No
fim da vida, a maioria das pessoas percebe, com surpresa e pesar, que
viveu de forma provisória e que as coisas que antes pareciam sem
graça ou sem interesse eram, na verdade, a própria vida. Traído
pela esperança, o ser humano dança nos braços da morte. Segundo
Arthur Schopenhauer, nós tendemos a nos arrepender mais daquilo que
não fizemos do, que do que fizemos. Para ele, o arrependimento surge
quando percebemos que nossas ações não corresponderam à nossa
verdadeira vontade, ou seja, ao nosso caráter essencial.
Por
outro lado, e na mesma linha de raciocínio, o filósofo Clóvis de
Barros Filho afirma que o caminho que escolhemos terá suas
tristezas. É comum ter a impressão de que, se tivéssemos escolhido
outro, não viveríamos essas tristezas. Mas viveríamos outras, pois
não vivenciamos as dificuldades de uma vida que não vivemos. Apenas
a vida que escolhemos nos reserva suas tristezas. É um erro
acreditar que outro caminho eliminaria a tristeza e traria apenas
alegria.
A
vida sempre será complicada e marcada por decepções. Entender isso
facilita a jornada, pois qualquer caminho será difícil. Muitos dos
problemas são imprevisíveis e destrutivos. Isso não é pessimismo,
mas sim uma resistência contra os falsos profetas que nos fazem
acreditar que protocolos nos livrarão da tristeza. Ela faz parte da
vida de forma profunda.
A
vida é feita, antes de mais nada, de tristeza. No entanto, há
instantes de alegria que a compensam, e é na esperança desses
momentos que continuamos. Quanto menos se espera do mundo, maior a
chance de perceber esses momentos. Quanto mais se acredita em um
paraíso, mais frustração haverá e mais se perceberá que a
felicidade não é constante.
JC COUTINHO
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