A
seguir, as três concepções de amor oferecidas por grandes mestres
espirituais: Eros (Platão), Phília (Aristóteles) e Ágape
(Cristo).
AMOR EROS (PLATÃO): O primeiro, proposto por Platão, é o amor-desejo. O chamado “amor platônico”, ou Eros, baseia-se na falta: amamos enquanto desejamos o que não temos. Quando o desejo cessa, o amor também desaparece. Esse movimento pode ser visto no trabalho: o desempregado deseja emprego; quando o consegue, logo deseja férias.
É preciso renovar o desejo para manter o Eros vivo. O mundo corporativo, com jargões como “sangue nos olhos”, expressa bem essa lógica. Segundo Platão, “ama-se o que não se tem”. Mas uma vida guiada apenas pelo desejo não basta, e foi isso que levou Aristóteles a propor outra concepção.
AMOR PHÍLIA (ARISTÓTELES): Para Aristóteles, o amor é Phília, o vínculo com o que já se possui: os filhos, os amigos, o trabalho. É a alegria pela presença e não pela falta. Enquanto Eros deseja, a Phília se encanta com o que já é realidade. Esse amor é raro no mundo corporativo. O “happy hour” sugere que felicidade e trabalho não combinam, como se a alegria estivesse fora do ofício. O desafio é transformar o desejo (Eros) em alegria (Phília), encontrando prazer no que já se faz.
A alegria é a passagem para um estado mais potente do ser. Hobbes chamou de conatus, Spinoza de potência, Nietzsche de vontade, Bergson de elan vital. Eu a chamo de tesão pela vida. Essa energia cresce em pequenos rituais: acordar, tomar café, dar aula. Encantar-se com o que se faz é fundamental, pois passamos grande parte da vida no trabalho. Quem odeia sua atividade dificilmente será feliz.
Não existem fórmulas universais. Gurus vendem receitas fáceis, mas a vida é mais complexa. Cada um, precisa descobrir seu próprio caminho. Por isso, a melhor orientação continua sendo: “conhece-te a ti mesmo.”
Platão e Aristóteles não se excluem. É possível desejar o que falta (Eros) e alegrar-se com o que já se tem (Phília). Infelizmente, fomos treinados apenas para desejar, não para viver a alegria da presença.
AMOR ÁGAPE (CRISTO): O terceiro tipo é o Ágape, o amor de Cristo. Nele, o foco não é o desejo de quem ama (Eros), nem a alegria de quem possui (Phília), mas a alegria do amado. O centro do afeto não está em quem ama, mas naquele que é amado.
Exemplo: o amor dos pais pelos filhos ou a satisfação do professor ao ver o aluno aprender. O amante se afasta para que o amado avance. No Eros, o que importa é meu desejo; na Phília, minha alegria; no Ágape, a alegria do outro.
Não devemos, porém, escolher apenas um. É saudável desejar, alegrar-se e compartilhar essa alegria, diminuindo o sofrimento de quem está ao lado. Sem ter com quem comemorar, até a alegria pessoal se esvai.
Com esses três amores – desejar o que falta, alegrar-se com o que se tem e proporcionar alegria ao outro – a vida ganha mais equilíbrio. Ainda assim, o amor não resolve tudo: convivemos com muitos, mas amamos poucos.
Baseado em transcrição de textos e vídeos do professor Clóvis de Barros Filho, filósofo e docente de Ética na Escola de Comunicações e Artes da USP (ECA/USP).