Muitas
vezes pensamos que religiosidade e espiritualidade são sinônimos.
Seu emprego generalizado
comumente colabora para isso. Porém,
a espiritualidade pode se expressar por meio da religião, mas não
mantém necessariamente conexão com ela. Podemos ser altamente
espiritualizados e não necessariamente ligados a essa ou àquela
religião.
Ser religioso não é garantia de uma espiritualidade
elevada, ainda mais, quando o que se busca é apenas certezas e
salvação. Mesmo aqueles que não são religiosos no sentido
tradicional, frequentemente podem ter uma espiritualidade em um
sentido mais amplo. Essas pessoas têm um sentimento de humildade que
surge da compreensão de como seus propósitos individuais se
encaixam no contexto de algo que é maior do que elas.
Para
muitos, as religiões fornecem uma forte motivação para o agir
ético e o desenvolvimento do caráter. Isto não sugere que pessoas
sem convicções religiosas não tenham caracteres fortes e honrados.
Ética nada mais é do que um conjunto de valores morais e princípios
de conduta que devem ajustar as relações entre os diversos membros
de uma sociedade. Não é preciso ter religião para ter ética. As
pessoas podem ser boas sem religião, exatamente como pessoas
religiosas podem ser más.
Existem
conceitos que, por mais que se escondam na aura
da abstração, para a
maioria das pessoas são
concretos em sua essência, pois definem-se pela concretização
daquilo que representam. Assim é Deus.
Já imaginou amar
um “deus não
pessoal”?
Quem ama, ama alguém (alguma
coisa). Para
quem ama um “deus pessoal”,
amor é mais do que concreto.
Einstein,
quando lhe perguntaram se ele acreditava em Deus, disse que
acreditava no Deus de Spinoza, que se revela na harmonia e na ordem
da natureza, não em um deus que se preocupa com os destinos e as
ações dos seres humanos. Para Spinoza, filósofo holandês, Deus e
o Universo seriam a mesma “substância”. A definição de
Einstein decepcionou muita gente - por excluir o que costuma se
chamar de “Deus Pessoal”.
Da
mesma maneira Fernando Pessoa aceitava a divindade. Para ele Deus era
o Universo (flores, árvores, montes, sol e o luar). E dizia: “mas
se Deus é as árvores, as flores, os montes, o luar e o sol, para
que lhe chamo eu Deus? Chamo‑lhe flores, árvores, montes, sol
e luar; porque, se ele se fez para eu ver, sol, luar, flores, árvores
e montes. Se ele me aparece como sendo árvores, montes, luar, sol e
flores, é que ele quer que eu o conheça como árvores, montes,
flores, luar e sol... e chamo-lhe luar e sol, flores, árvores e
montes, e amo‑o sem pensar nele, e penso-o vendo e ouvindo, e
ando com ele a toda a hora...”
Religiosidade
é qualidade do que é religioso. A palavra religiosidade tem origem
do latim religiositate. É definida como uma disposição ou
tendência do ser humano para o sagrado, para buscar o sentimento
religioso. A
palavra religião vem do verbo latino religare, o que em português
quer dizer religar, ou seja, o retorno do homem a Deus.
Religião
é um conjunto de práticas e crenças que estabelece e regula as
relações entre os seres humanos e as divindades. Aplica-se aos
sistemas que comportam fé numa crença, obediência a um determinado
código moral e participação em cultos. A religião pode, portanto,
ser definida como “o conjunto de atitudes e atos pelos quais o
homem manifesta sua dependência em relação a potências invisíveis
consideradas sobrenaturais”.
A adesão a uma religião significa a
crença em uma força divina e a aceitação de uma certa orientação
moral. Assim, geralmente a
religiosidade vem atrelada a dogmas e crenças. No entanto, dogmas e
crenças muitas vezes, reprimem, ao invés de ajudar a crescer,
dividem, ao invés de unir.
Espiritualidade,
que nada tem a ver com religiosidade, é a capacidade inata do homem
de buscar sentido na vida e no universo, produzindo em nós uma
mudança interior profunda. Refere-se à relação intangível que
temos com o sublime. É o sentimento que surge da humildade, da
sensação de espanto e admiração pela estrutura do universo, da
“vaga sensação” que há “algo” além da realidade
superficial da experiência cotidiana, chamado de sentimento de
reverência pela natureza, fascínio e respeito por sua profundidade,
beleza e sutileza.
Algo muito semelhante à veneração religiosa.
Uma
espiritualidade que também conhece a importância da solidão, do
pesar, do silêncio, do pensar e do meditar. Um exercício pelo qual
o sujeito se despoja de seus fortes apegos ao passado e ao futuro,
vencendo os medos ligados a finitude, graças à prática de uma
convicção não intelectual, mas íntima, quase carnal: aquela
segundo a qual não há, no fundo, diferença entre eternidade e o
presente, já que este não é mais desvalorizado no que concerne às
outras dimensões do tempo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário