9 de outubro de 2025

REFLEXÕES FILOSÓFICAS

CAMINHOS E ESCOLHAS: O caminho escolhido sempre virá com tristezas; a ilusão é acreditar que outro seria livre de problemas. Experimentamos apenas as dificuldades da vida que temos. Um casamento, por exemplo, tem suas tristezas, mas a vida de solteiro também tem as suas, como a solidão. A vida é complexa e será sempre marcada por mais decepções do que alegrias. Saber disso facilita encarar os desafios, pois não há vida fácil. As dificuldades são apenas diferentes: uma namorada “feia” impõe um desafio, enquanto uma “linda” traz outros, como o ciúme.

Não sou pessimista, mas repudio os “falsos profetas” que prometem a exclusão da tristeza seguindo protocolos. A tristeza é parte robusta da vida, sua matéria-prima. As alegrias são momentos pontuais que dão esperança. Quanto menos se espera do mundo, mais se aprecia o pouco; a esperança excessiva leva à frustração. A felicidade está em entender a vida em sua crueza e desfrutar dos pequenos instantes de alegria.

AMOR-FATI (AMOR AO DESTINO): O conceito de Amor-fati (“amor ao destino”), inspirado em Nietzsche, convida a rejeitar modelos mentais que escravizam, como ideais superiores que negam a vida terrena e seus prazeres. É uma crítica aos refúgios mentais como paraísos ou deuses que agem como muletas. A proposta é amar o mundo como ele é, no presente. O passado e o futuro são vistos como fontes de ilusão ou esperança ignorante. Nietzsche resume: não apenas suportar o necessário, mas amá-lo.

Amor-fati não é resignação, mas a afirmação e amor pelo real. Estar no “amor real” exige despir-se do idealismo, como a crença em verdades absolutas. Em vez de dizer “eu te amo” como um estado permanente (ignorando a natureza oscilante das emoções), o ideal é reconhecer o amor como afeto momentâneo, valorizando a singularidade de cada encontro.

O autor questiona o altruísmo absoluto, preferindo a visão de Spinoza: o altruísmo, no fundo, busca a própria alegria. Ele prefere a perspectiva de que corpo e alma caminham juntos, concluindo que não se deve ir contra a própria alegria ou a própria potência de agir.

OS INIMIGOS DA VIDA: Duas coisas atrapalham a vida: o divertimento e o tédio. O divertimento é um ciclo de insatisfação: desejar, conseguir e imediatamente buscar outra coisa, uma busca incessante pela saciedade que nunca chega. O tédio surge de uma rede de utilidade, onde o valor das coisas é sempre externo a elas (o valor do carro é o destino; o da faculdade é o emprego).

A perspectiva de Nietzsche exige uma avaliação que parte de si mesmo, sem fatores transcendentes. O valor das coisas é determinado pelo desejo e pela vontade individual. O conceito do eterno retorno questiona: você gostaria de viver sua vida, com cada momento de dor e alegria, inúmeras vezes? A resposta determina se a sua vida é boa. É um desejo de eternizar um instante, sintoma de uma vida bem vivida.

Nietzsche, um filósofo vitalista, via a transcendência como “muletas metafísicas” para quem não suporta a vida como é. O super-homem é quem vive sem essas muletas, abraçando o “amor-fati”. O erro não está no mundo, mas na nossa avaliação sobre ele.

O DEUS DE SPINOZA: O Deus de Spinoza é uma segunda perspectiva de um deus transcendente, mas diferente do criador: ele é o próprio mundo, o todo que existe (Deus ou a Natureza). Spinoza rejeita a ideia de propósito, vendo o universo como caótico. Esse Deus compartilha atributos com o cristão: é onipotente, onisciente, onipresente e eterno.

A eternidade pertence ao todo (o universo), não às partes (nós, que morremos). Morremos como partes de Deus, que, por ser o todo, permanece eterno. Para Spinoza, Deus é criador e criatura ao mesmo tempo, diferente da visão cristã.

Em um exemplo pessoal, o autor contrasta o Deus cristão, que é um terceiro que vê e julga (o padre lhe disse que Deus o via no banheiro), com o Deus de Spinoza. O Deus de Spinoza é o próprio ato, o movimento, o orgasmo, a depressão pós-orgásmica; ele é o que é.

Sendo o que é, o Deus de Spinoza não julga e não condena, pois ele não é terceiro em relação à conduta, ele é o próprio agente. Ele é o real como ele é, e por isso, não carrega consigo nenhuma ideia de justiça, vista como um delírio humano.

O DEUS CRIADO PELO HOMEM: A discussão passa para o Deus criado pelo homem. Ludwig Feuerbach, em A Essência do Cristianismo, argumenta que o homem inventou Deus para suprir a necessidade de um organizador ou justiceiro que controlasse o que estava dentro, já que nunca entendeu que sua existência é consequência exclusiva de si mesmo e da materialidade. Deus é, portanto, uma consequência direta das condições materiais de vida.

Karl Marx, discípulo de Feuerbach, viu que o homem inventou não só Deus, mas um culto e comportamentos que seriam sua vontade. A famosa frase “A religião é o ópio do povo” resume sua visão. Para Marx, fenômenos como religião, moral e estado são explicados pela matriz material e social, pela produção de bens. Deus é o resultado da luta de classes (burgueses vs. proletários), um “deus burguês”, e a religião, o “ópio do proletariado”. 

Deus contribui para que as pessoas suportem a vida que lhes foi dada e evita que se insurjam contra as discrepâncias materiais, diminuindo a exigência por uma repartição mais equitativa dos bens. A religião é um anestésico que impede a reivindicação do que seria justo.

Émile Durkheim, pai da sociologia, via a religião como um fato social. Em As Formas Elementares da Vida Religiosa, explica que ela é um trabalho social de classificação do mundo em sagrado e profano. Deus é uma das coisas que a sociedade considera sagrada. O sagrado é o que a sociedade define como tal; é uma necessidade social para a organização da sociedade.

Pierre Bourdieu, um discípulo, concorda, mas adiciona que a definição do sagrado é obra de especialistas (agentes legitimados) que competem no “campo religioso” pelo monopólio dessa definição, buscando prestígio. Essa luta é disfarçada como respeito às divindades.

REFLEXÕES CONTEMPORÂNEAS: Duas reflexões contemporâneas (século XXI) fecham a aula. Michel Maffesoli discute a tolerância da sociedade pós-moderna com os desejos individuais, contrastando com a rigidez da modernidade que reprimia os apetites e gerou catástrofes como o nazismo. A sociedade pós-moderna permite "subversões periódicas" (como o carnaval) e aceita a "parte do diabo", surgindo no lugar de um Deus de valores absolutos.

Gilles Lipovetsky vê o homem pós-moderno construindo sua vida "à la carte", alternando crenças. O pertencimento religioso torna-se uma questão individual e privada, não mais pública. A religião e a noção de Deus fragmentam-se em função das necessidades metafísicas de cada um.

A reflexão final, baseada em André Comte-Sponville (O Espírito do Ateísmo), distingue o espírito da fé. É possível ser ateu e, ainda assim, compartilhar valores essenciais e a intuição do que é certo e errado. Os valores são historicamente construídos e, mesmo sem valores absolutos, a fidelidade à comunidade e cultura nos guia. A filosofia não buscará mais provas da existência de Deus, mas continuará a falar de valores.

A história da ideia de Deus continuará. Seja Ele transcendente, imanente ou o próprio homem, a questão da sua existência ou intervenção sempre nos ocupará. Deus importa muito, pois continuará a ser uma enorme fonte de critérios para que o homem possa viver. A máxima de Dostoiévski resume: “Já que Deus não existe, tudo é permitido. E já que tudo é permitido, a vida não tem sentido. E já que a vida não tem sentido, torna-se impossível viver.”

Excertos de transcrição de textos e vídeos do professor Clóvis de Barros Filho, filósofo e docente de Ética na Escola de Comunicações e Artes da USP (ECA/USP).

8 de outubro de 2025

DEUS NÃO ANTEVIU

Genes são as palavras que escrevem as instruções para a construção dos organismos vivos. Esses replicadores buscam apenas sua própria perpetuação, sendo egoístas e indiferentes aos interesses humanos. Suas estratégias engenhosas levam-nos, inclusive, a formar máquinas que garantam sua sobrevivência: os seres vivos.

A PERIGOSA IDEIA DE DARWIN: Até cerca de 150 anos atrás, era difícil ser ateu convicto, pois a pergunta fundamental – como surgiram a vida e organismos tão sofisticados? – permanecia sem resposta científica. 
A complexidade do olho, do cérebro, ou da cauda do pavão, por exemplo, sugeria a existência de um Projetista perfeito. 

Foi Charles Darwin quem resolveu o problema, propondo um princípio que explicava a complexidade organizada dos seres vivos sem a necessidade de intervenção não natural. Após coletar vasta informação, ele identificou um princípio unificador: a evolução, dirigida pela seleção natural.

SELEÇÃO NATURAL: A seleção natural é o mecanismo que atua priorizando organismos mais aptos a sobreviver e se reproduzir. Isso produz seres cada vez mais bem-adaptados ao meio, sendo “mais bem-adaptado” apenas mais competente na arte de se reproduzir. Os não tão bem-adaptados foram eliminados. A batalha pela existência exige aptidão (fitness), a competência em crescer e se multiplicar.

A ideia central de Darwin é: variações herdadas úteis à reprodução se disseminam e transformam a espécie. Essa é a explicação para a cauda do pavão, o olho humano, e todos os designs do mundo vivo. O cérebro humano, por exemplo, é um produto da seleção natural, um processo formal, automático, sem inteligência nem intenção, que atua sobre o que o acaso oferece. O relojoeiro da natureza é cego.

DO BIG BANG AO GENE: Nosso universo surgiu há cerca de 15 bilhões de anos. O Big Bang gerou radiação e partículas elementares. A energia se transformou em matéria (E=mc2). Com o resfriamento, prótons e elétrons formaram os primeiros átomos de hidrogênio, a substância da qual toda a matéria conhecida veio. Bilhões de anos após, ocorreu o surgimento de supermoléculas com a notável propriedade de se autor replicar. O embaralhamento do baralho cósmico produziu uma estrutura capaz de processar informação e assumir a dinâmica fundamental da vida. A permanência é a ambição suprema.

O DNA, o replicador fundamental, surgiu por meio das leis da Física e da Química na “sopa primordial”. É ele quem legisla em causa própria, alterando seus textos para garantir a sobrevivência nas gerações futuras. O DNA é a realidade do verbo que busca o “Crescei e multiplicai-vos”.

A HIPÓTESE DO GENE EGOÍSTA: O biólogo Richard Dawkins propõe a hipótese do gene egoísta: a seleção natural atua sobre a molécula do DNA, ou mais precisamente, sobre os genes. Assim, são os genes que “desejam” sobreviver. Genes são segmentos do DNA, e a vida é um processo de informação, onde o DNA escreve os textos para a construção da vida. Neste ponto de vista, seres vivos são máquinas de sobrevivência construídas pelos genes para facilitar sua própria replicação.

A dinâmica fundamental é que a evolução seleciona os genes mais aptos a continuar existindo. Eles seguem adiante através de cópias em seus corpos veículos, que morrem, mas os genes são potencialmente imortais. Seu único objetivo é construir corpos que se reproduzam. O altruísmo de formigas ou abelhas, por exemplo, é explicado pelo egoísmo dos genes: as que morrem garantem a replicação dos genes presentes em seus parentes.

MÁQUINAS DE SOBREVIVÊNCIA: Desde o início, nos mares primitivos, a competição se instalou entre os replicadores. Erros de cópia (mutações) trouxeram a variedade essencial para o processo evolutivo. Todos os seres vivos compartilham a mesma molécula ancestral de DNA.

Replicadores mais competentes desenvolveram truques para a sobrevivência. Dawkins explica: os replicadores que sobreviveram foram os que construíram máquinas, ou veículos, para sua própria proteção e existência. A concorrência levou ao desenvolvimento de máquinas de sobrevivência cada vez maiores e mais elaboradas.

Quatro bilhões de anos depois, os replicadores ancestrais estão aglomerados em colônias, protegidos dentro de robôs gigantescos e desajeitados. Eles são os genes, e nós somos suas máquinas de sobrevivência. Sua preservação é a razão última da nossa existência.

A CEGUEIRA DA SELEÇÃO NATURAL: As máquinas de sobrevivência foram criadas pelo processo cego da seleção natural, sem projeto ou projetista. Esse processo é totalmente indiferente à dor ou a qualquer valor humano. Ele não tem propósito ou objetiva gerar a espécie humana. A seleção natural permite apenas a sobrevivência dos genes aptos a gerar veículos capazes de perpetuá-los.

O olho é resultado da ação desse relojoeiro cego ao longo de um tempo astronomicamente grande. Genes para olhos cada vez mais especializados foram sendo escolhidos. Assim surgiram os complexos mecanismos da nossa visão: um belíssimo design sem designer. Enxergar confere uma tremenda vantagem competitiva. O físico Fred Hoyle comparou aceitar Darwin a crer que um tufão montaria um Boeing 747 em um depósito de peças. Hoyle, contudo, estava errado.

A seleção natural atua, de forma imediatista, sobre o que as leis da Física e da Química oferecem. É o passar de vastos espaços de tempo que permite o surgimento de estruturas como o olho. Ele é o melhor dos olhos porque conferiu a maior vantagem na competição por sobrevivência e reprodução em determinado momento. Nosso olho veio de um “não-olho”, através de uma sucessão de olhos progressivamente melhores. As mutações casuais eram selecionadas: quem enxergava melhor localizava presas, fugia de predadores, vivia mais e se reproduzia mais.

A genialidade de Darwin foi descobrir que mesmo o que tem um design sofisticadíssimo não tem designer. É o processo cego da seleção natural que é responsável pela nossa existência, de nossos cérebros e de nossas mentes.

SUCESSO E FRACASSO NA LEI NATURAL: A seleção natural é um processo não criativo, mas com resultado garantido: em cada momento, a melhor variante possível para o projeto. As alternativas falhas morreram sem deixar descendentes. Sucesso, segundo a natureza, é permanecer.

O neurofisiologista William Calvin ilustra a natureza da seleção natural com o exemplo das apostas em cavalos: ao enviar mil previsões diferentes, um grupo de cem pessoas se convence de que o emissor tem um conhecimento especial, devido à seleção a posteriori dos acertos, ignorando-se os inúmeros erros. Assim é a seleção natural: observamos os animais que sobreviveram, os órgãos que funcionaram.

COMPETIÇÃO E A ESTRATÉGIA DOS GENES: A dinâmica da evolução, inspirada em Thomas Malthus, prevê que nem toda a prole sobrevive. O ambiente natural seleciona os genes que melhor sobrevivem, o que explica o termo “seleção natural”. 
Se os genes programam os organismos para agirem em seus próprios interesses, a natureza se torna um espetáculo de egoísmo, trapaça e dissimulação, pois o único objetivo é a propagação dos genes. Olhando de perto, percebemos mães abandonando crias fracas e filhotes tentando enganar os pais, além de machos e fêmeas usando blefes na relação reprodutiva.

Esse processo é sempre mediado por uma análise de custo-benefício. Espermatozoides são baratos, enquanto óvulos são caros e exigem um investimento maior da fêmea. Por isso, fêmeas tendem a ser mais cuidadosas na escolha de parceiros.

A seleção natural provoca o surgimento de comportamentos de equilíbrio, estratégias que levam a um compromisso entre os interesses egoístas. O conflito sexual é inerente, devido à diferença essencial: espermatozoides são abundantes e baratos; óvulos são escassos e caros. Mães tentam investir por igual, aprendendo a detectar a fraude e a puni-la, pois a seleção natural “força” a convergência das estratégias de mães e crias para a máxima propagação dos genes de ambos. Os comportamentos que persistem são as estratégias evolucionariamente estáveis.

O egoísmo inerente ao jogo de replicação, paradoxalmente, força a colaboração. Na gravidez, o feto age como um sutil parasita para sugar mais nutrientes, gerando uma corrida armamentista até se atingir um equilíbrio: a colaboração por reciprocidade.

Outro exemplo: o altruísmo de fêmeas de pássaros que chocam ovos alheios. Uma fêmea trapaceira, que não choca os ovos e aproveita o tempo para pôr mais, teria vantagem. A trapaça, no entanto, não é evolucionariamente estável a longo prazo, pois a espécie sumiria. A fêmea “honesta” ganha se aprender a identificar e chocar apenas seus próprios ovos.

CUSTO/BENEFÍCIO E A REBELIÃO HUMANA: A guerra do gene egoísta toma formas extremas, como a cauda do pavão. Sua origem é o exibicionismo sexual: caudas extravagantes atraem fêmeas, mas podem atrair predadores ou exigir mais energia, podendo causar a morte do portador. O custo/benefício é que deve ser considerado: se o macho copulou o suficiente para garantir a passagem de seus genes, a morte da máquina de sobrevivência é “aceitável”. A preservação do gene é a utilidade nesse jogo.

A seleção natural não premia a esperteza isolada, mas sim a capacidade de preservar os genes. A monogamia, por exemplo, pode ter surgido do conflito entre machos e fêmeas: fêmeas recusam a cópula até que o macho prove que auxiliará no cuidado da prole.

Há casos em que filhotes de pássaros quebram os ovos dos irmãos para fora do ninho. Dawkins observa que a cria tentará usar toda arma psicológica (mentira, chantagem) para obter mais que sua parcela justa de alimento. O egoísmo desenfreado é sempre moderado pela relação instintiva de custo/benefício, no interesse dos genes.

O cérebro e o comportamento também são artefatos que a seleção natural inventou. O sistema nervoso das espécies foi desenvolvido sob influência dos genes, sendo, portanto, objeto de seleção. Características fundamentais para o ser humano, como a linguagem e a consciência, emergiram do cérebro, conferindo vantagens decisivas.

Embora o princípio de operação das "máquinas de sobrevivência" possa soar cínico, a espécie humana é a única que pode se "rebelar contra a ditadura" do gene. A consciência humana, obra do relojoeiro cego, nos confere originalidade, permitindo-nos buscar um sentido e superar a "frieza" da seleção natural. Estamos em um jogo existencial, no qual os melhores jogadores continuam. Por ironia, o relojoeiro cego, assim como o Deus bíblico, acabou produzindo um efeito que não estava no programa: Nós.

Extraído do Livro “O Glorioso Acidente” de Clemente de Nobrega
(Físico e Master in Science em Engenharia Nuclear).

7 de outubro de 2025

CISÃO DO MOVIMENTO LGB

A criação da LGB Internacional (LGBI) representa um movimento de separação de pautas. Essa organização se separou para focar apenas nas pautas de Lésbicas, Gays e Bissexuais (LGB) baseadas no sexo biológico. Já a sigla mais longa, LGBTI+, representa a visão de que todas essas identidades compartilham a luta contra a cis-heteronormatividade e a discriminação.

L (LÉSBICAS): Mulheres que sentem atração por outras mulheres.

G (GAYS): Homens que sentem atração por outros homens.

B (BISSEXUAIS): Pessoas que sentem atração por mais de um gênero (não se limita a apenas dois).

T (TRANSGÊNERO/TRANSSEXUAIS): Pessoas cuja identidade de gênero não corresponde ao sexo que lhes foi atribuído ao nascer (a pauta central que a LGBI busca excluir).

I (INTERSEXO): Pessoas que nascem com variações nas características sexuais (cromossomos, gônadas ou anatomia sexual) que não se encaixam nas definições binárias de masculino ou feminino.

+ (MAIS/OUTRAS IDENTIDADES): O símbolo de inclusão que abrange todas as outras identidades que não estão explicitamente na sigla, como: Queer (Q), Assexuais (A), Pansexuais, e outros.

A cisão ocorre porque o grupo LGBI entende que as pautas de orientação sexual (atração por um sexo) são diferentes e, em alguns casos, conflitantes com as pautas de identidade de gênero (como a pessoa se sente ou se identifica). Principais Diferenças e Posições da LGB Internacional:

FOCO DA PAUTA: Exclusivamente LGB (Lésbicas, Gays, Bissexuais).

BASE PARA DIREITOS: Sexo Biológico e Orientação Sexual. A atração é definida pelo sexo (macho/fêmea).

CONCEITO DE GÊNERO: Entende o sexo como uma “realidade material imutável” (macho/fêmea). Argumenta que a substituição de sexo por gênero apaga as definições de homem, mulher e orientação sexual.

TOM DE CAMPANHA: Contundente, com frases como “já estamos fartos de pronomes” e “os direitos dos gays não podem ser contrários aos direitos das mulheres”, indicando uma rejeição às novas linguagens e às políticas de inclusão trans.

O QUE VAI MUDAR NA PRÁTICA: A formalização da LGBI representa uma mudança no panorama ativista:

SEPARAÇÃO DE REPRESENTAÇÃO: Os ativistas da LGBI buscarão representação política e social focada apenas nas questões LGB, sem endossar ou lutar pelas pautas que envolvem identidade de gênero (como o reconhecimento legal de gênero, o uso de pronomes ou a inclusão de pessoas trans em espaços específicos de homens ou mulheres).

DISPUTA DE NARRATIVA: A LGBI passa a contestar abertamente a narrativa de que as pautas de orientação sexual e identidade de gênero são intrinsecamente ligadas, criando um debate polarizado dentro do movimento social.

FOCO EM SEXO BIOLÓGICO: Ao basear sua missão no sexo biológico, o grupo reforça a ideia de que a atração homossexual ou bissexual é necessariamente por alguém do mesmo sexo (macho atraído por macho, fêmea atraída por fêmea), em contraposição à ideia de atração por uma identidade de gênero.

Em resumo, a cisão é um reflexo de uma disputa conceitual sobre o papel do sexo biológico versus a identidade de gênero no ativismo e na definição de direitos. A LGBI busca delimitar seu foco e excluir a agenda trans de suas prioridades, argumentando que o sexo é dividido entre macho e fêmea e é uma realidade material imutável. Afirma que, ao substituir o sexo por gênero, como o movimento trans propõe, apaga-se a definição do que é mulher e homem e também a de orientação sexual.

1 de outubro de 2025

AS TRÊS CONCEPÇÕES DE AMOR

A seguir, as três concepções de amor oferecidas por grandes mestres espirituais: Eros (Platão), Phília (Aristóteles) e Ágape (Cristo).

AMOR EROS (PLATÃO): O primeiro, proposto por Platão, é o amor-desejo. O chamado “amor platônico”, ou Eros, baseia-se na falta: amamos enquanto desejamos o que não temos. Quando o desejo cessa, o amor também desaparece. Esse movimento pode ser visto no trabalho: o desempregado deseja emprego; quando o consegue, logo deseja férias.

É preciso renovar o desejo para manter o Eros vivo. O mundo corporativo, com jargões como “sangue nos olhos”, expressa bem essa lógica. Segundo Platão, “ama-se o que não se tem”. Mas uma vida guiada apenas pelo desejo não basta, e foi isso que levou Aristóteles a propor outra concepção.

AMOR PHÍLIA (ARISTÓTELES): Para Aristóteles, o amor é Phília, o vínculo com o que já se possui: os filhos, os amigos, o trabalho. É a alegria pela presença e não pela falta. Enquanto Eros deseja, a Phília se encanta com o que já é realidade. 
Esse amor é raro no mundo corporativo. O “happy hour” sugere que felicidade e trabalho não combinam, como se a alegria estivesse fora do ofício. O desafio é transformar o desejo (Eros) em alegria (Phília), encontrando prazer no que já se faz.

A alegria é a passagem para um estado mais potente do ser. Hobbes chamou de conatus, Spinoza de potência, Nietzsche de vontade, Bergson de elan vital. Eu a chamo de tesão pela vida. Essa energia cresce em pequenos rituais: acordar, tomar café, dar aula. Encantar-se com o que se faz é fundamental, pois passamos grande parte da vida no trabalho. Quem odeia sua atividade dificilmente será feliz.

Não existem fórmulas universais. Gurus vendem receitas fáceis, mas a vida é mais complexa. Cada um, precisa descobrir seu próprio caminho. Por isso, a melhor orientação continua sendo: “conhece-te a ti mesmo.”

Platão e Aristóteles não se excluem. É possível desejar o que falta (Eros) e alegrar-se com o que já se tem (Phília). Infelizmente, fomos treinados apenas para desejar, não para viver a alegria da presença.

AMOR ÁGAPE (CRISTO): O terceiro tipo é o Ágape, o amor de Cristo. Nele, o foco não é o desejo de quem ama (Eros), nem a alegria de quem possui (Phília), mas a alegria do amado. O centro do afeto não está em quem ama, mas naquele que é amado.

Exemplo: o amor dos pais pelos filhos ou a satisfação do professor ao ver o aluno aprender. O amante se afasta para que o amado avance. No Eros, o que importa é meu desejo; na Phília, minha alegria; no Ágape, a alegria do outro.

Não devemos, porém, escolher apenas um. É saudável desejar, alegrar-se e compartilhar essa alegria, diminuindo o sofrimento de quem está ao lado. Sem ter com quem comemorar, até a alegria pessoal se esvai.

Com esses três amores – desejar o que falta, alegrar-se com o que se tem e proporcionar alegria ao outro – a vida ganha mais equilíbrio. Ainda assim, o amor não resolve tudo: convivemos com muitos, mas amamos poucos.

Baseado em transcrição de textos e vídeos do professor Clóvis de Barros Filho, filósofo e docente de Ética na Escola de Comunicações e Artes da USP (ECA/USP).

30 de setembro de 2025

ACREDITAR EM COISAS ESTRANHAS

7 FATORES QUE FAZEM AS PESSOAS ACREDITAREM EM COISAS ESTRANHAS: Em uma pequena cidade de Illinois (EUA), um bandido misterioso – e bizarro – estampava as capas dos jornais lá por volta de 1944. Tudo começou com uma mulher que declarou que um homem entrou em seu quarto no meio da noite e anestesiou suas pernas com um spray a gás paralisante. Logo apareceram os jornais com manchetes como “BANDIDO DO ANESTÉSICO À SOLTA”. E, nos 13 dias seguintes, cerca de 25 casos semelhantes foram relatados e amplamente explorados pela imprensa.

A polícia da cidade ficou de prontidão. E os maridos com suas armas carregadas. Duas semanas depois, ninguém havia sido preso. E nenhum vestígio químico havia sido descoberto. Assim, tanto a polícia quanto a mídia começaram a se referir ao evento como um caso de “histeria de massa”.

Ondas de avistamentos de ETs, chupacabras, fantasmas ou bandidos bizarros cuja existência nunca foi comprovada aparecem de tempos em tempos, em diversos lugares. Às vezes, vira moda ver sinais milagrosos – ou mensagens malignas escondidas em músicas, rótulos, filmes. Mas o que leva uma pessoa a acreditar em coisas como essas? É disso que fala o livro “Por que as pessoas acreditam em coisas estranhas?”, do psicólogo e historiador da ciência americano Michael Shermer. O critério usado por ele para definir o que são coisas “estranhas” é a falta de evidências científicas para comprovar sua existência.

Com base no livro, listamos alguns fatores que influenciam nesse tipo de crença – e podem fazer, inclusive, com que pessoas extremamente inteligentes sejam pegas. Afinal, garante ele, ninguém está completamente imune à histeria coletiva. Dê uma lida e depois diga pra gente se você concorda ou não.

1. ELAS QUEREM ACREDITAR: Segundo Michael Shermer, a principal razão pela qual as pessoas acreditam em coisas estranhas é simples: elas querem acreditar. Mas por quê? Porque dá bem-estar, é reconfortante e consola. Para Shermer, se alguém perguntar qual é a sua posição sobre a vida após a morte, é provável que você diga que é favorável. E explica: “O fato de eu ser favorável à vida após a morte não significa que vou consegui-la [ou que ele acredito nela]. Mas quem não a quereria? É esse o ponto. É uma reação muito humana acreditar nas coisas que nos fazem sentir melhor”.

2. A GRATIFICAÇÃO IMEDIATA: Muitas crenças estranhas promovem um bem-estar instantâneo. Shermer cita no livro o exemplo dos médiuns que atendem pelo telefone – a um custo de 3,95 dólares por minuto. Eles usam as chamadas técnicas de leitura a frio: vão tentando adivinhar as coisas partindo de informações mais gerais (envolvendo coisas banais que são verdadeiras para quase todo mundo, como “pressões financeiras vêm lhe causando problemas” – afinal, até Eike Batista terá um dia difícil se perder grana no mercado financeiro). A partir das pistas que as pessoas vão dando, os supostos médiuns conseguem deduzir as informações mais específicas que impressionarão. Se o médium diz algo que não corresponde à realidade da pessoa naquele momento, a saída é simples: ele diz que a coisa vai acontecer no futuro. E a pessoa acredita. Afinal, a grande sacada é que eles não precisam estar certos o tempo todo. “Quem telefona costuma esquecer os erros e lembrar mais dos acertos e, o mais importante, as pessoas desejam que o médium acerte. Os céticos não gastam 3,95 dólares por minuto nisso, mas os crentes sim”, explica o autor.

3. SIMPLICIDADE: Para termos uma gratificação imediata, é preciso que as crenças tenham explicações simples para as coisas complexas do mundo. “Coisas boas e ruins acontecem tanto para as pessoas boas quanto para as ruins, aparentemente de modo aleatório. As explicações científicas costumam ser complicadas e requerem treino e esforço para ser entendidas. A superstição e a crença no destino e no sobrenatural oferecem um caminho mais simples”, diz Shermer. Para ilustrar isso, ele conta uma experiência de Harry Edwards, chefe da Australian Skeptics Society (Sociedade dos Céticos Australianos).

Edwards publicou uma carta num jornal local falando sobre uma galinha de estimação que ele costumava carregar empoleirada nos seu ombro. Às vezes, porém, ela não se segurava e acabava deixando um “cartão de visitas” na sua camisa. Mas o que poderia ser algo desagradável acabava dando origem a acontecimentos muito positivos.

Edwards listou alguns desses episódios e os correlacionou com certos eventos que ocorriam em seguida e chegou à conclusão de que o cocô da galinha lhe trazia boa sorte. Sempre que ela carimbava sua roupa, ele encontrava uma carteira com dinheiro, ganhava na loteria, recebia alguma notícia boa. Então ele levou a ave para várias consultas espirituais e descobriu que ela havia sido um filantropo numa vida passada e que tinha reencarnado para fazer o bem às pessoas – por meio de suas fezes. Assim, Edwards terminou sua carta ao jornal oferecendo-se para vender saquinhos com o “cocô da sorte” de sua galinha. Era tudo um teste, mas ele recebeu dois pedidos e 20 dólares pela “mercadoria”. Sim, houve pessoas que compraram a história. Porque ela era simples – mais fácil que as leis da probabilidade, por exemplo.

4. NÍVEL DE INCERTEZAS E PERIGOS DO LOCAL: O local onde a pessoa está influencia suas crenças. Estudos mostraram que quanto mais incertezas o ambiente oferece, maior é a superstição. O antropólogo Bronislaw Malinowski constatou, por exemplo, que os habitantes das ilhas Trobriand, no litoral da Nova Guiné, recorriam mais a rituais supersticiosos à medida que se afastavam no mar para pescar. Nas águas calmas das lagoas a que estavam acostumados, os rituais desapareciam. Ele concluiu, então, que a magia aparece em situações em que estão em jogo a incerteza, o acaso e um jogo emocional intenso entre a esperança e o medo. “Não encontramos isso quando a atividade é certa, confiável e está sob o controle de métodos racionais e processos tecnológicos”, conta Malinowski.

5. ABERTURA A NOVAS EXPERIÊNCIAS: Estudos envolvendo experiências místicas concluíram que as pessoas com maior predisposição ao misticismo (ou seja, à crença em coisas estranhas) tendem a ter uma personalidade com altos níveis de complexidade, abertura a novas experiências, variedade de interesses, inovação, tolerância à ambiguidade e criatividade. Elas também podem ter maior propensão a serem absorvidas em fantasias, capacidade de suspender o processo de julgamento que permite separar eventos reais e imaginação e uma boa disposição de investir seus recursos mentais para representar o objeto imaginário do modo mais vívido possível.

6. O FATO DE PESSOAS INTELIGENTES EM UM CAMPO DA CIÊNCIA NÃO SEREM NECESSARIAMENTE INTELIGENTES EM OUTRO: Michael Shermer chama atenção para o fato de que muitos pesquisadores brilhantes em certas áreas podem cometer erros e deixar passar fatos importantes, por ignorância, ao fazerem incursões em outras áreas. “Os recém-chegados de outros campos, que em geral se enfiam com os dois pés sem o treino e a experiência exigidos, passam a gerar novas ideias que consideram – por causa do sucesso que obtiveram em seu próprio campo – revolucionárias”. O problema é que, na maioria dos casos, aquelas ideias já foram avaliadas anos ou até décadas antes – e foram rejeitadas por razões legítimas.

7. “PESSOAS INTELIGENTES ACREDITAM EM COISAS ESTRANHAS PORQUE TÊM CAPACIDADE PARA DEFENDER CRENÇAS ÀS QUAIS CHEGARAM POR RAZÕES NÃO INTELIGENTES”: Segundo Shermer, a maioria das pessoas constitui suas crenças por uma variedade de razões que não têm muita evidência empírica nem raciocínio lógico. Elas fazem suas escolhas segundo variáveis como a constituição genética, social, influência de familiares e amigos, experiências pessoais etc. “Selecionamos dentre a massa de dados aquilo que confirme mais as coisas em que já acreditamos e ignoramos ou racionalizamos o que não vem confirmá-las. Todos fazemos isso, mas as pessoas inteligentes fazem melhor, seja por talento ou por estarem treinadas”, explica. Assim, elas também podem defender melhor suas crenças para si mesmas.

Texto de Ana Carolina Prado
Em Super/Abril 2011

MILAGRE X FATALIDADE

Há uma tendência no ser humano em atribuir tudo aquilo que de bom acontece, sem uma explicação admissível a sua razão, a um milagre. E tudo que de mal acontece, a uma fatalidade. Quando ocorrem “milagres”, atribuímos a Deus a sua autoria. Mas quando acontecem “fatalidades”, logo tratamos de tirar a culpa do Criador, atribuindo-as ao demônio, ao livre arbítrio ou ao carma, ou mesmo, ao acaso.

Entretanto, demônio, livre-arbítrio e carma, foram criados pelo próprio ser humano, para fechar algumas lacunas – de não conseguir explicar a existência do mal sobrepujando o bem com notável frequência, apesar de Deus ser um Pai onipotente e bondoso.

1. Deus é imutável. Se Ele fizesse milagres, estaria mudando os seus desígnios, que são eternos.

2. Deus é um ser absolutamente perfeito. Ora, o milagre parece ser um retoque ou um corretivo imposto à obra da sua criação.

Nosso cérebro foi formatado para encontrar sentido em tudo. Por exemplo, acertar na Mega Sena é extremamente difícil. A chance é de 1 para mais de 50 milhões. Mas como sempre haverá ganhadores, nós atribuímos essa ocorrência a sorte.

Mas, se os números sorteados forem 01, 02, 03, 04, 05 e 06, e o ganhador for uma pessoa carente, religiosa e necessitando de recursos financeiros imediatos, logo atribuiríamos isso a um milagre, apesar da chance de dar essa sequência ou outra, é a mesma. Outro exemplo, se um passageiro chegar atrasado ao aeroporto, não conseguindo embarcar, e após, o avião cair matando todos os passageiros, atribuímos isso a um milagre.

Não levamos em conta os dados estatísticos, tais como: a toda a hora pessoas chegam atrasadas ao aeroporto e não embarcam; constantemente pessoas antecipam voos; a toda a hora pessoas prorrogam voos, e uma série de combinações possíveis, com ou sem queda de avião.

Existem fenômenos que ocorrem e nossa razão consegue elucidar. Então, as pessoas indolentes não se esforçam para esclarecer e preferem atribuir esse fenômeno a obra divina, e chegam a conclusão que é um “milagre” e pronto. Um fato ou fenômeno para ser considerado milagre tem que ser de impossível ocorrência. Assim temos:

1. Num desastre aéreo: se um único passageiro se salvar. É impossível? NÃO. Então não é milagre (A probabilidade de um avião cair e só uma pessoa se salvar é de 1 em 40 milhões. Desde 1970, 16 pessoas conseguiram esse feito).

2. Num desastre aéreo: se uma pessoa perder o voo (com ou sem intuição) e o avião cair. É impossível? NÃO. Então não é milagre (em todos os voos existem pessoas perdendo, adiantando ou prorrogando os voos).

3. Num desastre aéreo: se o avião a 12 km de altitude se desintegrar totalmente e um passageiro sobreviver. É impossível? Talvez SIM. Então é milagre.

4. Num desastre aéreo: se uma pessoa queimar durante 2 horas, a uma temperatura de mais de 1.000 graus, sem proteção nenhuma, e sobreviver. É impossível? Talvez SIM. Então é milagre.

5. Numa doença terminal. Se uma pessoa sobreviver a um câncer “terminal” (com reza ou não). É impossível? NÃO. Então não é milagre (Diagnóstico malfeito; melhora temporária; cura natural pela imunidade; etc.).

Milagre é uma crença. Crenças são produtos do cérebro, explicações internas que criamos para satisfazer nossos anseios e aflições. São convicções sobre a realidade que adquirimos no decorrer da vida através das pessoas com as quais convivemos.

Como somos seres acomodados e indolentes e não queremos ser responsáveis por nossos atos, preferimos entregar tudo isso nas mãos do destino. Outra opção é aceitar esses acontecimentos (milagres ou fatalidades), como obra do Acaso, ou das leis da Natureza, ou de algum outro causador ainda não identificado.

26 de setembro de 2025

TERAPIAS ESPÚRIAS (3)

25 FORMAS DE RECONHECER CHARLATÕES NUTRICIONAIS: Como os charlatões da área nutricional e outros empurradores de vitaminas podem ser reconhecidos? Aqui estão 25 sinais que devem levantar suspeitas.

1. Falam apenas parte da história: Charlatões elogiam vitaminas e minerais, mas omitem que uma dieta balanceada já fornece os nutrientes necessários.

2. Alegam que a maioria das pessoas tem má nutrição: Essa tática de medo é falsa, pois o principal problema nutricional nos EUA é o excesso de peso. Desperdiçar dinheiro com suplementos desnecessários é especialmente prejudicial para os mais pobres.

3. Recomendam “seguro nutricional” para todos: Sugerem que todos correm risco de deficiência vitamínica e, por isso, devem tomar suplementos. Nunca admitem que a maioria das pessoas não precisa de seus produtos.

4. Atribuem a maioria das doenças à dieta: Isso não é verdade. Embora a dieta seja um fator em algumas doenças, a maioria não tem relação direta com a alimentação. Sintomas como fadiga são frequentemente reações ao estresse, não deficiências nutricionais.

5. Distorcem o processamento de alimentos: Alegam que métodos modernos destroem nutrientes. Embora alguns processos os modifiquem, outros os adicionam. O calor não destrói minerais, e a maioria dos nutrientes perdidos na moagem do trigo são repostos no processo de enriquecimento.

6. Atribuem o comportamento à dieta: Ligam a dieta não apenas a doenças, mas também a problemas comportamentais, como hiperatividade e comportamento criminal. Essas alegações são baseadas em pesquisas malplanejadas e evidências anedóticas.

7. Alegam que a fluoretação da água é perigosa: Por não lucrarem com o flúor, que é essencial para a saúde dos dentes, eles o atacam, defendendo filtros que o removem.

8. Criticam fertilizantes e pesticidas: Promovem alimentos “orgânicos” alegando que são mais seguros e nutritivos, o que não é verdade. Fertilizantes sintéticos e naturais fornecem os mesmos químicos para as plantas.

9. Acusam aditivos alimentares de serem venenos: Usam o medo para minar a confiança em cientistas e agências reguladoras. A verdade é que os aditivos são usados em pequenas quantidades e não representam ameaça à saúde.

10. Atacam as recomendações de ingestão diária (RDAs): Afirmam que as RDAs são muito baixas para que você compre seus suplementos. Na realidade, as recomendações são ajustadas para serem superiores ao que a maioria das pessoas precisas.

11. Alegam que o estresse aumenta a necessidade de nutrientes: Alegam que o estresse rouba vitaminas do corpo, mas as necessidades extras, quando existem, são facilmente supridas por uma alimentação adequada.

12. Vendem “alimentos saudáveis” e “suplementos”: Desvalorizam a alimentação normal para lucrar com a venda de produtos. O termo “alimento saudável” é um slogan enganoso. Qualquer alimento pode ser saudável em moderação.

13. Promovem vitaminas “naturais” como melhores: Mentem ao dizer que vitaminas “naturais” são superiores às sintéticas. Elas são quimicamente idênticas.

14. Usam questionários para indicar deficiências: Nenhum questionário pode fazer um diagnóstico nutricional preciso. Eles são programados para concluir que todos têm deficiências, incentivando a compra de suplementos.

15. Prometem perda de peso fácil: A única maneira de emagrecer é queimar mais calorias do que se consome. As dietas da moda são insustentáveis. A “celulite” é apenas gordura comum.

16. Prometem resultados milagrosos: Fazem promessas sutis para escapar da fiscalização. Não se importam com os prejuízos financeiros e emocionais que causam.

17. Vendem suplementos em seus consultórios: Profissionais que vendem suplementos diretamente a seus pacientes geralmente os recomendam de forma inapropriada.

18. Usam jargão pseudomédico: Prometem “desintoxicar” ou “revitalizar” o corpo. Tais termos servem para enganar e evitar acusações de exercício ilegal da medicina.

19. Usam anedotas e testemunhos: Baseiam suas alegações em relatos pessoais, que são ineficazes para provar a causa e efeito. A evidência testemunhal é rejeitada pela ciência.

20. Afirmam que o açúcar é um veneno mortal: Embora o açúcar contribua para a cárie, ele é uma fonte de calorias segura e prazerosa quando consumido com moderação.

21. Exibem credenciais não reconhecidas: Usam títulos de escolas não credenciadas ou se autointitulam “especialistas”. A comunidade científica não reconhece tais títulos.

22. Oferecem exames para vender produtos: Usam exames como análise de cabelo para diagnosticar supostas deficiências e recomendar produtos. Tais métodos são inúteis e enganosos.

23. Acusam a medicina de perseguição: Alegam conspirações, dizendo que a medicina “ortodoxa” os persegue. Essa é uma tática para ganhar simpatia, mas é facilmente refutável.

24. Advertem para não confiar nos médicos: Charlatões criticam os médicos para que você confie neles. Alegam que os médicos não entendem de nutrição, o que é falso, já que a nutrição faz parte da formação médica.

25. Encorajam os Pacientes a Concederem Apoio Político aos Seus Métodos de Tratamento: Há um século, ideias novas podiam ser rejeitadas pela ciência e depois aceitas. Mas hoje, tratamentos eficazes são bem recebidos e não precisam de grupos de pressão. Charlatões buscam apoio político porque não conseguem provar que seus métodos funcionam. Eles tentam legalizar seus tratamentos e forçar companhias de seguro a cobri-los. Uma campanha política para legalizar um tratamento é um claro sinal de que ele não funciona.

Baseado nos textos dos autores: Dr. Beyerstein, MD. Biopsicólogo na Simon Fraser University em Burnaby & Stephen Barrett, MD. Psiquiatra.

TERAPIAS ESPÚRIAS (2)

POR QUE PROFISSIONAIS DA SAÚDE SE TORNAM CHARLATÕES: É lamentável quando um profissional de saúde se dedica ao charlatanismo. Amigos e colegas costumam se perguntar como isso acontece. Algumas das razões aparentes são:

TÉDIO: A rotina de trabalho pode ser monótona, e ideias pseudocientíficas podem parecer excitantes. O falecido Carl Sagan defendia que as qualidades que tornam a pseudociência atraente são as mesmas da ciência genuína. Ele lamentava que muitos preferem a pseudociência, quando a verdadeira ciência oferece tanto a quem está disposto a se esforçar.

BAIXA AUTOESTIMA PROFISSIONAL: Profissionais que não se sentem suficientemente valorizados podem compensar isso com alegações extravagantes. Odontólogos renegados chegam a dizer que "todas as doenças podem ser vistas na boca do paciente". Da mesma forma, podólogos, iridologistas, quiropráticos e outros usam suas áreas de atuação para fazer alegações extraordinárias. Médicos também não estão imunes, podendo elevar seu status ao alegar curar doenças que especialistas treinados não conseguem.

TENDÊNCIAS PARANORMAIS: Muitos sistemas de saúde são, na verdade, religiões higiênicas com crenças profundas sobre a natureza da realidade, salvação e estilo de vida. Vegetarianismo, quiropraxia, homeopatia e outras práticas estão enraizadas no vitalismo, uma doutrina que atribui as funções de um organismo a um “princípio vital” distinto das forças físico-químicas. Os vitalistas são anticientíficos, pois rejeitam o reducionismo, materialismo e mecanicismo da ciência, preferindo a experiência subjetiva à razão e à lógica.

ESTADO MENTAL PARANOIDE: Algumas pessoas veem conspirações em todo lugar. Elas podem acreditar que a fluoretação da água é uma conspiração para envenenar a população ou que a medicina organizada esconde a cura para o câncer. Enquanto a paranoia individual é frequentemente associada a transtornos mentais, a paranoia coletiva, dirigida a uma nação ou cultura, pode parecer mais racional e justa para quem a defende.

CHOQUE COM A REALIDADE: Profissionais de saúde que lidam com doenças terminais podem ser confrontados com a dura realidade da morte. Alguns não conseguem lidar com isso e se desiludem com a medicina padrão, adotando terapias não comprovadas devido às suas limitações e efeitos colaterais.

INTRUSÃO DE CRENÇAS: A ciência é limitada a fenômenos observáveis e mensuráveis. Crenças que a transcendem pertencem à filosofia ou religião. Permitir que essas crenças interfiram na prática clínica não é apropriado, pois noções metafísicas não devem substituir ou distorcer diagnósticos e procedimentos científicos. Quem deseja atuar com base em crenças religiosas deve seguir uma carreira diferente.

O MOTIVO DO LUCRO: O charlatanismo pode ser extremamente lucrativo. A ganância pode levar profissionais de saúde a ignorarem a ética, visando apenas o dinheiro.

O MOTIVO DO PROFETA: Assim como profetas clamavam por conversão, alguns médicos se veem no papel de convencer pacientes a mudarem seus estilos de vida. Esse papel pode gerar um senso de poder sobre as pessoas. Charlatões, por sua vez, se deleitam com esse poder, explorando a adulação de seus seguidores. A egomania é comum entre eles, pois aproveitam a adulação que a suposta superioridade evoca.

TENDÊNCIAS PSICOPATAS: Dr. Robert Hare, que investigou o tema por mais de vinte anos, afirma que psicopatas são encontrados em todas as profissões. Ele os descreve como pessoas desprovidas de empatia e consciência, exibindo características como eloquência, charme superficial, grandiosidade, mentira patológica e falta de culpa. Essas características são frequentemente vistas em charlatões.

O FENÔMENO DA CONVERSÃO: Algumas pessoas que se tornam charlatões enfrentam crises pessoais, como divórcio ou doenças crônicas, que as levam a buscar refúgio em novas crenças. Um estudo revelou que a razão mais comum para médicos adotarem práticas “holísticas” foram “experiências espirituais ou religiosas”. É crucial mobilizar aqueles que compreendem o perigo do charlatanismo para combater sua disseminação.

Baseado nos textos dos autores: Dr. Beyerstein, MD. Biopsicólogo na Simon Fraser University em Burnaby & Stephen Barrett, MD. Psiquiatra.

TERAPIAS ESPÚRIAS (1)

POR QUE ELAS PARECEM FUNCIONAR: Forças sutis podem levar pacientes e terapeutas, por mais inteligentes que sejam, a acreditarem que um tratamento funcionou quando, na verdade, não o fez. Isso se aplica a novos tratamentos na medicina científica, práticas alternativas, medicina popular e terapias de cura pela fé.

Muitos métodos duvidosos persistem no mercado porque satisfazem os consumidores, que oferecem testemunhos de seu valor. A mídia frequentemente apresenta esses testemunhos como evidência válida, mas sem testes apropriados, é impossível determinar sua veracidade. Este artigo descreve sete razões pelas quais as pessoas podem erroneamente concluir que uma terapia ineficaz funciona.

1. A DOENÇA PODE SEGUIR SEU CURSO NATURAL: Muitas doenças são autolimitadas. Se a condição não é crônica ou fatal, o próprio corpo se recupera. Para demonstrar a eficácia de uma terapia, seus defensores devem provar que o número de pacientes recuperados supera o esperado sem tratamento. Sem dados detalhados de sucesso e fracasso em um grande número de pacientes, não se pode alegar ter superado a recuperação natural.

2. MUITAS DOENÇAS SÃO CÍCLICAS: Condições como artrite, esclerose múltipla e alergias têm altos e baixos. As pessoas tendem a buscar tratamento durante as recaídas, o que faz com que uma terapia espúria coincida com a melhora que ocorreria de qualquer forma.

3. O EFEITO PLACEBO: Através de sugestão, crença e expectativa, pacientes que recebem tratamentos ineficazes biologicamente podem experimentar alívio. Algumas respostas placebo produzem mudanças reais, enquanto outras são subjetivas, fazendo com que o paciente se sinta melhor sem qualquer mudança objetiva na patologia.

4. O CRÉDITO É ATRIBUÍDO À COISA ERRADA: Se a melhora ocorre após o paciente ter sido submetido a tratamentos alternativos e científicos, a prática marginal muitas vezes recebe uma parcela desproporcional do crédito.

5. O DIAGNÓSTICO OU PROGNÓSTICO INICIAL PODE ESTAR INCORRETO: Médicos não são infalíveis. Um diagnóstico errado, seguido por uma visita a um curandeiro alternativo, pode levar a testemunhos de cura para uma condição que se resolveria sozinha. Em outros casos, o diagnóstico pode ser correto, mas o prognóstico, difícil de prever, pode se mostrar impreciso.

6. A MELHORA DO HUMOR É CONFUNDIDA COM CURA: Curandeiros alternativos possuem personalidades fortes e carismáticas. O aspecto messiânico da “medicina alternativa” pode levar a uma melhora psicológica temporária, confundida com cura.

7. NECESSIDADES PSICOLÓGICAS DISTORCEM A PERCEPÇÃO: Mesmo sem melhora objetiva, pessoas com um grande investimento psicológico em terapias alternativas podem se convencer de que foram ajudadas. De acordo com a teoria da dissonância cognitiva, a angústia mental gerada quando a experiência contradiz as crenças existentes é aliviada pela distorção da informação. Em vez de admitir que seus esforços foram um desperdício de tempo e dinheiro, muitos buscam algum valor para redimir o tratamento.

A crença é defendida vigorosamente pela distorção da percepção e da memória. Praticantes à margem da ciência e seus clientes podem interpretar erroneamente sugestões e lembrar das coisas como gostariam que tivessem acontecido, superestimando seus sucessos e ignorando os fracassos.

O método científico evoluiu para reduzir o impacto dessa tendência humana de tirar conclusões precipitadas. Além disso, as pessoas se sentem obrigadas a retribuir quando alguém lhes faz algo de bom. Já que a maioria dos terapeutas alternativos acredita sinceramente que estão ajudando, é natural que os pacientes queiram agradá-los em troca, inflando sua percepção dos benefícios recebidos.

Cuidado! Distinguir relações causais exige estudos bem conduzidos e análise de dados. Muitas fontes de erro podem confundir quem se baseia na intuição ou razão informal. Antes de concordar com qualquer tratamento, certifique-se de que ele faz sentido e foi validado cientificamente por estudos que controlam a resposta placebo e os vieses de julgamento. Desconfie se a “evidência” consistir apenas de testemunhos, panfletos ou livros publicados pelo autor.

Baseado nos textos dos autores: Dr. Beyerstein, MD. Biopsicólogo na Simon Fraser University em Burnaby & Stephen Barrett, MD. Psiquiatra.

A ÉTICA EVOLUCIONISTA

Em sua obra de 1871, A descendência do homem, Darwin apresenta a teoria dos “sentimentos morais”. Ele não destacou explicitamente as implicações perturbadoras de sua teoria: a de que nosso senso de certo e errado, que parece ser uma dádiva divina, é, na verdade, um produto arbitrário da evolução. Essa ideia de relativismo moral foi percebida por alguns, como a Edinburgh Review, que previu uma “revolução no pensamento que sacudirá a sociedade em suas bases”, destruindo a santidade da consciência e da religião.

O vaticínio não foi infundado. Hoje, a consciência não tem o mesmo peso de antes, e muitos departamentos de filosofia tendem ao niilismo. Essa mudança pode ser atribuída ao impacto de Darwin, que, com A origem das espécies, questionou a criação bíblica e, em A descendência, abalou a posição do senso moral.

Sentimentos como simpatia, empatia, compaixão, culpa, e até mesmo a noção de justiça e de que o bem deve ser recompensado e o mal punido, podem ser vistos como meros vestígios da história orgânica. O próprio discurso moral se torna suspeito; um código moral é um compromisso político, moldado por grupos de interesse. Assim, os valores morais não vêm “do alto”, mas são formados desproporcionalmente pelas partes da sociedade que detêm o poder.

John Stuart Mill, em seu ensaio Nature, já havia argumentado que a natureza opera com indiferença, impondo sofrimento de forma aleatória a todos. Ele questionava o projeto divino ao observar a dor imensa no mundo, a ponto de concluir que, se Deus fosse bom, a natureza seria um "esquema a ser corrigido, e não imitado, pelo Homem". Darwin compartilhava dessa visão, sendo incapaz de conciliar a dor no mundo, como a de vespas que se alimentam de lagartas vivas, com a ideia de um Deus benevolente.

Darwin e Mill viram a solução para essa questão ética no utilitarismo. Mill foi o principal divulgador dessa filosofia, que defende que as ações são boas na medida em que aumentam a felicidade e más quando aumentam o sofrimento. O objetivo é maximizar a felicidade total no mundo. A crença na bondade da felicidade e na maldade do sofrimento é a base fundamental que a maioria das pessoas compartilha. Portanto, o utilitarismo surge como a única base prática para um código moral público e amplamente aceito.

A questão crucial era: por que se preocupar com a felicidade dos outros? A resposta é puramente prática: um sistema de consideração mútua beneficia a todos. Se cada um se abstém de prejudicar o outro, o resultado é uma melhoria geral da vida, sem o custo adicional do medo e da vigilância. Essa lógica, baseada na “soma diferente de zero”, leva à conclusão de que o utilitarismo amplamente praticado melhora a vida de todos. Mill levou essa ideia a um extremo: devemos agir sempre que o benefício para o outro for maior que o nosso próprio esforço, considerando o bem-estar dos outros tão importante quanto o nosso. Essa doutrina radical encontra seu eco na “Regra de Ouro de Jesus de Nazaré”: fazer aos outros o que gostaríamos que nos fizessem.

No entanto, Darwin percebeu que sua ética utilitarista contrariava os valores implícitos na seleção natural. A dor e a morte são a base do progresso orgânico, moldando os animais para infligir mais sofrimento. O egoísmo humano, por exemplo, raramente se manifesta de forma evidente; somos projetados para justificar nossas ações, pensando que somos bons e nosso comportamento, defensável. O novo paradigma darwinista, ao expor a maquinaria biológica por trás dessa ilusão, torna o autoengano mais difícil.

Darwin acreditava que a espécie humana é moral, a única nesse sentido. Ele definia um ser moral como aquele capaz de avaliar suas ações passadas e futuras. Embora tenhamos a capacidade técnica de nos submeter ao escrutínio moral, não fomos projetados para isso naturalmente. Para nos tornarmos animais morais, precisamos entender até que ponto não o somos.

No fim de sua vida, Darwin, agnóstico, refletia sobre o significado da vida sem a crença em Deus. Ele acreditava que a maior satisfação vinha do exercício de instintos sociais, como agir para o bem dos outros e conquistar a aprovação e o amor. A razão pode nos levar a agir contra a opinião dos outros, mas a satisfação de seguir nossa própria consciência é uma recompensa. Embora não tenha vivido uma vida perfeitamente utilitarista, Darwin lutou contra as correntes do egoísmo, cuja origem ele foi o primeiro a identificar. Sua vida, embora imperfeita, foi decente e compassiva, uma prova do que os seres humanos são capazes de alcançar.

Baseado no Livro “O Animal Moral”, de Robert Wright – Editora Campus

25 de setembro de 2025

VITAMINAS, MINERAIS E SUPLEMENTOS

Para a imunidade de idosos com mais de 60 anos, algumas vitaminas, minerais e suplementos são especialmente importantes, pois o sistema imunológico tende a se enfraquecer com a idade. Veja algumas:

VITAMINA “A” – É importante para a visão, saúde da pele, sistema imunológico e o crescimento de todos os tecidos do corpo. Sua falta pode causar atraso no crescimento e levar ao espessamento do epitélio da pele e de outras partes do corpo. Quando isso acontece na membrana que reveste o globo ocular (a córnea), ela pode se tornar opaca, causando cegueira. Outro problema relacionado à deficiência de vitamina A é a cegueira noturna, que é a falta de adaptação da visão em locais mal iluminados, o que pode ser um perigo para quem dirige à noite.

VITAMINA “B12” – Importante para a formação de glóbulos vermelhos e para a saúde do sistema nervoso. Sua carência pode causar a anemia perniciosa, doença em que há uma diminuição do número de glóbulos vermelhos e em que muitos deles aumentam de tamanho.

VITAMINA “C” – É um antioxidante que fortalece o sistema imunológico, auxilia na absorção de ferro e na cicatrização. Ela mantém o equilíbrio das substâncias intercelulares em todo o corpo. Sua deficiência provoca dificuldade de cicatrização de ferimentos e fragilidade das paredes dos vasos sanguíneos. Em consequência, podem ocorrer sangramentos nas gengivas, aparecimento de manchas hemorrágicas na pele e muitas anormalidades internas que caracterizam o escorbuto.

VITAMINA “D3” – É importante para a absorção de cálcio, saúde óssea e imunidade. Sua falta causa o raquitismo, doença em que os ossos se tornam pouco resistentes pela falta de cálcio.

VITAMINA “E” – É um antioxidante que protege as células do corpo e contribui para a saúde do sistema imunológico. A falta de vitamina E no organismo humano altera as funções dos organoides citoplasmáticos, como as mitocôndrias e os lisossomos. Em animais, como ratos, por exemplo, ela interfere na produção de células sexuais, causando esterilidade.

VITAMINA “K” – É essencial para a coagulação sanguínea e a saúde óssea. Ela é necessária para a produção de fatores que participam da coagulação do sangue. Sua carência pode causar hemorragias.

COENZIMA Q10 – Auxilia na reparação celular e age como antioxidante. Ajuda na produção de energia dentro das células, a combater o dano oxidativo (através da ação antioxidante) e pode ter benefícios para a saúde do coração, cérebro e pele. Também é utilizada em alguns suplementos para aumentar a resistência física e reduzir a fadiga, além de poder ajudar no alívio de dores musculares em condições como a fibromialgia.

LUGOL (IODO): A solução de Lugol, que contém iodo, também é citada por ele, principalmente para a saúde da tireoide. É utilizada para repor deficiências de iodo, melhorar a saúde reprodutiva, auxiliar na remoção de metais pesados e apresentar potenciais propriedades anticancerígenas, especialmente na regulação do estrogênio.

MAGNÉSIO – Contribui para a saúde muscular e óssea. É considerado um dos suplementos mais importantes. O solo brasileiro é pobre nesse mineral, e a deficiência de magnésio pode estar ligada a diversos problemas de saúde, como pressão alta e estresse.

OMEGA 3 – Essencial para a saúde cardiovascular e a função cerebral, além de reduzir o risco de Alzheimer. Este é fortemente recomendado. O ômega-3 é crucial para a saúde da retina e para prevenir a degeneração macular relacionada à idade.

PROBIÓTICOS – Contribuem para a saúde intestinal e a imunidade. São microrganismos vivos que ajudam no equilíbrio da nossa flora intestinal. Quando consumidos em quantidades adequadas, podem oferecer benefícios à saúde digestiva e imunológica.

WHEY PROTEIN – Preserva a massa muscular, dando mais força e prevenindo quedas. Para idosos, é um grande aliado para reverter os sintomas da sarcopenia, recuperando a força, aumentando a massa muscular e combatendo a inflamação do tecido muscular. Além disso, o seu consumo também fortalece o sistema imunológico e ajuda a prevenir doenças.

SELÊNIO – Age como antioxidante e combate infecções virais. Ele tem uma forte ação antioxidante, protegendo as células e combatendo os radicais livres, o que contribui para o bom funcionamento da tireoide, o reforço do sistema imunológico, a melhora da fertilidade e a prevenção de doenças degenerativas.

ZINCO – Importante para a imunidade e a cicatrização. Ele fortalece o sistema imunitário, acelera a cicatrização de feridas, promove o crescimento e desenvolvimento, mantém a saúde da pele, cabelo e olhos, regula a função dos sentidos do paladar e olfato, além de atuar em centenas de reações enzimáticas e metabólicas essenciais para o corpo.

SOROTERAPIA OU TERAPIA INJETÁVEL. A seguir, o uso de injeções de vitaminas, minerais e outras substâncias. É importante lembrar que, antes de iniciar qualquer suplementação, é essencial procurar orientação profissional de um médico ou nutricionista. Esses profissionais podem avaliar suas necessidades individuais, indicar as dosagens corretas e garantir que a suplementação seja segura e eficaz para você:

ÁCIDO ALFA-LIPÓICO – É um antioxidante potente que o Dr. Lair Ribeiro costuma indicar. Ele é conhecido por ser solúvel tanto em água quanto em gordura, o que permite que atue em diversas partes do corpo. O Dr. Lair Ribeiro defende seu uso, inclusive por via intravenosa (na veia), para combater o estresse oxidativo e proteger as mitocôndrias, que são as “centrais de energia” das células.

TRAUMEEL – É um medicamento homeopático complexo, usado topicamente ou por injeção, para aliviar dores e inflamações em lesões musculoesqueléticas. O Dr. Lair Ribeiro sugere o uso de Traumeel em injeções na coluna para tratar dores crônicas.

INJEÇÕES DE VITAMINAS LIPOSSOLÚVEIS (A, D, E, K) – O Dr. Lair Ribeiro é um grande defensor da suplementação de vitaminas, especialmente as que são mais difíceis de obter em quantidades suficientes apenas com a alimentação. Ele sugere a suplementação quando há deficiência.

INJEÇÕES DE VITAMINAS DO COMPLEXO B (B12 E B9) – O Dr. Lair Ribeiro costuma recomendar a suplementação de Metilcobalamina (B12) e Metilfolato (B9), que são as formas ativas dessas vitaminas. A Metilcobalamina (B12), ele argumenta que essa forma é mais biodisponível do que a cianocobalamina, a forma sintética mais comum, sugere altas doses, inclusive por injeção na veia, para tratar deficiências, melhorar a função neurológica e combater a fadiga. O Metilfolato (B9), essencial para o metabolismo da B12 e para o processo de metilação no organismo. Ele enfatiza a importância de usar o metilfolato, a forma ativa, em vez do ácido fólico, que pode não ser bem metabolizado por algumas pessoas. Ele sugere a suplementação quando há deficiência.

DMSO (DIMETILSULFÓXIDO) – O DMSO é um solvente orgânico com propriedades anti-inflamatórias e analgésicas. O Dr. Lair Ribeiro o utiliza em injeções, muitas vezes combinado com outras substâncias, por acreditar que ele aumenta a permeabilidade das membranas celulares, facilitando a entrada de outras substâncias nas células.

GLICINA E PROLINA – São aminoácidos fundamentais para a síntese de colágeno. O Dr. Lair Ribeiro recomenda a suplementação para a saúde de tecidos conectivos, pele e articulações.

AZUL DE METILENO – Ele fala sobre o azul de metileno como um agente nootrópico (que melhora a função cognitiva), imunomodulador e antioxidante. Ele sugere que, em injeções, ele pode melhorar a oxigenação celular e a função mitocondrial. O uso injetável e as alegações de benefícios para a saúde de maneira geral são controversos na medicina convencional.

OBSERVAÇÃO IMPORTANTE (ALERTA): O uso de injeções de vitaminas, minerais e outras substâncias, conhecido como “soroterapia” ou “terapia injetável”, não é aprovado por órgãos reguladores como a ANVISA no Brasil para a maioria das finalidades divulgadas. A administração dessas substâncias por via intravenosa ou intramuscular deve ser feita por um profissional de saúde habilitado e com base em um diagnóstico clínico, para tratar deficiências específicas e, mesmo assim, é uma prática que gera debate.

TIPOS DE ÁGUA TRATADA

Com a crescente busca por um estilo de vida mais saudável, surgiram diversos métodos para otimizar a qualidade da água que consumimos. Entre eles, destacam-se a água magnetizada, ozonizada e alcalina. Mas você sabe o que realmente diferencia cada uma? E, mais importante, quais benefícios elas trazem para o seu corpo?

Apesar de todas terem o objetivo de melhorar a água comum, cada tipo possui características e processos distintos que agem de maneiras diferentes no organismo. É um erro pensar que todas são iguais, ou que a água industrializada possui as mesmas propriedades.

PRINCIPAIS TIPOS DE ÁGUA TRATADA: Toda água que chega às nossas torneiras e garrafas passa por tratamentos rigorosos para se tornar potável. No entanto, esses processos nem sempre removem todas as impurezas ou otimizam a água para um consumo que traga benefícios extras à saúde. Por isso, métodos adicionais de tratamento se tornaram populares.

ÁGUA ALCALINA: A principal característica da água alcalina é o seu pH elevado, acima de 7 (o pH da água neutra). O processo de alcalinização busca aproximar o pH da água do pH ideal do corpo humano, que varia entre 7,35 e 7,4. Essa alcalinidade é alcançada através de um processo de ionização, que dissocia as moléculas de água. Isso aumenta a concentração de íons hidrogênio (H+) e hidroxila (OH−), transformando sua estrutura e aumentando o potencial de oxigênio. Com isso, ela se torna um potente antioxidante, combatendo os danos da oxidação no organismo e ajudando a equilibrar o pH corporal.

BENEFÍCIOS:
Hidratação celular mais profunda.
Redução do processo de envelhecimento celular.
Fortificação da estrutura óssea.
Ajuda a prevenir doenças relacionadas à acidez corporal (como vírus e bactérias).

APARELHOS: Os aparelhos mais comuns para produzir água alcalina são purificadores que já vêm com essa função, ou acessórios que podem ser usados em jarras e garrafas.

Purificadores de Água Alcalina: São a opção mais completa. Eles geralmente filtram a água e, em seguida, a mineralizam para elevar o pH.

Bastões e Discos Ionizadores: São acessórios portáteis e mais baratos. Você coloca o bastão ou o disco dentro de uma garrafa ou jarra com água comum. Eles contêm minerais (como turmalina e magnésio) que reagem com a água e elevam o pH.

ÁGUA OZONIZADA: A água ozonizada é enriquecida com ozônio (O3), um gás formado a partir de uma molécula de oxigênio (O2) com um átomo extra de oxigênio. Esse processo, realizado por um filtro de ozônio, injeta o gás na água, tornando-a altamente purificada. O ozônio é um poderoso agente desinfetante e oxidante, o que confere à água ozonizada um forte efeito de limpeza e desintoxicação no organismo.

BENEFÍCIOS:
Purificação do sangue e remoção de impurezas.
Combate a bactérias e vírus no corpo.
Pode ser usada para a higienização de alimentos (frutas, verduras e carnes).

APARELHOS: Os aparelhos para ozonizar a água podem ser tanto purificadores completos quanto dispositivos menores e mais simples.

Purificadores de Água com Ozônio: Várias marcas oferecem purificadores que, além da filtração padrão, possuem um gerador de ozônio embutido. O ozônio é ativado por um botão, injetado na água para purificação e eliminação de micro-organismos.

Ozonizadores Portáteis: São aparelhos compactos, geralmente com um tubo de silicone e uma pedra difusora, que geram o ozônio e o injetam em qualquer recipiente com água (como um copo, jarra ou pia). Eles também podem ser usados para ozonizar alimentos, como frutas e vegetais, ou até mesmo o ar.

ÁGUA MAGNETIZADA: A água magnetizada é criada ao submeter a água comum a um campo magnético. Esse campo faz com que as moléculas de água vibrem e se organizem de forma mais ordenada, evitando a formação de grandes aglomerados. A vibração reorganiza a estrutura molecular da água, permitindo que ela seja mais facilmente absorvida pelas células do corpo, melhorando a hidratação celular. O processo também contribui para a hidrólise no organismo — a quebra da molécula de água em íons. Isso ajuda a reduzir a acidez do sangue e auxilia na remoção de toxinas.

BENEFÍCIOS:
Melhora a hidratação celular.
Contribui para a redução da acidez do sangue.
Auxilia na remoção de toxinas do organismo.

APARELHOS: Essa categoria é dominada por dispositivos que usam ímãs para reestruturar as moléculas da água.

Magnetizadores para Galões e Caixas d'Água: São placas ou bastões magnéticos que são inseridos diretamente em galões de água ou fixados no fundo de caixas d'água. O objetivo é que a água passe pelo campo magnético por um período, reordenando suas moléculas.

Magnetizadores Portáteis: São versões menores, muitas vezes em formato de bastões ou pequenos discos, que podem ser usados em garrafas individuais. Eles geralmente combinam ímãs de neodímio com outros minerais para potencializar a ação.

É importante notar que, muitas vezes, as tecnologias são combinadas em um único produto. É muito comum encontrar, por exemplo, purificadores que oferecem água alcalina, ionizada e ozonizada no mesmo aparelho, o que pode ser uma solução prática para quem busca todos esses benefícios.

24 de setembro de 2025

O ALTRUÍSMO RECÍPROCO

O melhor de Freud é sua percepção do paradoxo de sermos animais extremamente sociáveis: sermos no cerne libidinosos, gananciosos e de um modo geral egoístas e, no entanto, termos que viver educadamente com outros seres humanos – termos que alcançar nossas metas animais por meio de uma tortuosa via de cooperação, conciliação e contenção, sendo a mente um lugar de conflito entre os impulsos animais e a realidade social.

Trivers, por sugestão de William Hamilton, utilizou um jogo clássico chamado dilema do prisioneiro. Dois parceiros de crime estão sendo interrogados separadamente e enfrenta uma difícil decisão. O Estado não dispõe de provas para condená–los pela grave violação que cometeram, mas dispõe de provas para condenar ambos por um crime menor – digamos, a um ano de prisão cada. O promotor, querendo uma pena mais severa, pressiona cada homem, isoladamente, a confessar e implicar o outro. Diz:

(1) Se você confessar, mas seu parceiro não, eu liberto você e uso seu testemunho para condenar seu parceiro a dez anos de prisão. O reverso da oferta é uma ameaça:

(2) Se você não confessar e seu parceiro o fizer, você é que vai para a prisão por dez anos.

(3) E se você confessar e seu parceiro também confessar, condeno os dois à prisão, mas por apenas três anos.

Se você estivesse no lugar de um dos prisioneiros, e pesasse suas opções uma a uma, quase certamente se decidiria por confessar – por “trair” seu parceiro. Suponha, para começar, que seu parceiro o traia. Então você estará melhor se trair: receberá três anos de prisão, em vez de dez que receberia se ficasse calado, enquanto ele confessa. Agora, suponhamos que ele não o traia. Você ainda estará melhor se o trair: porque confessando, enquanto ele se cala, você é libertado; mas se você também se mantiver calado receberá um ano de prisão. Assim, a lógica parece irresistível: traia seu parceiro.

Contudo, se os dois parceiros seguirem essa lógica quase irresistível, e traírem um ao outro, passarão três anos na prisão, quando ambos poderiam ter escapado com apenas um ano se tivessem permanecido mutuamente fiéis e de boca fechada. Se ao menos pudessem ter–se comunicado e feito um acordo – então teria nascido a cooperação e ambos se sairiam bem. A traição mútua equivale a nenhum dos dois animais fazerem favor algum: embora ambos pudessem se beneficiar do altruísmo recíproco, nenhum dos dois quer arriscar a pele. A fidelidade mútua é como única rodada bem–sucedida de altruísmo recíproco – um favor feito e retribuído.

Levando tudo em conta, a equivalência entre o modelo e a realidade é bastante boa. A lógica que levaria à cooperação no dilema reiterado do prisioneiro é com razoável precisão a mesma que levaria ao altruísmo recíproco na natureza. A essência dessa lógica, nos dois casos, é o somatório diferente de zero. A característica essencial do somatório diferente de zero é que, mediante a cooperação, ou a retribuição, ambos os jogadores saem ganhando. A divisão do trabalho é uma fonte comum de somatórios diferentes de zero.

Darwin, durante a evolução humana, afirmou em The descent of man, “a medida que a capacidade de raciocínio e previsão se aperfeiçoam, os homens não tardariam a aprender por experiência que se ajudassem seus iguais, normalmente receberiam ajuda em retribuição. Por esse motivo mesquinho o homem talvez tivesse adquirido o hábito de ajudar seus iguais; e o hábito de praticar boas ações certamente fortalece o sentimento de solidariedade, que dá o primeiro impulso às boas ações”.

A Gratidão faz as pessoas pagarem os favores sem pensar muito que é isto que estão fazendo. E se sentimos mais compaixão por determinadas pessoas – pessoas, por exemplo, a que somos gratos – isto pode nos levar, de novo quase inconscientemente, a retribuir o ato de bondade.
Uma reação comum à teoria do altruísmo recíproco é o mal–estar. 

Algumas pessoas se perturbam com a ideia que seus impulsos mais nobres nasçam das manobras mais ardilosas de seus genes. Não é uma reação necessária, mas para aqueles que a têm provavelmente se justificaria uma imersão total. Se de fato raízes geneticamente egoístas da solidariedade e da bondade são motivos de desespero, então que seja um desespero extremo. Pois, quanto mais se reflete sobre pontos positivos do altruísmo, tanto mais mercenário os genes parecem.

Consideramos mais uma vez a questão da solidariedade – em particular, sua tendência a crescer proporcionalmente à gravidade da situação de uma pessoa. Por que nos sentimos mais tristes diante de um homem à míngua de comida do que de um homem apenas faminto? Por que o espírito humano é algo magnânimo, devotado a minorar o sofrimento? Tente adivinhar outra vez.

Trivers abordou esta questão perguntando por que a gratidão em si varia conforme a situação da qual a pessoa grata é salva. Por que alguém se sente extremamente grato por um sanduíche salvador após passar três dias na selva e moderadamente grato por um jantar gratuito na mesma noite? A resposta de Trivers é simples, crível, e nem tão surpreendente: a gratidão, ao refletir o valor do benefício recebido, calibra a retribuição adequada. A gratidão é uma “promissória”, portanto registra naturalmente o que é devido.

Para o benfeitor, a moral da história é clara: quanto mais desesperada a situação do beneficiário, tanto maior a promissória. A solidariedade finamente sensível é apenas um conselho de investimento excepcionalmente nuançado. Nossa mais profunda compaixão é a nossa melhor busca pela melhor oferta.

A maioria de nós verá com desprezo um médico de pronto–socorro que quintuplicasse seus honorários para tratar pacientes à beira da morte. Nós o chamaríamos de explorador insensível. E perguntaríamos: “Será que o senhor não tem noção de solidariedade?” E se ele tivesse lido Trivers, responderia: “Tenho, e muita. Só estou sendo honesto quanto ao significado da minha solidariedade”. Isto seria um balde de água fria em nossa indignação.

Quando passamos por uma pessoa sem–teto, podemos nos sentir mal por não ajudá–la. Mas o que realmente faz a consciência doer é olhar nos olhos da pessoa e ainda assim não ajudar. Aparentemente não nos incomodamos tanto em não dar, quanto em sermos observados não dando. E a razão de nos importamos coma opinião de alguém que jamais voltaremos a ver: talvez em nosso ambiente ancestral quase todos que encontrávamos eram pessoas que poderíamos muito bem tornar a encontra.

Na verdade, o altruísmo recíproco da variedade individualizada pode, por si, produzir um comportamento pretensamente coletivista. Em uma espécie dotada de linguagem, uma maneira eficaz e pouco trabalhosa de premiar pessoas boas e punir as más é afetar sua reputação. Espalhar a notícia de que alguém foi desonesto com você é uma retaliação poderosa, pois leva a pessoas a não serem altruístas com ele, receosas de se verem prejudicadas.

Isto talvez ajude a explicar a evolução da “injúria” – não apenas o sentimento de ter sido injustiçado, mas a compulsão de expressar isto publicamente. Donde a hipocrisia; o que parece fluir de duas forças naturais: a tendência a injuriar – a divulgar os pecados dos outros – e a tendência a disfarçar os próprios pecados.

Talvez o desânimo mais legítimo provocado pelo altruísmo recíproco é que é uma designação imprópria. Enquanto na seleção de parentesco o “objetivo” de nossos genes é realmente ajudar outro organismo, no altruísmo recíproco o objetivo é deixar aquele organismo sob a impressão de que o ajudamos; a simples impressão é suficiente para suscitar a retribuição.

Do Livro Animal Moral (Robert Wright)