refere-se à relação intangível que temos com o sublime. É o sentimento que surge da humildade, da sensação de espanto e admiração pela estrutura do universo, da “vaga sensação” que há “algo” além da realidade superficial da experiência cotidiana, chamado de sentimento de reverência pela natureza, fascínio e respeito por sua profundidade, beleza e sutileza. 

Algo muito semelhante à veneração religiosa. Uma espiritualidade que também conhece a importância da solidão, do pesar, do silêncio, do pensar e do meditar. Um exercício pelo qual o sujeito se despoja de seus fortes apegos ao passado e ao futuro, vencendo os medos ligados a finitude, graças à prática de uma convicção não intelectual, mas íntima, quase carnal: aquela segundo a qual não há, no fundo, diferença entre eternidade e o presente, já que este não é mais desvalorizado no que concerne às outras dimensões do tempo.

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